Música

Ouça o Kuduro de Lisboa do Diamond Bass

Assim como a minha, a sua e a nossa infância, a memória de um ex-guri brasileiro deve estar repleta de imagens da mãe trabalhando ou preparando sua comida favorita, provavelmente ao som do rádio ou algum talk-show flopado na TV: samba, brega, sertanejo, tudo está no cardápio. Bem, foi quase assim que o português Joel Ildefonso, também conhecido pelo seu apelido Diamond Bass, cresceu ouvindo Fafá de Belém e MPB com a ajuda da sua mãe. Só que aqui, tais memórias acontecem pelas ruas e casas de Lisboa.

Após anos de residências em clubes portugueses e dois EP’s lançados pelo selo do Buraka Som Sistema, Enchufada, ele finalmente põe os pés no Brasil, onde se apresenta nessa sexta-feira (17) como atração da festa Avalanche Tropical, no Bar Secreto, em São Paulo. A festa ainda terá o sheik do Bahia Bass, Mauro Telefunksoul, em clima de lançamento do EP Afroxé Ba$, ao lado de Dago, Serginho e um DJ set da galera do Holger.

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O que houve com o zouk bass?

Durante a preparação do seu terceiro EP e aproveitando uma bela vista no Rio de Janeiro, o Joel trocou uma ideia com a gente sobre sua carreira e suas viagens, a cena club de Lisboa, e sobre sua principal influência no momento, o kuduro. Sua facilidade em reimaginar o gênero é tanta que, em apenas três dias, ele criou uma faixa exclusiva para nós, a “Lisboa”, que você pode ouvir e fazer o download aqui. E a água de coco, já pegou também?

THUMP: Você já esteve no Brasil antes? O que está achando? Já teve contato com a música brasileira?
Joel Ildefonso
: Esta é a minha primeira vez no Brasil, cheguei faz apenas três semanas. Estou adorando a experiência, as pessoas, o clima, e a praia também. O meu contato inicial com música brasileira foi através da minha mãe que era grande fã da Fá Fá de Belém e outros similares, a partir daí bossa nova e MPB sempre rolaram em bares e boates de Lisboa, portanto, de uma maneira ou de outra, [a música brasileira] sempre esteve presente.

Como surgiu a oportunidade de fazer trabalhos com o Branko e a Enchufada? Recentemente ele esteve aqui gravando com vários artistas para o seu novo álbum. O que acha do trabalho dele? Quais outros artistas ou selos de Portugal você acha que merecem destaques atualmente?
A Enchufada surgiu de um contacto com o João (na altura ainda Jwo) e, muito cedo, logo meio ano depois de me iniciar na produção, editamos dois EPs e um single e tenho tocado bastante com o Branko e o Buraka na nossa residência na boate Lux, em Lisboa, e no Optimus Alive (Festival).

O trabalho do João enquanto Buraka Som Sistema na altura do Black Diamond me influenciou bastante.

Em relação aos selos, acho que Lisboa ganhou o primeiro selo de verdade com a chegada da Principe Discos, é uma editora forte e coesa que trabalha realmente os artistas deles, aposta muito na publicidade de cada um, e está a exportar a batida de Lisboa para a Europa.

Ajuda muito o facto do Marfox estar a fazer a parte de curadoria, admiro o trabalho dele faz um tempo, e é uma pessoa interessada em promover a música que está a ser feita em Lisboa.

Qual equipamento e software você usa para produzir?
Ableton Live.

Há quanto tempo começou a produzir? O que veio primeiro, DJing ou produção? E o que irá fazer no Avalanche Tropical, DJ set ou Live?
Comecei com produção em 2010, mas antes tinha já tinha algum tempo como DJ em Lisboa. O set para o Avalanche Tropical será a minha estreia no Brasil, será especial para mim mostrar um tipo de som que, pelo que sei, não está presente na cena aqui. [O set] será repleto de kuduro e house feito em Lisboa, muito material original não editado, cheio de batida e energia, para dançar mesmo!

O kuduro que fazemos não é o kuduro angolano, mas sim o kuduro de Lisboa.

Prepara e Lwanda, seus últimos EPs foram lançados pela Enchufada, certo? Você está trabalhando em algum outro projeto?
Estou preparando o lançamento do meu próximo EP que terá mais ou menos cinco faixas. Quero mostrar para os brasileiros que o kuduro veio para ficar e que não é só mais um hit de verão. Pretendo fazer músicas com produtores brasileiros e explorar também a relação entre o kuduro e o funk que é um símbolo e uma forma de expressão da cultura brasileira.

Achei interessante como os seus primeiros trabalhos tinham uma pegada mais UK funky, mas parece que lentamente o kuduro tem se cristalizado nas suas produções. É um gênero muito presente em Portugal, ou apenas uma obsessão sua como produtor?
É um gênero que está a ganhar muita força em Lisboa faz uns anos, mas a pegada mais atual nas minhas produções tem a ver com o [meu] crescimento como produtor e um repensar do que quero transmitir para fora quando faço um DJ set ou quando edito uma música. Foi uma questão de colocar uma identidade cultural (neste caso de Lisboa) nos meus beats. O kuduro que fazemos não é o kuduro angolano, mas sim o kuduro de Lisboa.

Li em outra entrevista na internet que há um tempo você estava morando em Londres. Ainda mora por lá? E o que acha da cena bass de lá? Tenho acompanhado muito a cena de grime, mais especificamente o que alguns produtores de Ghana têm feito por lá, criando um afro-house que acho tão explosivo quanto o house da Principe Discos, de Lisboa.
Morei por três anos em Londres, a cena bass por lá está meio parada agora, existem muitas festas de deep house e os sets são todos iguais. Falta originalidade como o grime trazia para a cena anos atrás.

E o que você quis transmitir através dessa faixa que você nos enviou, “Lisboa”?
A música que estou desenvolvendo é um original de batida, bem o som de Lisboa, mistura a essência do kuduro trazido de Angola com o house europeu.

O que acha de fazer uma pequena lista com cinco faixas de kuduro de sua preferência, novas ou clássicas, para ilustrar melhor o que é o gênero para você?
1) Kalemba – Buraka Som Sistema

2) DJ Marfox – Drift Furioso (remix)

3) Esse Toque é Nosso – Mastiksoul

4) Açúcar – Kostuleta

5) Flow 212 – Ao Ritmo Do Meu Flow

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