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Como uma blogueira de moda plus size está redefinindo o biquíni

Por volta de 2013, quando o Instagram foi de um aplicativo de edição de fotos hipster para uma rede social estabelecida, descobri uma coisa que mudaria minha relação com meu corpo. Entre fotos com filtro sépia de cappuccinos e do pôr do sol, um sensacional biquíni de estampa de galáxia apareceu na minha página de Explorar. Era tudo que eu precisava para completar minha coleção, que na época incluía uma legging de galáxia e unhas de galáxia – essa estampa estava bombando em 2013. Mas o que me atraiu para essa roupa de praia não era a estampa. Era Gabi Gregg, a modelo negra plus size que desde então se tornou uma figura importante do mundo da moda.

Quando era mais jovem, sempre sofri com meu tamanho, e para ser honesta, ainda sofro hoje. No começo do ensino médio, eu era uma adolescente de 1,82 metro gorda sem noção de como lidar com isso. Junto com o fato de que cresci nos subúrbios do estado de Nova York, onde eu ser negra era sempre uma “coisa”, eu era desajeitada, constrangida e insegura, levada a acreditar que se você tinha barriga, usar biquíni era proibido. “É melhor você usar aquele maiô escuro de matrona e deixar as outras garotas se divertirem na areia”, eu dizia para minha eu triste e gordinha de 19 anos. Finalmente, no meu primeiro ano na faculdade, encontrei GabiFresh usando a roupa de banho que eu sempre quis, com uma milícia de outras mulheres grandes atrás dela. Mostrando as mulheres sem vergonha, com pneuzinhos, estrias e tudo mais – aquela era uma nova página de possibilidades.

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Hoje, Gregg tem ainda mais poder no mundo da moda plus-size. Não só suas postagens viralizam, a transformando numa celebridade, mas ela também lançou a Premme, um marca própria de roupas. Depois do lançamento de uma nova coleção com a Swimsuits for All em janeiro, liguei para ela para falar sobre sua jornada na moda como uma mulher gorda negra.

Foto por Elton Anderson para a Premme.

“Frequentei uma escola particular onde a maioria das pessoas eram ricas, brancas e magras. E eu não era nenhuma dessas coisas”, Gregg me disse por telefone. Apesar de ter bastante confiança quando era adolescente, ela admite ter sofrido com a ideia de que perder peso era a única resposta. “Minha mãe é uma mulher superforte que instilou um senso de confiança em mim, mas ela também sofria com o próprio peso. Ela sempre falou sobre como se sentia mal com seu corpo. Eu dizia que ela era linda, e que ela devia se sentir bem consigo mesma, mesmo sendo criança.”

A influencer disse que nunca experimentou “bullying direto” por causa de sua cor e tamanho, mas como uma mulher negra gorda, são as microagressões diárias que ameaçam fazer ela se sentir inadequada. “Nunca disseram na minha cara que eu era nojenta nem nada assim, mas tem essa falta de convite para desfiles, onde estou sentada duas ou três fileiras atrás de alguém que tem menos influência que eu, ou ser ignorada em eventos, ou pessoas que não prestam atenção em mim ou não falam comigo até descobrirem quantos seguidores eu tenho.” Gregg começou a prestar atenção em blogues de positividade corporal logo depois de se formar em 2008, e começou o seu porque estava com dificuldades para encontrar um emprego que combinasse suas duas paixões, moda e jornalismo. Foi aí que seu conteúdo de positividade corporal começou a gerar uma resposta inesperadamente positiva.

O catalisador, que ajudou o blogue de Gregg a estourar, foi um texto de 2012 sobre encontrar e se sentir confortável num biquíni. Parte da postagem diz: “Não deixe a vergonha com o corpo te impedir de se divertir! Não espero que todo mundo se sinta confortável num biquíni, mas espero que possa inspirar algumas de vocês a experimentar. Não posso nem dizer quão libertador é se divertir sem se preocupar com o que os outros pensam”.

Foto por Ryan Michael Kelly para a SSFA.

Logo depois veio a primeira de suas cinco parcerias com a Swinsuits for All. “Quando eles me abordaram, fiquei muito surpresa, mas também grata e empolgada porque sabia que era uma grande oportunidade.” O foco da Swinsuits for All é em criar produtos diversos e atraentes que favoreçam mulheres gordas e celebrem a beleza em todos os tipos de corpos. Gregg falou sobre estar apreensiva quando fez seu primeiro lançamento, mas também que sabia que a ideia de mulheres plus-size usando biquínis era importante para a indústria. “A coisa do biquíni é especialmente influente porque é quando a maioria das mulheres se sentem inseguras – elas estão mostrando seus ‘defeitos’. As pessoas sempre me perguntam ‘Você sabia que os produtos iam esgotar? Você sabia quão grande seria seu impacto na indústria?’ Parte de mim diz não. Eu estava nervosa como qualquer uma ficaria, mas outra parte de mim sabia que era um negócio importante para as mulheres plus-size porque sou uma delas.”

Depois de várias linhas com a Swimsuits for All, uma linha Ava&Viv para a Target, uma linha de lingerie para a Playful Promises e uma horda de outras parcerias, Gregg ainda mantém a atitude forte que a ajudou a lançar sua própria marca. Frustrada em procurar roupas como uma mulher gorda, Gregg começou a Premme em 2017 com a melhor amiga e colega embaixadora plus-size Nicollette Mason. A linha delas começa com modelos de tamanho 50. A Premme prospera mostrando representações realistas de suas clientes em seu site e nas redes sociais, apresentando uma maioria de blogueiras plus-size e de positividade corporal como modelos.

Hoje, o alcance da influencer se estende muito além da média – ela tem impressionantes 577 mil seguidores no Instagram e outros 59.500 no Twitter. Mas como uma mulher plus-size negra, Gregg ainda tem problemas com aceitação. “Quando você tem identidades que se cruzam, especialmente identidades marginalizadas, é difícil saber se me sinto rejeitada ou não inclusa. Nunca sei se é por causa da minha raça ou por causa do meu tamanho, mas geralmente suponho que é pelos dois”, ela explicou. “Acho que tem essa barreira dupla para entrar na indústria da moda, quando você é negra e gorda. As duas coisas são mal vistas.”

Foto por Elton Anderson para a Premme.

No mundo da moda plus-size, explicou Gregg, tem um “tipo certo e um tipo errado de gorda”: “Há esse estigma onde devemos aceitar mulheres plus-size desde que elas pareçam com a Ashley Graham. Eu definitivamente ainda tenho privilégios dentro dessa comunidade porque tenho um corpo estilo ampulheta, porque tenho a pele mais clara e cabelo enrolado, que são coisas vistas como aceitáveis para alguns. Mas é uma questão de ter consciência desses privilégios e ao mesmo tempo tentar elevar outras pessoas lutando para que todas nós sejamos aceitas e iguais para a indústria da moda”.

Gregg quer continuar a incentivar essa conversa, lutando para que todas as suas clientes e seguidoras se sintam empoderadas e bonitas através do exemplo dela. “Como mulher negra e plus-size, me disseram a vida toda que não somos boas o suficiente, que não merecemos moda, que não ligamos para moda e se ligamos, eles não se importam com a gente.” Ela apontou várias vezes durante nossa entrevista a importância de provar que essas pessoas do contra estão erradas. “Acredite em você, não importa quantos nãos ouvir. Se você sabe que tem uma boa ideia ou um bom produtor, algo que acrescenta ao diálogo, ou algo que acrescenta um mercado onde não existe um, confie na sua intuição e insista.”

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