Se a Ermida do Restelo fosse uma pessoa, seguramente sofreria distúrbios de personalidade ou, no mínimo, algum nível de bipolaridade. Esta capela situada, adivinharam, no Restelo foi construída como miradouro para avistar os nossos navegadores há mais de 500 anos, no tempo em que éramos mesmo altamente. Hoje em dia, depois do sol se pôr, os navegadores são outros e já trazem o pau de canela de casa — se é que me faço entender. A ermida é um pequeno e escondido bairro vermelho no meio da zona chique do Restelo.
Durante o dia é o local ideal para dar uns passeios, beber umas cervejas, passear o cão, chilar com os amigos e até namorar (só para os sortudos). De noite é o local ideal para sexo agridoce, como eu lhe gosto de chamar: descomprometido, mas a pagar. Por ser um local tão curioso, decidi ir até lá dar uma volta. À noite, claro.
Cruzei-me com uma senhora chamada Lúcia que tinha alguns problemas de dentição e uns quilos a mais (há quem goste). Antes de eu conseguir dizer “está uma noite agradável, não está?”, ela entrou a matar: “então jovem, vai um beijinho ou com’é qu’é?” e as pernas até me tremeram. Nunca tinha falado com uma mulher da vida antes. E também não ia falar muito mais porque quando perguntei “há quantos anos andas nisto?”, a Lúcia ficou muito mais silenciosa.
Até compreendo, tempo é dinheiro (ainda mais nesta situação) e como eu não tinha carcanhol para gastar em conversas, saí de cena. Entrei na ermida à forasteiro e saiu-me o tiro pela culatra (curtiram o trocadilho?), quase que me gamavam a máquina. Mas primeiro, consegui dar umas voltinhas, tirar umas fotografias e conhecer melhor o sítio
Apercebi-me de que aquilo à noite é uma selva do caraças, cheio de miúdas à espera de uma boleiazinha. Mas quem vai ali à ermida são sobretudo fetichistas que curtem fazer as suas maluqueiras todas em “sítios religiosos” ou “de culto”. Se isto pegar, daqui a uns anos ainda vamos ter uma Rua das Pegas em pleno Jerónimos, o que nem seria descabido de todo: as cortes reais eram alta putalhice.