#Sextou. E não só é sexta-feira, como chegou o último dia de trampo antes do Carnaval. E cê acha que o rap ia chegar como? Na bola de meia, com a long neck na mão pós-18h? Tá de chapéu, meu chapa. O rap tá mais ligeiro do que você pensa e o Rincon Sapiência é a prova disso com o lançamento do clipe de “Meu Bloco”, que você pode ver com aquela exclusividade aqui no Noisey.
Gravado no barracão da Pérola Negra, o clipe foi filmado em plano-sequência, realizado pela Boia Fria Produções e teve direção do Jorge Dayeh. No som, o Rincon usa uma pá de metáfora citando elementos do carnaval da avenida. “Nóis vem pesado como rei Momo”, manda o rapper logo no começo da música, que ele define como um afrorap. “Acho que ultimamente o meu trabalho tem ido mais além do que você se basear no jazz, no soul, no funk norte-americano, no rock — são todas influências que eu gosto — mas é você ir um pouco mais pra trás dessas músicas. Eu vejo isso no reggae, no dancehall, no funk brasileiro, essa africanidade que vai muito mais pra trás. Ultimamente, a base do meu rap tem sido o rock, porém, o rock africano, o afrobeat, o funk brasileiro — que é uma manifestação extremamente afro em seu ritmo e em sua forma de cantar”, explica o rapper, que continua. “Eu diria que esse é o gênero de uma escola de rap que eu venho gradativamente construindo, que vem trazendo uma outra identidade que não seja a identidade europeia e norte-americana dentro do rap. Vejo o afrorap como uma escola nova brasileira, humildemente encabeçada por mim, que vem criando, construindo seu caminho dentro do cenário.”
Videos by VICE
Apesar de atualmente estar meio distante das escolas, o Rincon curte o rolê. Pra gente ter uma ideia, nos anos 2000, ele sabia um monte de samba enredo de cabeça. Se curte alguma escola? Ele dá a letra. “Tenho algumas afinidades. Uma delas é a Vai-Vai, porque talvez seja dos ensaios os que eu mais frequente. Não vou sempre, mas é onde eu mais colo e onde eu mais já colei. Na minha época de freestyle na Galeria Olido, às quintas, eu saia de um curso, ia pra Olido, freestylava até não querer mais, saia de lá, ia pra Vai-Vai e depois pegava o negreiro pra Cohab, era um ritual”, lembra o MC, que também tem um carinho pela Nenê da Vila Matilde em SP e curte duas escolas do Rio. “No Rio eu tenho uma simpatia também pela Portela, por causa do Paulinho da Viola, e pela Mangueira, por causa do Mussum. Sou aquele cara de vários times, saca?”
Alguém pode parar e falar “ah, mas carnaval não é só na avenida”. A gente concorda. Tem bloco de rua também que voltou a estar em alta tem um tempo aqui em São Paulo. Pelo carnaval ter essa raiz negra — da música à festa — o Rincon acredita que existe sim uma relação entre a retomada dos blocos de rua e o empoderamento dos negros. “Essa alta dos blocos de rua trouxe novamente a manifestação afro, isso nas suas cantigas, a sua forma de dançar, sua forma de se divertir. Estive no Aparelha Luzia essa semana de carnaval, tava a coisa mais linda e tinha todo esse caráter afro. Eu acho que esse empoderamento do povo preto tem tudo a ver também com a alta dos blocos de rua, com certeza.”
Assista ao clipe de “Meu Bloco” abaixo.
Ficha técnica
Realização: Boia Fria Produções
Produção de vídeo: CãoComAsas
Direção: Jorge Dayeh (Anão)
Assistente de direção: Fernanda Calil
Direção de fotografia: Fernando Augusto
Roteiro: Jorge Dayeh (Anão)
Movimento: Daniel Santi
Assistente de câmera: Laurent Refalo
Coordenação de produção: Fernanda Calil
Produção Executiva: Mariana Bergel
Produção geral: Paulo Cavalcante
Color Grading: Marcelo Krowczuk
Making Off: Hesly Silva
Agradecimentos: Mano Brown, Dinho (presidente G.R.E.S. Pérola Negra), Barracão Pérola Negra, Base 1 Locadora, Monstercam Locadora, Ale Cabelo, Jardel Itocazo, Thomas Favaro e Gustavo Tristão.