Na tarde de hoje (24) o deputado federal Jean Wyllys anunciou, em entrevista à Folha, que vai abrir mão do mandato na Câmara dos Deputados em Brasília. Eleito três vezes consecutivas, sendo o primeiro (e único) parlamentar no Brasil abertamente homossexual e dedicado a representar a população LGBTQ na Câmara, declarou que irá se dedicar à carreira acadêmica e que não voltará ao Brasil.
Jean Wyllys nasceu em Alagoinhas, Bahia e antes de ficar conhecido por ser o ganhador da edição de 2005 do programa Big Brother Brasil, já possuía uma extensa passagem acadêmica em Letras, Linguísta e especialização em Direitos Humanos. Em 2010, foi eleito pela primeira vez ao cargo de deputado federal no Rio de Janeiro e durante oito anos se dedicou a ser um dos poucos (senão o único) parlamentar na Câmara dos Deputados abertamente homossexual. Wyllys apresentou projetos de lei progressistas e modernos para discutir sobre direitos à população LGBT, direitos às prostitutas e também ajudou a avançar a discussão sobre a união estável homoafetiva, reconhecida reconhecida pelo Supremo Tribunal Federal.
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Por ser quem é, Wyllys foi hostilizado inúmeras vezes enquanto trabalhava, inclusive pelo antigo parlamentar e agora Presidente da República Jair Bolsonaro que declarou para a revista Piauí que Jean não passa de “um ativista gay com projetos absurdos que não somam nada para que se valorize a família”. A bancada evangélica da Câmara, reeleita em peso em 2018, também se aliava a Bolsonaro para desmoralizar a destruir a sua carreira política. No mesmo perfil feito pela Piauí, o deputado era chamado de “Porteiro do Capeta” por alguns políticos.
Durante oito anos trazendo pautas progressistas e peitando as bancadas conservadoras da Câmara dos Deputados, Jean se tornou um alvo perfeito de políticos, cabos eleitorais e eleitores da extrema-direita que usaram seu nome para disseminar notícias falsas e atribuir falas horríveis ao deputado. O boato do “kit-gay”, um dos mais disseminados pelo presidente Bolsonaro durante sua campanha, foi colocado na conta de Wyllys, assim como uma postagem nas redes sociais falsa sugerindo que Jean defende a pedofilia. Foram cinco processos vencidos por Jean ao longo dos anos por conta de calúnias, difamações e injúria contra sua pessoa. Um deles contra o recém-eleito deputado federal Alexandre Frota, que foi o responsável pela disseminação do boato de Jean sobre pedofilia.
Porém, mesmo com as constantes ameaças, calúnias e perseguições a ponto da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) considerar que Jean estava em grave risco de vida, Jean foi eleito em 2018 para o mesmo cargo. Foi o assassinato da ex-vereadora Marielle Franco, também eleita pelo PSOL no Rio de Janeiro, e o andamento das investigações policiais que ligam familiares de um ex-PM suspeito pelo assassinato ao senador eleito Flávio Bolsonaro que fez com que Wyllys tomasse sua decisão.
Segundo ele, saiu de férias e agora não voltará mais. Não foi oficialmente expulso pelo novo governo federal, porém Wyllys pode ser considerado o primeiro exilado político do governo Bolsonaro. Uma baixa irreparável à política brasileira.
Com a renúncia de Wyllys, o cargo ficará para David Miranda que também é defensor da causa LGBTQ e é casado com Glenn Grewald, fundador do The Intercept.
Cumprindo o papel de principal assediador e bully de Wyllys, Jair Bolsonaro tuitou “Grande dia” assim que a notícia da saída do parlamentar foi publicada. Para o Brasil, esse dia é tudo menos grande.
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