Estarão mesmo todos os políticos feitos uns com os outros?
Foto por European's People Party, via Wikimedia Commons

FYI.

This story is over 5 years old.

Politică

Estarão mesmo todos os políticos feitos uns com os outros?

Dez razões que levam os portugueses a não acreditarem na integridade da classe política (no geral). Esta é que é a cartilha essencial.

É comum ouvir-se dizer que "são todos iguais", ou que "só querem é tacho". Falamos, claro está, dos políticos, essa classe que, na nossa sociedade, detém um poder por vezes incomensurável. É verdade que não se pode confundir a árvore com a floresta e que há muita gente impoluta no meio e, embora diversos acontecimentos dos últimos tempos tenham contribuído para denegrir a imagem geral, também é certo que nem todos devem pagar a conta da desonestidade.

Publicidade

Sucintamente (para não soar a um aborrecido debate televisivo), descortinamos em 10 tópicos o que leva a classe a ser tão criticada. Atenção: não sabemos se estão todos feitos uns com os outros, como afirmou Paulo Azevedo sobre o alegado conluio entre o ex-Presidente do BES e o primeiro-ministro da altura, a propósito da OPA da Sonae à PT. Mas, que há "muito fumo" no ar, lá isso há.

Ainda que Portugal esteja no top 30 na lista dos países menos corruptos, este incêndio está longe de ser extinto. Obrigatório: ao leres o que aí vem, pedimos-te para que não uses a desculpa, "os outros (no estrangeiro) também o fazem". Copiar os maus exemplos nunca foi boa solução.


Vê também: "A Comissão Europeia e o lobby da indústria da Defesa"


A lista da CGD que o povo merece conhecer

Facto: os contribuintes são chamados a acudir ao buraco financeiro da Caixa Geral de Depósitos. Incrível: como aquela pessoa que faz de tudo para atrasar os papéis de divórcio, a instituição está a levar até ao limite a não entrega da lista de devedores, que ajudaram a arruinar o Banco do Estado.

É de concluir que há muita gente preocupada em ter os nomes fechados num cofre seguro, a começar pelos partidos envolvidos nas administrações que, "carinhosamente", fizeram da Caixa a sua segunda sede.

És autarca e gastaste mal os dinheiros públicos? Não te preocupes, não serás responsabilizado

Distribuir negligência encapotada de lei, é um dos exemplos-mor do actual estado do Estado e dos partidos que a aprovaram (e de um que se absteve e é, por isso, igualmente cúmplice).

Não responsabilizar uma eventual má gestão de fundos públicos, seja por parte de quem for, é um mau sinal dado por quem devia mostrar que a transparência é uma regra sagrada. Além das Câmaras, pelos vistos, também as Juntas de Freguesia "merecem" esta "impunidade". É tão agradável ser tratado como uma criança…

Publicidade

Ex-primeiro-ministro com um amigo "cinco (ou mais) estrelas"

Don't worry. Nesta alínea não temos a intenção de escarafunchar os meandros da "Operação Marquês", tão badalada em alguns órgãos de comunicação social - tal é a alegada gravidade das trafulhices -, mas sim relatar o que a maioria da população sente sobre o antigo chefe de Governo, com nome de filósofo.

Por muito que se seja um acérrimo defensor do engenheiro, é difícil compreender a sua relação com "cash". A forma como o próprio explicou, em algumas entrevistas, o empréstimo - de uma avultada quantidade de dinheiro – dado por um amigo seu, foge dos parâmetros de qualquer normalidade. E não precisas de ler religiosamente os artigos de João Miguel Tavares, ou ver o Governo Sombra (TVI), para pensares que "aqui há gato".

Jobs for the Boys and Girls

Arranjar o "empregozito" aos membros do partido, ou aos familiares, ou aos amigos dos amigos, é quase uma norma de quem domina o Estado e as suas instituições. Se as habituais nomeações políticas são legais, o resto leva-nos a pensar que o mérito é zero e o que vale é ter o cartão do partido x ou y, ou ter alguém que o "empreste" para efeitos de "tachozito".

O pior é que os concursos públicos não são imunes a este tipo de facilitismos e é uma comédia ver alguns desses concursos, com requisitos elaborados especialmente para ajudar (e reservar o lugar) a um candidato específico. Viva a República… das cunhas.

Publicidade

Os contribuintes a estancar as asneiras da Banca

A palavra imparidade entrou no dicionário dos contribuintes da pior maneira. O nosso País não é caso único, é certo, mas ver os bancos a colapsarem por falta de competência, ingerência e manganice dos seus responsáveis (incluindo a falta de regulação eficaz e inoperância do Banco de Portugal e a complacência dos políticos), custa.

Pior, é quando outros – sim, os contribuintes -, são chamados a apagar um fogo do qual não são responsáveis. Sabendo que ninguém é preso, custa a dobrar. Entretanto, a percentagem de desemprego (e a consequente emigração), sem esquecer os contratos temporários e a precariedade em postos de trabalho, que temos e fomos tendo, é alta.

Sai um arquivamento para a mesa 21

O caso BPN anda nas bocas do Mundo há uns bons anos a esta parte. Na semana passada, dois envolvidos, sobejamente conhecidos no circuito político, viram o Ministério Público arquivar o inquérito.

Apesar dos indícios irem ao encontro de um possível julgamento, o MP diz não ter conseguido reunir as provas suficientes e deixa,implicitamente, a ideia de que as duas personalidades tinham culpas no cartório – não espantaria que o Estado fosse acusado de difamação. O século XXI "tuga" no seu melhor.

"Sapos" gerados pela Geringonça

Ser político pode ser lixado, ou, se quiseres, fodido. O que se passa com os partidos de Esquerda, que sustentam a maioria parlamentar do Governo, é um tanto ou quanto semelhante a um regime de auto-censura.

Há decisões ministeriais com as quais não concordam, medidas à volta da banca que os chocam, mas, sorrateiramente, têm que fugir das críticas assertivas para não criar animosidade junto do "senhorio". Os seus eleitores devem achar menos piada a estas fugas para a frente, onde o que interessa é aguentar uma Geringonça que, por vezes, lhes custa engolir. São os "sapos" politiqueiros e não os do premiado filme Balada de um Batráquio, realizado por Leonor Teles.

Publicidade

Uma questão de ética vs. o emprego que se tem que ter

Viver da política é tão nobre como viver de qualquer outra profissão. Por outro lado, quando um político parte para novo emprego numa empresa com a qual teve anteriores relações profissionais íntimas, o chamado "período de nojo" é uma prioridade que se deve respeitar.

O grave é o conflito de interesses que parece uma evidência. Há vários exemplos polémicos com portugueses, sendo o folhetim com o ex-Presidente da Comissão Europeia (que passou a ser um funcionário de uma das maiores instituições financeiras do Mundo), o que teve maior repercussão internacional.

A vida agitada do deputado-advogado (ou será do advogado-deputado?)

Agora, imagina que há pessoas que, de manhã, estão na Assembleia a decidir as leis de um país, e à noite celebram esses votos com uma refeição junto dos que beneficiam das mesmas leis (ou seja, com os clientes dos escritórios de advogados).

Esta descrição podia ser de uma nação terceiro-mundista, mas, infelizmente, é uma promiscuidade que parece acontecer num tal país "à beira-mar plantado". É uma triste realidade sem fim à vista.

Zapping nas mil e uma fraudes

"Face Oculta", "Homeland" e "Vistos Gold" são processos judiciais com políticos envolvidos e, entre outros casos de menor mediatismo, confirmam a desconfiança em redor da classe. Podemos ter o Tribunal de Contas a fiscalizar e os seus ex-membros a dar ideias sobre o controlo das fortunas inexplicáveis; a Fundação Manuel dos Santos com iniciativas para conhecermos o País profundo; a opinião de especialistas, por exemplo, sobre as ruinosas Parcerias Público Privadas; e até os media com atenção redobrada; mas, na verdade, mesmo que se considere estarmos a viver numa democracia mais arejada – em comparação com décadas recentes -, ainda há imenso caminho a trilhar para que os abusos dos políticos diminuam.

Esperemos que o Tribunal de Contas, ao contrário de chumbos no passado, ache viável e aprove no futuro um projecto-lei para atacar o enriquecimento ilícito. É essencial. Obviamente, a corrupção está longe de ser exclusiva dos "senhores dos partidos". Basta fazeres um zapping pelas notícias, para veres que há "esquemas sombrios" noutros sectores da sociedade. Há "Madoffs" para todos os estilos, dimensões e feitios.