Lembra que a gente falou da Lohren Beauty? É essa aí à esquerda da foto. Conhecemos ela durante nossa visita à escola LGBT de Campinas. São dela a casa sede da iniciativa, a Pinscher sapatão e a máxima “não é o clitóris que é um pênis subdesenvolvido, o pênis que é um grande bucetão”. Como dissemos, a ida àquela casa cor-de-rosa foi muito elucidativa e cheia de brilho, boa parte graças à ela. Mas aí quando achamos que, como o pau amarrado do próprio Chesller quando ‘montado’, nada mais fosse escapar daquela transa, pasmem, erramos. Menos pelo nosso apurado senso jornalístico e mais pela incrível vontade que ela tem de falar, descobrimos que foi ela a primeira conselheira drag queen do Conselho Nacional da Juventude (e que hoje planeja se candidatar a veradora, quiçá “prefeita”) que deixou os seguranças do Planalto no chinelo — “nem pense em botar a mão de mim, que eu sou uma senhora distinta” — e conseguiu estar lado a lado com o então Presidente a República. O que ele falou pra ela e, principalmente, se ela ‘faria’ o Lula? A gente também quis saber.
Vice: Conta como foi esse encontro.
Lohren Beauty: Em 2010 eu fui eleita conselheira nacional da juventude (CNJ). Fui a primeira drag queen a ocupar esse posto. Nunca nem teve travesti, o que dirá drag queen, né? O povo já fica surtado aí, porque me ligavam e nunca sabiam se iriam falar com o Chesler ou com a Lohren. Aí fui para uma reunião do conselho lá em Brasília e tivemos um encontro com o presidente. E eu sempre fui muito porra louca, intrometida, então naquele dia fui linda, toda vestida, maravilhosa – vestido vermelho, Lula, PT, né? Sou toda ruiva, tinha que por vermelho. Mas eu não sou petista, viu gente.
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Mas você votou no Lula?
Lógico.
E na Dilma?
Também, querido. Vamos por uma mulher no poder, né? Passou da hora de tirar esses cuecas do negócio. Tem que colocar mulher lá, pra gente ver calcinha pendurada no varal.
[Risos]
Mas então… Aí a gente foi encontrar com ele. Só que tem todas aquelas formalidades que eu particularmente não gosto. Sempre fui abusada, então fui falar com ele. Me falaram: “você não vai!” E eu: “Vou! Não tô perguntando se posso ir lá falar com ele, estou só comunicando”. Aí ele tava parado falando e, quando acabou, saí de onde eu estava e fui em direção ao presidente. É que eu faço as coisas tão assim no surto que ninguém espera, então fica todo mundo olhando e pensando: “O que tá acontecendo?”. Aí fui pro lado dele, tive meus cinco minutos – quer dizer, foi um minuto de conversa, e ainda assim eu não consegui falar tudo o que eu queria.
O que você falou pra ele?
Falei pra ele dar uma olhadinha pras gays, que as bixas tavam morrendo. E não existe só hétero no Brasil, também tem homossexual – e principalmente adolescente. Aí ele falou que ia olhar sim, e tiramos foto. Numa brincadeira ele até disse que eu era “cheirosa”.
Jura? Mas como foram as palavras dele exatamente?
Ele falou: “Nunca vi uma mulher tão bem vestida vindo me encontrar”. Aí abracei, óbvio, dei meus três beijinhos – deixei minha marquinha de batom linda. Ele disse que eu tinha o mesmo cheiro da dona Marisa, e eu brinquei que devia ser por causa do laquê.
E ele?
Começo a rir, ué!
E as outras pessoas que estavam lá, como reagiram?
Ah, o povo fica em choque, né bem? Ninguém tá acostumado a ver uma drag queen no Senado. Tanto que acho que fui a primeira a passear por lá.
Mas você sabia que ia encontrar o presidente?
A gente sabia que ia encontrar, só que chegar tão perto… Não sabia que EU ia chegar tão perto.
E você já tinha pensado na roupa pra ocasião?
Ah, eu ia ver um presidente da República, então minimamente você tem que colocar uma roupinha. Não ia de jeans e camiseta, pelo amor de Deus, né? Não estudei moda à toa. Mas, então, pra entrar é aquele terrorismo todo que as pessoas fazem, de que a gente só tem cinco minutos, todo mundo tem que entrar sem celular…
Como você conseguiu entrar com o seu?
Porque só tinha segurança homem! A única mulher de bolsa era eu, as outras estavam todas de jeans com o celular no bolso. Quando o segurança pediu pra ver a minha bolsa, falei “não”. “Então a senhora não vai entrar.” “Vou! E você não vai me revistar, não vai botar a mão na minha bolsa, porque eu sou uma senhora. Quero uma segurança feminina.” “Não tem.” “Então eu vou entrar.” E entrei.
É mesmo?
Ué, não tinha segurança feminina pra me revistar, então entrei. Eles que coloquem mulheres pra colocar a mão em mim. Fui com celular e tudo.
“Não é montagem, bee.”
E ele, é cheiroso? Você faria o Lula?
Linda, várias vezes! Você acha que não? Agora não quero mais não, eu faria a Dilma, já que agora ela é que é a presidente. O negócio é chegar lá!
Se você pudesse encontrar a Dilma agora, o que diria pra ela?
Não pensei nisso ainda, sabia? Quando ela ganhou a primeira coisa que pensei foi: “quero tomar chá com a presidente”. Imagina que chique? Duas senhoras distintas tomando chá? [risos] Muito podre, né? Coisa de revista Caras. Eu e ela no castelo de Caras, já pensou?
Distintíssimas.
É que quem me conhece diz que eu me visto como uma dama da sociedade. Até porque não coloco roupas cheias de pedraria, brilhos e tal. Tem os vestidos pra usar de dia, pra hora do chá, pra um encontro com o presidente, pra balada… Eu não me visto como uma drag queen. Se é uma festa de piriguete eu me visto de piriguete. [risos]
Lohren Beauty enquanto ‘montada’ (de Chesller).
Agora que temos uma presidenta…
Não fala presidenta, não, que parece machismo.
Desculpa. Presidente. Você acha que uma drag queen pode chegar à presidência?
Pode, claro. A Lohren Beauty! 2012 vai ter a primeira drag queen vereadora [em Campinas, onde ela vive]. Isso se eu não sair candidata a prefeita.
Você já é filiado?
Se já sou viado? Claro que sou! [risos] Sou filiado sim, faz um ano tal, ao PCdoB. Imagina que chiquérrima, eu, toda montada, tendo que sair da Câmara dos Vereadores? Imagina a raiva do povo?
POR BRUNO B. SORAGGI E PEDRO FALCÃO
FOTOS: ARQUIVO PESSOAL
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