Música

Uma Playlist com a Discoteca Básica do DJ Memê

Na virada dos anos 80 para os 90, quando poucos no Brasil consideravam a hipótese de que um DJ poderia ser mais do que um mero tocador de discos atrás de uma cabine mal iluminada, alguns caras tiveram que suar para transpor esse paradigma. Certamente o carioca Memê foi um desses empenhados desbravadores. Pioneiro na disseminação da house music para o grande público, ele também colaborou com o firmamento da cultura dos remixes nas rádios FM. “Foi nessa década que o DJ começou a produzir e colar o seu nome às músicas que estouravam nas pistas e rádios, seja como remixer ou mesmo com uma música própria”, relembra o artista. “O projeto mais bem sucedido na época talvez tenha sido o C&C Music Factory, que aos olhos do público inicialmente era apenas uma banda, mas nós DJs sabíamos que era um DJ e um músico”.

Memê, que na época trampava na rádio Transamérica, ficou animado e resolveu tentar emplacar algo nessa pegada mais autoral. Tiro certo. Alguns dos discos que ele produziu, como Eu e Memê, Memê e Eu, do Lulu Santos, deram credibilidade aos DJs nacionais e abriu caminhos para um novo mercado, que passou a rivalizar em pé de igualdade com os shows de bandas. “Nesse momento, começamos a ganhar dinheiro grande. O público comparecia em hordas para nos ver, e muitos começaram a rodar o mundo para nos acompanhar. Nossas músicas nos promoviam e levavam nosso nome junto”, relembra Memê.

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Até o público brasileiro se acostumar com a ideia de curtir sons 100% autorais produzidos pelos DJs, as batidas da house impostas a músicas de grupos super famosos serviram como uma forma até educativa de apresentar o gênero. Aquele remix que o Memê fez para a faixa “Estoy Aqui”, da Shakira, certamente é uma das mais bem-sucedidas experiências nesse campo. Mas também é impossível não citar sua recriação de “Fixação”, do Kid Abelha, que chegou a ficar mais conhecida do que a versão original. Segundo Memê, “a faixa, numa versão de nove minutos, contou com uma nova sessão de metais escrita para esse fim, e também uma segunda parte inédita na canção, com um solo de guitarra jazzy por mais de três minutos. Uma epopeia disco que acabou sendo usada por anos nos shows do Kid Abelha”.

De lá pra cá, Memê vem emplacando vários hits. Seu álbum mixado de 2011, Defected In The House Brazil, ficou entre os três mais baixados no iTunes na Inglaterra. Naquele mesmo ano, uma composição sua, “Canto Pro Mar”, chegou ao primeiro lugar nos sites de vendas de mp3 em apenas três dias. Em 2008, a convite da Yoko Ono, ele remixou “Give Peace a Chance”, que foi topo da lista na parada Hot Dance, da Billboard. No momento, ele planeja um álbum com canções brasileiras, e recentemente lançou uma música sob o nome de Bazzo Ruthel pelo Traxsource.com, a principal fonte de house music no mundo. “O objetivo de assinar com outro nome era testar se o público poderia aceitar algo de minha parte que não fosse ligado ao meu nome mais conhecido. A faixa alcançou o sexto lugar entre as mais vendidas, mostrando que a música ainda interessa às pessoas, independente de quem a fez”, comemora Memê.

Outro projeto com o qual o produtor está envolvido é a festa TRIO, que reúne, além dele, outros dois dos maiores DJs em atividade no país, Mau Mau e Felipe Venâncio. Neste sábado (1º), os três se revezam na cabine do Skol Beats Factory num long-set de cinco horas, disparando o melhor da house e do techno. Pra esquentar a chapa, pedimos para o Memê uma playlist com as suas principais influências de todos os tempos. Tipo uma discoteca básica da dance music. E o resultado vocês curtem logo abaixo:

Tracklist:

1. I Feel Love: “A música produzida por Giorgio Moroder e Donna Summer”

2. Bad Luck – Harold Melvins & The Blue Notes: “A Disco produzida na Filadélfia na década de 70

3. Second Time Around: “A virada funky pós-disco de artistas como Shalamar ou o próprio Michael Jackson em ’79/’80”

4. Tears – Frankie Knuckles: “A House Music de Chicago do final da década de 80 até os anos 90”

5. Watcha Gonna Do With My Lovin’ – Inner City: “A House Music de NY da década de 90 é muito forte em mim, pois eu aprendi a produzir imitando os sons que vinham de lá”

6. Long Hot Summer Night – JT Taylor: “O R&B do final dos anos 90 até meados de 2000”

7. Ministry of Sound 2001 Set – Hernan Cattaneo:“A virada totalmente eletrônica que caracterizou os anos 2000, tendo um forte crescimento no sons mais Techy”

8. Satisfied – Noir: “O renascimento da House Music em meados dos anos 2000 pelas mãos dos alemães, franceses, Ingleses e europeus em geral”

SKOL BEATS FACTORY
Sábado, 01/11, das 23h59 às 5h.
R$30 mulher, R$40 homem.

SKOL BEATS FACTORY
Rua Pedroso de Moraes, 1036. Pinheiros, São Paulo.
Tel.: (11) 3814­7383