Retrato por Michael O’Shea.
O novo romance de William Gibson, Zero History, completa a trilogia que começou com Reconhecimento de Padrões, em 2003, e seguiu com Spook Country, de 2007. Nesta série, Gibson explora o tenebroso e obscuro mundo do marketing, da propaganda e da previsão de tendências. Não surpreende que seja um universo assustador.
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O marketing atingiu um nível tão insidioso de agressividade que faz com que facilmente nos sintamos como uma vítima da propaganda política militar, na qual homens em cubos de vidro decidem e sabem exatamente como funcionam nossos cérebros e controlam o que queremos o tempo todo. O que pode acontecer é eles pensarem que são mais inteligentes que a gente. William Gibson manipula perfeitamente este sentimento e nos mostra — de maneira muito plausível, assustadoramente acurada e ainda assim divertida — o que a realidade do marketing poderia ser.
Em Hubertus Bigend, uma espécie de antagonista de seus três romances, Gibson criou o mais incrível homem do marketing. Ele é poderoso e misterioso, e procura jovens “criativos” (mais sobre isso no final da entrevista) da mesma forma que um lobo procura ovelhas. Agora, no livro Zero History, o mundo de Bigend analisa vai de encontro a outra indústria ascendente do Século XXI: o setor militar privado. E para que todo esse alarde? Calças. E o quanto isso é envolvente? Nas mãos de Gibson isso se torna uma questão de vida ou morte. A história convence qualquer um de que estamos indo em direção a um mundo onde o direito de se vender calças pseudo-militares é tão ferozmente contestado quanto limites territoriais uma vez eram.
Vice: Eu me sinto um pouco culpado porque li seu Twitter e vi que tinha alguns posts sobre o quanto o processo de fazer entrevistas para lançamentos de livros era uma tortura para você.
William Gibson: Isso vem depois, no final da turnê. Mas você está no começo da fila [risos]. De uma forma ou de outra, é a primeira vez que estou falando sobre vários assuntos aqui, e eu ainda não fui forçado, pela repetição, a mudar sem razão alguma aquilo que estou dizendo.
Espero que terminemos isso antes disso acontecer. Nos seus últimos três livros você desenvolveu um mundo no qual o marketing é tratado como a espionagem. Existem agentes e agentes duplos, intriga atrás de intriga, mas tudo isso a serviço de algo, como uma nova linha de calças jeans. Esse tipo de abordagem é intencionalmente satírica? Ou é a mais próxima da forma como você vê a realidade?
Se algo realmente é satírico, eu não gosto. Não tem como ser satírico e realmente bom. O que gosto é algo próximo de uma descrição antropológica e útil que possui uma ponta satírica bem perspicaz. A sátira, costumeiramente em nossa cultura, extrapola o exagero, muito além de onde a ponta satírica começa a incomodar, e de repente você está apenas tirando sarro disso. Mas outras culturas, como a britânica, compreendem isso completamente. Você quer estar no limite da sátira, onde realmente incomoda, mas não sabe se estão tirando uma com a sua cara ou não.
Um exemplo muito simples dessa diferença entre a sátira britânica e a nossa são as duas versões do The Office. Na edição britânica existe um lado humano. Pode ser algo realmente tocante. Já a versão norte-americana é muito mais estabanada, e qualquer sentimento de humanidade que lá tentam expor dá pena.
Sim, com certeza. O The Office original é comovente, completamente comovente. E a questão não é que não consigamos fazer sátira dessa maneira, mas esse tipo de trabalho não tem uma exposição tradicional na cultura norte-americana como tem na britânica. Alguns americanos chegam a se assustar quando descobrem esse tipo de sátira.
Talvez seja porque a maioria das pessoas preferem saber exatamente o que vai receber. Eles não gostam de se sentir confusos sobre o gênero ou a intenção da obra.
Acredito que seja completamente incapaz de ser absolutamente fiel a um gênero ou forma. Às vezes sinto pena de alguém que compra meu livro no aeroporto de Atlanta quando o que a pessoa quer ler é algo como Ludlum ou Clancy. Ela entra em um avião para o outro lado do mundo e tudo o que tem pra ler é essa merda sobre calças jeans chiques.
Mas conforme a narrativa dos seus três últimos livros vão se revelando, você mostra algumas coisas bem tradicionais do gênero de ação. Nos livros tem rifles de caça e porradaria tipo luta-livre.
É, tem algumas coisas assim. Não seria legal se não colocasse uns ingredientes básicos de espionagem.
Mas é claro que não tem o suficiente para as pessoas que na verdade gostariam de ler um livro do Lee Child.
Eu gosto de algo que esteja na borda, no limite entre um romance de espionagem e algo que fale sobre moda, ou marketing ou qualquer outra coisa.
Você acabou de usar a palavra “antropológica” e acho que isso soa realmente correto pra mim em relação à forma que você aborda a cultura nos seus livros.
Isso sou eu tentando entender territórios com os quais não esteja completamente familizaridado.
Mas também tem coisas como o marketing, que permeia a vida de todos de forma muito intensa.
Pois é. Todo mundo vive isso. Às vezes parece ser tudo o que a cultura faz. E parece reproduzir cópias cada vez mais robustas de si mesma. Por exemplo, hoje em dia o melhor empresário que existe é aquele que oferece o marketing do marketing do makerting [risos].
O que é amedrontador e me faz lembrar do personagem que está em todos esses livros: o gênio do marketing Hubertus Bigend. No final de Zero History você se refere a ele quase como um vilão do James Bond, que é algo que eu pensei também. Ele é um tipo muito diferente, com certeza, mas divide características com esses vilões. Tem também uma faceta um tanto obscura desse personagem, porque eu nunca consigo compreender o quanto você acha que ele é maldoso.
Aos poucos ele vai mostrando as características de um vilão do James Bond. Mas acontece que esses vilões não fazem nenhum sentido emocional. Os personagens são como imagens em tamanho real de papelão no universo caricato e infantilizado do Ian Fleming.
Verdade.
E no universo talvez igualmente caricato e infatilizado de William Gibson, o típico vilão do James Bond tem uma vida muito conturbada. [risos] Tipo, ele cuidou de sua mãe com luxo até ela morrer e sente orgulho de si mesmo por saber de tudo e conseguir descobrir qualquer coisa. Mas ele sempre estraga tudo e acaba derrotado, às vezes pelos seus próprios subordinados.
E o Bigend parece conseguir racionalizar tudo, tipo a derrota, que é apenas uma parte do que ele considera ser um processo.
Sabe, quando ele apareceu na minha cabeça na época que estava escrevendo o Reconhecimento de Padrões, não achei que fosse ficar tão importante. Só achava que ele meio que apareceria na história, daria para a personagem Cayce um cartão de crédito e alguma tarefa esotérica, não faria um papel tão grande no livro. Mas, como repetidamente acontece, ele roubou um pouco a cena. Era como se eu nem precisasse inventá-lo. Ele expandiu exponecialmente a partir da sua entrada e apenas fui na sua onda, e o mundo dele foi ficando maior e maior.
Cayce Pollard, do Reconhecimento de Padrões, era literalmente alérgica às logos corporativas. Milgrim, nesse mesmo livro e em Spook Country, tem uma feliz falta de percepção das marcas à sua volta. E então temos Hollis Henry, também dos últimos dois livros, que é alternativamente enojada e depois interessada pelo linguajar do mercado publicitário e pela pesquisa em que Bigend a envolveu. Esses são os heróis e as heroínas dos seus últimos três livros—pessoas que têm uma relação complicada e por vezes adversa ao marketing. É uma atitude heróica rejeitar o marketing e as marcas?
Essa não é bem a minha intenção com tudo isso. É que essa imagem acabou se tornando assim. Seria difícil para eu me identificar com uma personagem que seja… não tanto avessa às marcas, mas que não fosse imune, de uma forma geral, à publicidade.
Saquei.
Nós estamos imersos nessa coisa toda. Mas eu não acho que essa indústria me afete tanto quanto poderia. A maioria dos meus amigos também não são afetados. Por exemplo, se eu estiver andando na rua e vir uma baita propaganda da Prada, não vou pensar, “Eu tenho que comprar essa porra.” Por razões muito complexas, talvez eu nunca compre um produto deles. Não é algo que eu compraria, mas é mais fácil e mais divertido representar algum tipo de reação patológica à publicidade. Arrependimento é uma palavra muito forte, mas algo que sempre penso sobre a Cayce é que sua doença não é consistente durante a história do Pattern Recognition. A narrativa fala que ela tem uma alergia a logos e que tem uma fobia do homem da Michelin. Mas também fala que ela está mais propícia a vomitar vendo uma propaganda da Tommy Hilfiger do que qualquer outra coisa. Eu deixei as coisas acontecerem. Mas acho que estava me divertindo tanto com isso que não queria deixar nada de fora.
Já faz alguns anos que li Reconhecimento de Padrões com muita atenção, mas me lembro da história muito bem. Se a Cayce fosse alérgica a todo e qualquer tipo de publicidade que encontramos no mundo, ela não poderia sair de casa. Provavelmente não conseguiria nem mesmo abrir os olhos. Eu achava que você dava a ela alergias específicas que se associavam a um tipo muito específico de marketing. Você entra no conceito de marcas secretas no Zero History. O que você vê de interessante em uma marca secreta?
Acho que os japoneses foram os pioneiros nisso. Eles entendem o conceito. É sobre um mundo onde podemos comprar o que quisermos. Se quiser comprar algo caro que lhe dê status, você pode fazê-lo na cidade do Kansas ou em qualquer lugar em Nebraska. Basta achar um shopping com uma dessas lojas de marca, entrar e comprar o que você quiser. E se você não achar, basta procurar na internet e pedir para entregar na sua casa. Então nós vivemos um momento em que o conceito maligno dos itens de luxo é minado por sua própria ubiquidade. Quando de repente você tem várias pessoas exibindo esses itens em uma panela de pressão, como a cidade de Tóquio, o que começamos a perceber é que todos usam a mesma merda. Talvez eles sejam diferenciados por sua habilidade de gastar o mesmo que um carro pequeno em uma calça, mas todos vestem a mesma calça. Então a idéia original de exclusividade é jogada pela janela. A ideia da marca secreta diz, “Você tem muito dinheiro, mas não pode ter essas merdas aqui porque não tem a informação correta.” De repente se torna algo exclusivo novamente. E o conceito não precisa ser aplicado a itens de luxo caros. Isso funciona porque dá às pessoas uma poderosa sensação de envolvimento individual.
É uma conexão muito mais íntima.
É uma conexão muito mais íntima da mesma forma em que finais felizes na vida, e talvez na ficção também, começam quando se decide mostrar os créditos. [risos] Se você seguir uma pessoa por trás de uma marca secreta por tempo o bastante, verá que ela chegará num ponto onde deverá escolher entre vender a marca para uma multinacional ou então escolher manter o controle da empresa, mas nunca realmente ganhar uma grana preta. Ou, como geralmente acontece, pode existir uma combinação de ambas as opções, onde o designer realmente vende sua marca para uma multinacional, mas permance na empresa.
Como um consultor, ou diretor criativo, ou qualquer outro título sem valor.
Exatamente.
Nós últimos dez anos, ou algo assim, trabalhando na mídia, já me meti mais vezes com o mundo do marketing do que gostaria. Tem uma parte no começo do Zero History que o Bigend joga uns termos de marketing pra Hollis—coisas como “transmissão de visão de marca,” “previsão de tendências” e “reconhecimento de mercado jovem.” E aí ele fala, “Os consumidores compram os produtos como se comprassem histórias.” Esse tipo de coisa é tão sintonizada com situação real que fica sendo jogada por aí. Quase acabou me causando stress pós-traumático. Você pesquisou isso tudo ou acha que esses termos estão tão inseridos na nossa cultura que agora qualquer um pode entendê-los?
Eu só sou bom mexendo no Google mesmo. Sei encontrar as coisas. Mas também tenho experiências do mundo real mesmo que consigo reconhecer o que é verdadeiro. O que normalmente me chama a atenção são as coisas totalmente e não intencionalmente pretensiosas, tanto que tenho meio que crackear isso de alguém e colocar na fala do Bigend.
Você acha que essa merda toda de marketing segue a cultura? Ou acaba a criando? Eles sempre falam que estão criando coisas, mas não acho que isso seja verdade.
Eu tenho que ir fundo nisso aí e ser bem específico. A renascida e bem sucedida marca J. Crew está criando algo? Está pelo menos aprofundando a estética copia sem escrúpulos? [risos]
Como aquele troço de brancos ricos de direita metidos a besta?
Isso. Não vai necessariamente nessa direção, mas eles fazem questão de mencionar. Eles também fazem os jeans no estilo dos usados por trabalhadores dos anos 40, e aquelas coisas militares. Tudo isso aí, só porque realmente gosto e esteve presente por toda a minha vida adulta, eu entendo bastante. Quando eu entro em uma J. Crew, me vejo cercado dessa incrivelmente complexa demonstração de citações. Mas quase nada disso é tão real ou bem feito quanto o original. É tudo simulacro. É como se eles estivessem cantando uma ária sobre essa ode ao tradicional sonho americano. Isso me fascina porque isso se tornou uma atitude tradicional na cultura norte-americana. O Ralph Lauren fez isso aí. Ele que inventou esse conceito.
A vestimenta militar em que o romance se baseia é de várias maneiras relacionadas ao jeans. É ultra militar, é ligada àquela ideia ultra-americana. Em certo momento o Bigend diz que foram os militares que inventaram as marcas, e depois outra personagem fala que os militares se encontram ‘competindo com seu próprio produto histórico, reiterado como streewear’. E aí você se refere ao fato de civis se vestirem como militares como uma forma de fantasia, e até utiliza o termo verdadeiramente militar “gear queer,” que se refere às pessoas que não estão no serviço militar mas se vestem como soldados.
“Gear queer” foi uma expressão que me interessou muito a primeira vez que a vi. É histórica. Algumas dessas coisas que se tornaram padrões clássicos e icônicos são do período pós-guerra norte-americano, os anos de se enfiar no luxo da vitória antes que a Guerra Fria entrasse em cena. Foram apenas alguns anos. Foi esse período da cultura norte-americana em que os japoneses se inspiraram, o que é interessante porque foi quando estávamos ocupando o país deles.
Então essa foi a primeira época de ouro da ‘fetichisação’ da vestimenta militar.
A partir daí foi só ladeira abaixo. Hoje em dia vemos isso em padrões da streetwear.
E na precisão quase militar da publicidade.
A indústria contemporânea de roupas, se vista também como uma guerra, se intercala com as guerras de verdade algumas vezes. E aí tem o conceito que a indústria é uma questão de vida ou morte pra algumas pessoas.
Isso é traduzido em termos literais no Zero History. É como começamos essa conversa: a idéia de tratar a moda e o marketing como o tipo de espionagem onde existe a real possibilidade de alguém perder a vida. Mas aí quando você pensa em vestimenta militar sendo usada como streetwear, a primeira coisa que vem à cabeça é como a contra-cultura usa algo como a jaqueta militar gasta. Isso vem dos protestantes do Vietnã—e dos veterenos que retornavam e se juntavam aos protestantes—e até dos metaleiros que fumam nos estacionamentos das escolas. Mas agora essa coisa da streetwear militar parece ser mais território dos soldados solitários, do cara tipio milícia. Eu me pergunto se isso tem a ver com a privatização dos serviços militares de hoje em dia, e da sensação de que qualquer pessoa pode se tornar um soldado.
É, talvez tenha a ver. Se alguém vestir apenas uma peça qualquer de vestimenta militar de alta tecnologia, fico desconfiado imediatamente. Eu atravesso a rua, mesmo que talvez seja um cara que gostaria de arranjar um trampo como ninja de shopping. Eu acho que algumas pessoas vestem essas coisas porque eles acham que as outras pessoas vão pensar que estão armados. E tipo, isso não é inteligente em vários aspectos. Especialmente se você realmente está armado. Então é um caso bem estranho de aberração.
O que é interessante em relação ao livro, e pensando sobre esse assunto, é que a roupa que acaba salvando a todos na história é uma camiseta. Você a chama de a camiseta mais feia do mundo. É especialmente desenhada para disfarçar a identidade do usuário para que ele não seja pego em nenhuma câmera de segurança. Aí tem o personagem chamado Garreth que é esse cara fodão pseudo-militar, com medo dessa camiseta porque “é perigoso saber que ela existe” e é algo “complicado demais.”
Se fosse realidade, seria realmente perigoso saber que ela existe. Ela dá ao usuário invisibilidade virtual—vídeo-invisibilidade. Seus atos não podem ser gravados. A idéia se encaixa muito bem no contexto de Londres, que é famosa por seu panorama completamente vigiado.
Essa camiseta tem alguma base na realidade?
Apenas na medida em que a descrição da camiseta surgiu instantaneamente e sem esforço do meu colega Bruce Sterling. [risos] Eu não me lembro como era exatamente a minha versão original, mas eu pedi ajuda. Ele me disse, “Você só precisa de uma camiseta muito feia.” Ele veio com essa idéia do nada, ele pressupôs que o grande tesouro da indústria das câmeras de segurança é o reconhecimento de faces. Ele disse, “Falam que ainda estão desenvolvendo esse sistema, mas eles já conseguem fazer um pouco disso—e eles não te falam o que estão desenvolvendo, de qualquer forma.” O Bruce ficou divagando como o sistema todo iria funcionar. Eu disse, “Boa, vou usar isso.” Meu histórico com o Bruce me diz que se ele consegue imaginar isso sem problemas, é porque muito provavelmente alguem já está o criando. Você viu na internet um cara que consegue usar as mãos pra fazer formatos diferentes que os sistemas de segurança reconhecem como um rosto?
Não. Isso é muito doido.
Eu acho que já tuitei isso. É realmente extraordinário. Parace aquele tipo de mágica que as pessoas fazem pra entreter a criançada. Mas você também pode mostra isso pra uma câmera e ela vai fazer, “Você é uma pessoa,” e aí te deixa passar, pensando que reconheceu o seu rosto. Essa foi coisa mais parecida com a camiseta do Zero History.
Eu curto que no Zero History o Twitter é usado como um dispositivo de comunicação secreta. Como você usa o Twitter?
Eu sigo menos de 100 pessoas. Eu usava pra conversar diariamente com alguns amigos. O resto disso, pra mim, é só um agregador de novidades extremamente poderoso. Eu escolhi seguir pessoas que são em si muito ligadas e agregadores de novidades muito ativos. E todos acabam apresentando a melhor cota de pura novidade aleatória divertida de qualquer tipo de mídia que eu tenho acesso. De vez em quando eu só dou uma olhadinha—mas não abro—os trending topics e penso, “Ah, eca. Isso é horrível. É péssimo.”
É tipo #HeidiMontag e #LadyGaga.
Isso é o oposto de novidade. É só o lixo do lugar-comum.
É o fluido viscoso da cultura. Eca!
Pois é. E você pode estar mergulhado nisso ou pode estar sentado em um excelente spray prismático de novidade triplamente filtrada.
Tinha uma conversa rolando no seu Twitter recentemente na qual você analisava a idéia das pessoas serem chamadas de “criativas.”
Pode ser algo de auto-parabenização ou pode ser um descritor extremamente impreciso.
Parece que as pessoas do marketing, como o pessoal do Bigend, usa o termo mais do que todo mundo. Realmente faz parecer que as pessoas são apenas recursos. É como se eles estivessem falando de lenha ou algo assim.
Tem um tipo de formiga em algumas colônias que não faz nada além de comer e comer. As outras formigas a alimentam e sua barriga cresce como uma esfera perfeita. É como uma reserva viva de comida. Elas são chamadas formigas-pote-de-mel. Os “criativos” me lembram um pouco delas. É como se na colônia humana esse fulano aqui produzisse novas idéias. [risos] Mas ele não produz novas idéias da mesma forma que um cientista. Tem algo a mais aí. É um tipo meio assustador de genotipagem.
Em termos simples, a que o título Zero History [histórico zerado, em inglês] se refere?
Tem a ver com o histórico de crédito do personagem Milgrim depois de uma década inteira de vício em remédios para dormir. Por não ter um cartão de crédito nem um número de telefone, ele se torna tipo um fantasma mitológico. Uma não-pessoa. “Histórico zerado” é o que os caras do arquivo da polícia falariam se você ligasse pra eles e pedisse, “Quero saber de tudo o que você tiver sobre fulano de tal.” Eles falariam, “Histórico zerado.”
Eu me pergunto se esse histórico zerado seria uma posição invejável de se estar.
Eu acho que seria uma posição complicada de se estar. Mas é interessante que, de alguma forma, dá pra estar nessa posição. É interessante que essa posição exista. Vai ser muito estranho daqui há 20 anos saber das pessoas que não puderam ser encontradas no Google. Antigamente as pessoas que apareciam no Google eram importantes de alguma maneira na indústria digital. Hoje em dia, cada vez mais, você pode encontrar todo mundo no Google. Quem será inpesquisável no Google? Os Amish? Será que alguma igreja algum dia decidirá que ser pesquisável é proibido? Tipo, você não poderá ter nenhum rastro na internet…
Se você quiser estar na graça de Deus.
Exatamente.
Só uma última coisa—eu acho interessante quando o personagem de Garreth diz que o terrorismo é quase exclusivamente sobre mostrar sua marca. Você pode explicar isso um pouco mais?
Ele diz isso sob o ponto de perspectiva das teorias de guerra assimétrica. O que nós chamamos de terrorismo é sempre relacionado a uma guerra assimétrica. Você tem um grupo pequeno sem nenhuma reputação e aí você começa a explodir ou assassinar as pessoas de um grupo grande, como um governo ou uma nação-estado ou até uma raça inteira. E você não pode simplesmente fazer isso e depois partir para o próximo ataque. Você tem que atacar e fazer sua assessoria de imprensa. “A gente acabou de explodir o seu shopping. Foi a gente.” E talvez faça isso, aí outros caras, uns cuzões que estão começando por aí na cidade, ligam pra imprensa e falam, “Nós fizemos isso! Nós explodimos o shopping!” E aí você tem que colocar o seu assessor de imprensa no telefone de novo e falar, “Não, esses caras aí só falam bosta. NÓS explodimos o shopping.” Então é sobre mostrar a marca nesse sentido. Os terroristas mais assustadores são aquele que continuam fazendo um monte de merda, mas não ligam pra ninguém. Tipo uma marca secreta do terrorismo. Isso seria muito, muito ruim, porque não teria como encontrá-los.
E também, a primeira questão que perguntam a um terrorista é, “Por quê?” Com esses caras não existe um porquê.
Puxa, nunca tinha pensado nisso antes. Isso é assustador e interessante. Essa é boa. Vou pensar nisso aí.