A relação entre a drag queen Mackaylla e nossa fotógrafa Larissa Zaidan é um caso de amor antigo. Elas se conheceram num bar. Do nada. Mackaylla estava despenteada e maravilhosa. Foi paixão à primeira vista. Há dois anos, Larissa fotografa a rotina e as intimidades da personagem interpretada por Vinícius Santana, cujo arsenal de beleza, como perucas, maquiagens, sapatos e peças customizadas, fica instalado em sua própria residência na cidade de São Paulo. Incumbimos nossa fotógrafa de uma nobre missão: passar 12 horas com sua musa antes, durante e depois da Parada do Orgulho LGBTI+ que aconteceu no último domingo (3). Saque a beleza da relação entre as duas escancarada em fotos preciosas com um pequeno relato sobre cada momento.
7h
Tá uma chuvinha desgraçada quando chego na casa do Vinícius Santana, em São Paulo. Ele me oferece um café passado na hora e bolinho de canela. Fazia já uma cota que a gente não se via, então ficamos quase uma hora só trocando ideia e nos atualizando sobre nossas vidas. Nessa hora, o Vini me fala que eu não vou acreditar na fantasia que ele montou pra ir pra Parada.
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8h
Já estamos meio atrasados e o Vini me leva até o seu ateliê. Descubro que ele vai montado de drag queen samambaia. O namorado dele, o Cezar Renzi, é cenógrafo e fez uma produção para um show em que precisou comprar essas plantas artificiais. “Ele disse que ia jogar tudo fora e eu pirei, pedi pra mim. Você tem noção quanto custa essas plantas? Só esse sacão deve ser uns R$ 500.” Aproveitando que estávamos ali, Vini deu os retoques finais na sua galocha com cola quente.
8h45
Sigo o Vinícius até o banheiro, no andar de cima de sua casa, para ele tomar uma chuveirada antes de começar a se arrumar. Ele raspa a cabeça e a barba durante o banho. Pergunto se é por causa da peça de teatro em que ele se apresenta no Sesc, mas não. “Meu cabelo estava muito ralinho, aí resolvi raspar tudo. Bem mais fácil para me montar”, conta.
9h
Em seu camarim, Vini começa a se maquiar. Na verdade, o lugar era um banheiro que ele transformou num canto de montação. A primeira coisa do checklist é a pele e, depois, apagar a sobrancelha. Isso faz toda diferença na hora dos contornos. Nessa hora ele resolve colocar um som pra gente. O primeiro disco que ele escolheu foi o novo da Elza Soares, Deus é Mulher, que eu tive a honra de fotografar para a VICE dias atrás.
10h
O processo de se montar é demorado. Tem a maquiagem, cílios, brilho, peruca, roupa. O Vinícius se empolga com a ideia de que ele vai se fantasiar de samambaia e me fala que vai caprichar na make. Tudo em tons de verde, desde o batom até o blush.
11h
Mackaylla Maria, a draq queen do Vinícius, começa a tomar forma. “Você acredita que eu nunca tive uma Lace? Não é a minha cara, sabe.” A Lace é uma peruca de cabelo natural, com um preço normalmente mais salgado. Mackaylla me fala isso porque realmente ela tem um estilo mais desgrenhado, meio drag selvagem. Isso é uma das coisas que mais me encanta nela.
11h30
O Cezinha, namorado da Mackaylla, acorda e passa mais um café pra gente. Estamos bem em cima da hora para a Parada LGBTQ, mas damos uma pausa para fumar um cigarro e comer mais um pedaço de bolo.
12h
Retoques finais. Um abraço apertado. Dessa vez o Cezar não poderá acompanhar a Mackaylla na Parada, pois ele vai trabalhar o dia inteiro. Ainda assim, ele ajuda a arrumar a fantasia, a ver se a peruca está bem posicionada, entre outros detalhes.
12h10
Mackaylla está pronta. Nessa hora, sugiro que a gente suba na laje da casa para aproveitar a luz e fazer uma fotinho dela montada.
12h30
Mal chegamos na Parada e uma galera já pede para tirar foto com a Mackaylla. Nessa hora, um cara chega nela, fala algo no ouvido e abaixa a calça para mostrar sua tatuagem.
14h
Finalmente conseguimos subir num dos trios elétricos, o do bloco que ela faz parte, o Minhoqueens. Eu já tinha ido em outras edições da Parada, mas nunca subido no trio. A quantidade de gente que dá pra ver de cima é surreal.
15h
Já na Rua da Consolação, resolvemos descer do trio para curtir o rolê em terra firme. Mackaylla dança, faz pose e tira uma pá de foto. Nessa hora, resolvemos seguir o caminho por fora do trio. Ela está em busca de seus amigos.
16h
Finalmente encontramos o amigo das antigas da Mackaylla, Kael Studart. Eles se conheceram em Brasília, quando ambos ainda moravam lá. Os dois são um dupla potente, atraem todos os olhares. Por coincidência, eu havia conhecido Kael durante o Carnaval e fotografado o menino. Nessa hora, eu estava completamente apaixonada por esses dois personagens.
17h
Mackaylla me conta que, quando montada, fica insegura quando começa a ficar bêbada. “É nessa hora que costumo voltar pra casa”, confessa. Pegamos então uma última cerveja no mercado da Praça Franklin Roosevelt e chamamos um táxi.
18h
Mackaylla bate o maior papo com o taxista durante a corrida. Ele conta que já trabalhou na Parada, vendendo cerveja. No final, meio tímido, ele pede para fazer uma foto com ela. “Não é todo dia que eu transporto gente famosa como vocês, uma fotógrafa e uma drag queen.”
19h
Fim de noite, estamos exaustas. Mackaylla tira sua fantasia e peruca e já arruma as coisas para tomar banho. Ela é organizada, coloca a “samambaia” de volta no manequim e pendura a peruca no lugar. Obrigada, Mackaylla. Passar esse tempo com você me faz ter certeza que o mundo brilha mais por causa de pessoas assim.
Mais fotos da Larissa Zaidan no Instagram. Siga a Mackaylla também.
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