A cobertura do Electric Daisy Carnival Brasil 2015 no THUMP é patrocinada pela Smirnoff Ice Storm.
Num (levemente irresponsável) arroubo de Mãe Dinah, a previsão no mundo da dance music é de que as multidões de jovens sem camisa e/ou com cocar e pirulito na boca que tem se aglomerado nos últimos três anos em festivais Brasil afora tendem a ser ainda maiores, apesar da crise. Era isso que falávamos na semana passada, quando mediei um painel da edição paulistana do Rio Music Conference procurando diagnosticar o fenômeno EDM no Brasil. A conclusão foi, mais ou menos, que o gênero parece seguir mais forte do que nunca, e que você, fã ou não do som, tem visto a estética prog house/dubstep americano se estabelecer como gênero não só da música eletrônica, mas do mundo pop como um todo.
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E a primeira edição do EDC Brasil no último fim de semana confirmou o prenúncio da bola de cristal. Segundo a organização do evento — Insomniac e Time4Fun —, cerca de 90 mil pessoas passaram pelo Autódromo de Interlagos na sexta e sábado, sendo que o UOL deu que foram umas 50 mil só no último e mais cheio dia.
A essa altura do campeonato, já dá para afirmar com alguma convicção que chuva e lama não são suficientes para cortar a transa do fã brasileiro de EDM. Se compararmos com a última XXXperience (ou, se abrirmos o campo de relação para “festivais” e citarmos o Brahma Valley) por exemplo, a chuva intermitente que rolou no sábado e forçou uma rápida paralisação dos palcos devido aos raios e trovões foi fichinha. Não estou falando que não atrapalhou, mas a impressão é de que mesmo a novíssima geração de ravers que o Tomorrowland Brasil criou já aprendeu a aceitar a chuva, a lama, as fichinhas de papel e as meias molhadas como parte intrínseca da experiência do festival. O mesmo serve para os perrengues de entrada no festival (que também foram relativamente tranquilos no EDC), preços de ingressos e rangos/bebidas dentro da festa. Na organização geral, dá para dizer que o EDC foi “na medida”: nem perfeito, nem catástrofe, nem vazio, nem lotadásso. Quem foi preparado não precisou dar aquele abraço amargo na inimiga número da alegria coletiva: a frustração.
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Os palcos eram bonitos e a vista área do Autódromo de Interlagos deixava boquiaberto mesmo o mais cínico dos roqueiros emburrados. Lógico, o destaque ficou para o palco principal kineticFIELD com o seu ar de Desfile do Grupo Especial das Escolas de Samba do Rio de Janeiro high tech, com as corujonas e seu intenso olhar LED. Os sons dos palcos foram bem projetados e não interferiam entre si, problema frequente das raves de uma forma geral. Os brinquedos à lá Playcenter também foram um atrativo bacana da festa.
E, quanto à música, faço apenas duas observações: o EDC é EDM e é isso aí, não tem conversa. O neonGARDEN, com um lineup um tanto mais adulto e techno, não chegou a lotar em nenhum dos dois dias (apesar de sets incríveis como o do Jamie Jones e Magician) e o bassPOD, dedicado aos graves, reuniu os mais jovens acelerados com um som que variava entre dubstep, IDM, glitch hop, trap e outras vertentes mais saw-tooth synth distorcidão. Mas a imensa maioria do público não arredou pé do kineticFIELD, dançando e cantando hit atrás hit, pulando e gritando em TODOS os drops, com momentos de puro êxtase comunal com Martin Garrix, Tiësto no primeiro dia, e Steve Aoki (prejudicado pelo chuvão durante o seu set), Above & Beyond e, ele, Skrillex.
O baixinho merece um parágrafo só pra ele: Ter aberto o set com o lendário “Rap das Armas” do Cidinho e Doca, além de “Bololo Hahaha” do MC Bin Laden e o sertanejão pop “Eu Quero Tchu, Eu Quero Tchá” deixou muita gente puta da vida, por que, afinal, “quem quer ouvir um sertanejo vai na balada de sertanejo, quem quer ouvir funk vai na balada de funk”, como MUITOS comentaram por aí nas redes sociais. Quem não se sentiu lesado pela sequestro de brisa/choque de realidade que é ver um DJ gringo pondo na pista um som popularzão local defendeu o Sonny, numa linha meio “pô, muito legal, o cara pesquisou a cultura do país, usou camisa do campeão do Campeonato Brasileiro [Corinthians], falou português só pra agradar a galera”.
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Mas a verdade é que quem acompanha um pouquinho mais de perto o cara sabe que o funk carioca (ou baile funk, no termo dos gringos) já faz parte do vocabulário do Skrillex há bastante tempo, e não só para as gigs no Brasil. Ele meteu, por exemplo, “Bagulho Doido” do Omulu com o DJ Comrade na BBC em em novembro de 2014. E nem precisa de muito Google para ver outras tantas investidas do DJ em ritmos locais. Aliás, é justamente essa janela estética para o global bass que faz dele um dos mais respeitáveis e talentosos produtores do EDM americano. E, outra coisa que vale a pena lembrar é que num passado não muito distante, uma das coisas que transformava um DJ qualquer em um DJ fera era o de conseguir fazer com que a simples escolha da próxima música fosse um desafio, não só para ele, mas até para o público — e, querendo ou não, dá um alívio saber que ainda há algo além do constante e sinuoso crescendo/diminuendo dos drops de grave. E, venhamos e convenhamos, no pop, tudo pode.
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No fim das contas, a polemiquinha de gênero deu um tempero especial à primeira edição do festival no Brasil, que foi muito bacana e que já tem o seu lugar especial na agenda dos eventos de música eletrônica do país. E, conseguiu fazer desse espaço algo único, tornando mais complicada a batida comparação com o Tomorrowland Brasil, que tem uma variedade de gêneros muito maior — a parcela de EDM nele é importante, mas ela acaba ficando difusa dentro do imenso lineup. Já o EDC faz a sintonia fina para captar a mais jovem e encorpada frequência do EDM. E isso é ótimo.
E os ravers já podem começar a juntar os plaquês de 100: já tem notícia por aí confirmando não-oficialmente a edição de 2016 e outras duas para os anos seguintes, tudo em São Paulo também. Já podemos começar a apostar em qual vai ser a surpresa do set do Skrillex. Talvez um Benny e Brown? “Baile de Favela“? Camiseta do Vasco?
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