Eu tinha 17 anos quando me prescreveram Prozac para ansiedade. Eu apresentava um transtorno alimentar na época, e um psiquiatra achou que o remédio poderia reduzir minha vontade de não comer e de induzir o vômito. Não fez muito efeito, e um ano depois acabei em tratamento residencial, onde outro psiquiatra aumentou a dose.
Foi quando comecei a sentir os efeitos – desejados e indesejados. Comecei a fazer progresso suficiente com meu transtorno alimentar para sair do tratamento e ir para a faculdade. Mas também estava cansada o tempo todo apesar de dormir dez horas por noite e sempre sentia que meu cérebro estava enevoado. As partes ruins não eram tão ruins, mas as boas também não eram tão boas. Um novo psiquiatra mudou minha medicação para Zoloft, mas não senti diferença.
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Quando tinha 24, parei com o Zoloft quase acidentalmente. Mudei de cidade e não encontrei um novo psiquiatra a tempo de conseguir outra receita. Depois de alguns dias sem o remédio, decidi ver quanto tempo eu conseguia continuar sem ele. Profissionais de saúde mental não recomendam fazer isso; eles recomendam ir diminuindo a dose gradualmente – e entendo por quê. Eu estava constantemente irritada. Mas também sentia mais energia, me sentia mais alerta, acordada, mais viva. E não queria voltar a tomar a medicação.
Muita coisa mudou durante aqueles primeiros meses sem Zoloft. Minha abundância de energia me levou a me envolver com coisas como escalada e aulas de psicologia. Minha angústia recém-descoberta me fez perceber que não estava satisfeita com meu trabalho num escritório, o que marcou o começo da minha carreira como jornalista. Em seis meses, me tornei jornalista freelancer em tempo integral, surpreendendo as pessoas escrevendo um número absurdo de matérias (meu recorde é 18 num dia), muitas vezes pegando dois ou três trabalhos remotos ao mesmo tempo e trabalhando tão rápida que ninguém sabia que minha atenção estava dividida. Prosperei nesse desafio, alimentada por um medo frenético de não viver todo meu potencial. Percebi que minha ansiedade era uma arma secreta. Ela vinha da mesma fonte que minha energia.
O outro lado da onda de energia era que eu estava cada vez mais obcecada. Em dois anos sem tomar remédio, eu trabalhava compulsivamente mais de 15 horas por dia, economizando dinheiro a ponto de pular refeições e consultas médicas, e me fazendo vomitar quase todo dia. Por trás da minha fachada de perfeição e sucesso, eu secretamente rezava para alguma coisa me salvar de mim mesma, mas não sabia o quê.
Serei eternamente grata por, nessa época, ter sido convidada para uma viagem de trabalho no festival EDC Vegas, onde uma amiga mencionou casualmente que tinha ecstasy. Eu tinha lido recentemente um estudo pequeno mais impressionante do Journal of Psychopharmacology, que descobriu que 83% dos pacientes com transtorno de estresse pós-traumático que receberam MDMA em terapia assistida não apresentavam mais sintomas depois de um ano. Também li que havia estudos em andamento para tratar ansiedade social e ansiedade com doenças crônicas usando MDMA.
O que eu tinha lido sobre o potencial terapêutico do MDMA atiçou minha curiosidade, e pedi à minha amiga para experimentar. Num telhado com vista para o festival, ela colocou um pouco na minha mão (não sei quanto, mas ela disse que era uma “microdose”), e senti os efeitos quase que imediatamente. Aquela noite se tornou uma sessão de terapia sem supervisão, enquanto eu explicava para ela que meu vício em trabalho, meu transtorno alimentar e minha compulsão em economizar eram a mesma coisa: jeitos de me sentir bem comigo mesma. Mas naquele momento, vendo que eu tinha autoestima sem nenhuma daquelas coisas, percebi que não precisava realmente delas.
No dia seguinte, dispensei um cliente que me tratava mal e decidi usar meu tempo livre viajando para Ibiza com um amigo. Na primeira noite lá, tomei minha primeira dose normal de MDMA na forma de uma pílula de ecstasy. Com uma confiança que eu não possuía normalmente, abordei um cara que hoje é meu namorado, e passei o resto da viagem com ele. No avião de volta – com meus níveis de serotonina provavelmente ainda elevados por usar a droga por três noites seguidas – tive uma epifania: todas as limitações que eu via na minha vida eram autoimpostas. Decidi naquele momento sair do meu apartamento em Nova York, viajar, e investir no meu novo interesse romântico, apesar dele morar na Alemanha.
Não usei mais MDMA pelo resto de verão, mas foi como se os efeitos tivessem permanecido. Eu ainda trabalhava muito – mas mais por entusiasmo que por nervosismo – e o trabalho era pontuado por viagens, encontros e aventuras. Comecei a gastar dinheiro comigo, e parei de me fazer vomitar. Enquanto os SSRIs tinham diminuído a intensidade geral das minhas emoções, minha experiência com o MDMA tinha preservado a intensidade do meu medo e vergonha – mas acrescentado emoção e felicidade igualmente intensas.
Não é incomum uma única experiência psicodélica ter um efeito de longo prazo em alguém com ansiedade, diz James Giordano, professor de neurologia e bioquímica do Centro Médico da Universidade Georgetown. “Psicodélicos tende a deixar as redes padrões do cérebro offline, o que permite resetar os padrões neurológicos para centros e redes específicos de ativação”, ele explica. Ou, colocando em termos mais compreensíveis: “Pense num antigo disco de vinil. Pense na agulha presa num sulco, tocando uma música. Psicodélicos levantam a agulha e a colocam de volta para tocar outra faixa.”
Durante os dois anos seguintes, usei MDMA mais algumas vezes e senti benefícios similares com cogumelos e ayahuasca. Devo mencionar que essas não foram decisões sem risco. Mau uso de ecstasy pode levar a problemas para dormir, problemas urinários, e em casos severos, comprometimento cognitivo. Ter uma overdose de psicodélicos te coloca sob risco de ter uma síndrome de serotonina e uso a longo prazo de alucinógenos pode levar a flashbacks. Você também pode fazer coisas perigosas sob influência de uma droga, já que pode perder o contato com a realidade.
Nos cenários clínicos onde psicodélicos estão sendo testados para uso terapêutico, esses riscos são baixos porque a dose e a pureza da droga, assim como seu ambiente, são controlados. Infelizmente, eu não tinha acesso a esses cenários, e como muitas pessoas, me arrisquei para ganhar os benefícios de saúde mental dessas substâncias.
E os benefícios eram muitos. Psicodélicos me colocaram em contato com um lado mais compassivo e aberto que eu tinha calado com os anos. Antes de descobri-los, eu nem sabia que tinha esse lado. Eu estava focada em sucesso e dinheiro, e tomava conta de mim acima de tudo. Foi com a ayahuasca que percebi que isso vinha do medo – e que esse medo vinha de influências da sociedade e da família. Percebi que não tinha nascido ansiosa. Separar minha ansiedade de quem sou me ajudou a não ceder à ela.
Esse é outro jeito como psicodélicos podem ajudar pessoas com ansiedade: tornando pensamentos e sentimentos inconscientes conscientes, para podermos ver os padrões que estão no caminho, diz Giordano. “Quando você reseta sua rede padrão e começa a envolver um padrão distinto de cognição, esse padrão pode ser mais receptivo e responsivo a certos aspectos das emoções que não eram processados num nível consciente.”
A vida dentro da minha cabeça nem sempre é fácil. Mas no final me vi encarando duas opções: entorpecer meu medo, ou construir meu cotidiano sobre a alegria e o amor que são ainda maiores que o medo. Não tenho uma opinião sobre o que os outros devem fazer, mas entorpecer o medo não foi a resposta para mim – porque eu acabava entorpecendo o resto junto com ele.
Se nunca tivesse encontrado os psicodélicos, eu provavelmente teria continuado presa nas minhas próprias compulsões, movidas por medo de não me adequar, ou voltado para os medicamentos que calavam esses sentimentos sem realmente abordar suas raízes. Eu teria continuado dormindo. Agora estou acordada. Para o bom e o ruim. E quero sentir tudo.