Um vídeo que viralizou nas redes nesta quinta (24), dum canal chamado Hyped Content Brasil, em que se vê uma galerinha jovem dando o preço do seu “outfit”, traz à tona a única verdadeira lei do street wear, que é assim: quando os comédias começam a usar, já era, flopou.
Jovens, é péssimo que um não-jovem tenha que falar isso pra vocês, mas: estilo não se compra. Estilo pouco tem a ver com o preço ou a marca das coisas. É uma parada de atitude, natural, espontânea. Isto significa que se você não passa de um Zé Mané, pode usar as roupas mais caras do rolê que nada vai mudar, você vai continuar sendo um Zé Mané. E chamar visual de “outfit” é osso.
Videos by VICE
Neste vídeo em questão (link abaixo), talvez seja menos sobre quanto dá a soma da sua roupa e mais a futilidade do modo de agir e pensar. Trajar marcas como as mostradas, Gucci, Prada etc., pode ser mérito de conquistas, de trabalho, de alguém que sai em busca do melhor, normal. Foda é ver uma garotada privilegiada banalizando o sentido disso tudo num país quebrado como o nosso, e ainda beneficiada pelo financiamento familiar – que compõe a maior parte do casting do vídeo citado, que inclusive já foi retirado do canal YouTube (se pá por medo de se tornar uma lista de sequestráveis?). Teve quem salvou o conteúdo e postou no Facebook, ó só:
Vendo por esse lado, vamos pegar o exemplo da Supreme, uma marca historicamente de responsa mas que, pelo jeito, aqui no Brasil já virou o equivalente atual da Big Johnson nos anos 1990 (todo babaca usava).
Ser paga pau de marca é o maior atestado de falta de personalidade de todos os tempos.
Sinto informar, mas isso não é daora, bicho. Pegar horas de fila, ou ficar aqui no Brasil roendo as unhas de ansiedade esperando a encomenda chegar, pra ser apenas mais um carinha padronizado, não é legal. Então, hoje em dia, quando vejo alguém pagando de cueca ou chinelo + meia da Supreme no rolê e se achando o pimp, eu nem penso nos caras do filme Kids e em como aquela geração era super das ruas e quebrava a banca em Nova York. Não. Esse bagulho — ser paga pau de marca — é o maior atestado de falta de personalidade de todos os tempos. Típico do sujeito que quer ser reconhecido socialmente a qualquer custo, mas que ignora o básico do espírito das ruas: a autenticidade.
Não tem problema curtir uns panos, querer se vestir à pampa, se expressar pela indumentária, achar as paradas bonitas, gostar da Supreme, outras marcas. Somos humanos, logo estéticos. Mas a que ponto de imbecilidade chegamos em que ser um outdoor ambulante de logotipos faz alguma diferença na sua identidade pessoal? E que identidade é essa, de pessoas que se reconhecem entre si pela capacidade de adquirir ou colecionar produtos? Imagino alguém pensando consigo mesmo minutos antes de gravar o seu unboxing pras redes: “Eu sou foda demais, comprei mais um produto bem louco”. Que viagem. Parabéns, ganhou o prêmio de Consumidor Classe A graças aos seus pais. E agora, qual a próxima grande meta de sua vida?
Siga a VICE Brasil no Facebook, Twitter, Instagram e YouTube.