Identidade

Homens contam suas lutas com a masculinidade tóxica

Como boa parte do mundo, passei oito horas da minha vida assistindo um episódio atrás do outro de Queer Eye, chorando esporadicamente e também tentando bolar um plano pra fazer amizade com todos os caras do elenco. Mas o que mais me tocou assistindo a série é como muitos dos homens que eles mostram lutam contra suas emoções e vulnerabilidades. É preciso literalmente um bando de cinco gays sensacionais pra arrancar as emoções de cada um desses barbudos e, mesmo não ficando tão surpresa assim, isso me fez pensar: por que tantos homens héteros cis ainda sofrem para demonstrar vulnerabilidade?

Vulnerabilidade, sensibilidade ou qualquer coisa considerada particularmente “feminina” raramente é encorajada nos garotos enquanto eles crescem. Em vez disso, se alinhar com certas qualidades como força, poder e agressão sexual são vistas como as características que formam um “homem de verdade”. Mas em 2018 os homens não deveriam ser excluídos da proclamação de que o patriarcado é uma bosta; porque é mesmo, e se esse patriarcado te dá um soco na cara toda vez que você quer ser um humano e mostrar emoções, não seria hora de desafiá-lo?

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A conversa sobre gênero é comum no meu grupo de amigas, mas menos comum em grupos de homens; principalmente porque a sociedade diz a eles para calarem a boca, engolirem o choro e seguirem em frente. Mas quando perguntei a amigos sobre suas experiências, descobri quantos deles cresceram para se arrepender amargamente de ter descartado ser modelo, dançar, atuar, chorar ou mesmo usar cor-de-rosa em suas vidas. Num esforço para entender e mostrar como essa masculinidade prescrita prejudica os caras também, aqui temos cinco homens se abrindo e se mostrando vulneráveis sobre os maiores problemas de gênero com que eles cresceram.

Aidan, 26 anos
Diretor de filmes, Vancouver/LA

VICE: Como foi sua infância?
Aidan: Como todo garoto, eu morria de medo de ser visto como gay ou menininha; todo mundo sabia que essas eram a antítese do que você deveria ser. Nossas vidas eram definidas em oposição à feminilidade – as duas coisas não podiam existir juntas. Ter sucesso paquerando uma mulher era um sinal de sucesso como homem, então parecia que a antítese disso era ser gay ou impotente, e isso me assustava pacas.

Você acha que as coisas são diferentes agora?
Espero que sim. E vendo meu sobrinho de seis anos e minha sobrinha de 13, há coisas diferentes na criação deles e outras que são exatamente iguais. Parte disso porque há essa apresentação, instalação ou programação inconsciente de que somos todos cúmplices. As coisas que você deveria fazer são marteladas na sua cabeça desde muito cedo. Tenho um tênis rosa e hoje meu sobrinho questionou “Por que você está usando sapato rosa?”, e eu disse “Por que não deveria, tem algum problema com rosa?”. Ele disse que “rosa é cor de menina” e eu perguntei quem disse isso. Ele respondeu “todo mundo”. Fiquei surpreso, é 2018!

E como foi na escola?
Joguei rugby porque queria jogar e porque gostava, mas não sei se começou assim. Quando eu tinha 13 anos, as pessoas sabiam na escola que eu era um violinista talentoso, e me disseram “ei, menino do violino, você vai jogar rugby ou tem medo de quebrar os dedos?”, então apareci no treino de rugby e derrubei vários garotos. Parte disso porque eu queria provar que podia fazer as duas coisas. Mas eu sentia que eram duas forças contrárias, e que o rugby tornava o violino socialmente aceitável. Ter esse equilíbrio me permitiu fazer mais coisas artísticas. Como eu tinha colocado meu pau na mesa, por assim dizer, eu podia tocar o violino ou fazer balé se eu quisesse?!

Eu também tinha cabelo comprido quando era mais novo e as pessoas me provocavam por causa disso. Mas em vez de cortar o cabelo, eu me esforçava em dobro em outras coisas para provar que não era menina. Se alguém dizia “seu cabelo parece de menina”, eu partia pra violência. Achei que podia ter essa qualidade e tomar essa decisão que não estava dentro do enquadramento “macho”, mas ao mesmo tempo justificava essa escolha me comportando exatamente dentro do paradigma.

Tem algo que você não fez e gostaria de ter feito?
Muita coisa. Meu irmão estava aprendendo dança, e meu melhor amigo também dançava, e lembro que me senti maravilhado com a confiança dele para fazer isso, que ele tinha o culhão de ser o único menino. Dançar na frente das pessoas – na frente das garotas. Lembro de nunca ter coragem de fazer isso. Mesmo numa balada pouco tempo atrás eu tinha que estar bem bêbado pra dançar, mas hoje não dou a mínima. Sempre tive inveja desse tipo de confiança; não ter medo da condenação dos outros porque você quer dançar, ser expressivo e ponto. Ainda penso “Porra! Eu queria ter feito dança”, e estou pensando em tentar agora.

E devia mesmo!
Sim! Vou voltar e reverter todos os efeitos da masculinidade tóxica… exceto todo o dano sexual e neurótico que vou ter trabalhar pro resto da vida, acho.

Foto por Jayden Miller

Kenny, 28 anos
Bartender, Vancouver

VICE: Oi, Kenny. Vamos falar sobre a sua infância. Como foi?
Kenny: Eu era bem livre para me expressar e nunca me senti realmente preso. Mas isso é barrar emoções. Emocionalmente me disseram para agir e ser de um jeito. Eu podia usar uma camiseta rosa ou andar numa bicicleta de menina, mas o lado emocional das coisas era definitivamente “você é menino e não chora. Você não é uma menininha, não faça isso”. Se eu ficava triste perto do meu pai ele nunca me deixava chorar abertamente por alguma coisa.

Então ele era uma grande força da masculinidade tóxica na sua vida?
Sim. Ele teve uma infância difícil. O pai dele era todo durão e ele cresceu pra ser durão. Era muito aquela coisa “não mostre suas emoções verdadeiras, aja como se tudo estivesse bem o tempo todo, aja como se você fosse forte, não mostre qualquer fraqueza”. Foi algo difícil de superar.

Essa masculinidade tóxica de figuras paternas mais velhas se infiltrava na sua relação com amigos?
Com meus colegas era uma coisa mais masculinidade tóxica aberta e padronizada, tipo “não use essa camiseta, você fica parecendo uma menina, não faça isso, não faça aquilo”. Lembro que no ensino fundamental, um dia eu estava usando uma camiseta vermelha bem clara, meio rosa, e um babaca veio me dizer “bela camiseta de menina” e começou a me zoar por causa disso. Lembro que fiquei no pátio da escola pensando “Qual o problema desse cara”, mas também sentindo que precisava de uma camiseta nova porque não podia usar aquela na escola, não se fossem me chamar de mulher. Definitivamente senti a pressão aí.

Pressão para ser outra pessoa?
Sim. Na escola, muitas vezes eu me sentia sufocado, principalmente com relação ao que eu vestia. Adoro roupas, adoro moda, mas só ficou mais fácil me expressar assim quando fiquei mais velho. Principalmente porque parei de me importar com o que os outros pensavam, mas também porque as pessoas estão mais abertas a alguém usando coisas diferentes, e lojas andróginas são cada vez mais comuns. Mas, quando era moleque, sempre que eu usava algo diferente alguém me zoava, e me dizia que aquilo era roupa de menina, e quando isso acontecia eu não usava aquela roupa de novo.

Então sua masculinidade tóxica te inibiu de se expressar. Você acha que essa é uma experiência comum?
Com certeza a maioria dos caras passaram por isso. Mas nunca falei sobre isso com meus amigos, nunca me ensinaram a comunicar essas dificuldades para ninguém desde cedo. A falta de comunicação é a coisa mais louca – nunca tive jeito de lidar com essas coisas. Eu só internalizava tudo, e quando consegui tirar isso de mim foi como anos de alívio. Nos momentos em que eu tinha que dizer para alguém como eu me sentia, eu não conseguia. Era quase impossível, e era tão, tão estranho. Eu tinha 21 anos e estava no meu primeiro relacionamento sério, e a garota era muito aberta e compartilhava todas essas coisas comigo. Eu ficava aterrorizado. Lembro que a gente brigava porque eu não dizia o que precisava dizer. Lembro de ter as palavras na minha cabeça, mas era como se alguém estivesse me amordaçando, como se eu tivesse que arrancar a mordaça fisicamente. As primeiras vezes eu estava com tanto medo que não parava de suar. Ainda sofro com essa merda hoje, mas melhorei bastante, não guardo mais as coisas para mim quando quero falar o que penso, mas acho que isso vai me afetar para o resto da vida. Só comecei a melhorar nos últimos oito anos.

Como é seu relacionamento com seus amigos homens agora?
Estou mais confortável com meus amigos agora, e não sei se é porque todo muito está mais conscientizado, ou se eu estou mais consciente e ficando mais confortável para me expressar. Digo para os meus amigos que amo eles todo dia e não tem vergonha nisso.

Qual foi a primeira vez em que você se sentiu confortável para dizer pra um amigo que você o amava?
Provavelmente com 20 e poucos anos. Disse para um amigo de infância que amava ele. Olhamos um pro outro e eu falei: “Porra, cara, te amo”. Ele falou: “Te amo também, meu”. Aí nos abraçamos, demos um beijo na bochecha e desde então sempre que nos vemos, a gente se abraça e diz isso e é muito foda. Lembro das emoções que senti quando isso aconteceu e meu coração quase explodiu, foi incrível… Sinto que toda amizade que fiz desde então tem sido mais forte de cara porque estou mais confortável em ter esses sentimentos, e estou aberto para a possibilidade de ser mais próximo.

Caramba, isso foi bonito, mas você sente que a masculinidade tóxica que você experimentou tem um efeito durador em você em outros momentos?
Às vezes, lá no fundo da minha cabeça, ainda ouço uma vozinha dizer “Ah, não posso fazer isso, homem não faz essas coisas”. Aí racionalizo “não, você pode fazer a porra que quiser; você é um ser humano, não importa seu sexo, faça o que te deixar confortável”. Aí faço aquela coisa e penso que sentimento escroto foi aquele. É uma questão de jogar fora essas impressões duradouras que foram infundidas em mim desde cedo.

Quando esses momentos acontecem?
Esses sentimentos se manifestam agora como medo – subconscientemente acho que tenho medo de parecer fraco. Mas sinto isso cada vez menos, e não só eu, todo mundo. Todo mundo está aprendendo como se expressar melhor. Nos últimos cinco anos especialmente, tudo está avançando para não ter nenhuma influência tóxica e se agarrar às influências positivas.

Então você usaria uma camiseta rosa hoje?
Com certeza!

Photo by Jayden Miller

Louis, 20 anos
Modelo, Vancouver/Toronto

VICE: Oi, Louis, quando você notou pela primeira vez a masculinidade prescrita?
Louis: Notei quando cheguei ao colegial. Fui obrigado a jogar futebol, eu não me importava mas o meu time tinha caras bem estranhos. Se não agisse como eles queriam, você caía na hierarquia social deles e acho que isso é parte da masculinidade tóxica; tem uma hierarquia entre os homens. Acho que é hereditário, passado de geração pra geração.

Quem estava no topo?
Os caras que eram atléticos ou tinham valor social, coisas assim. No começo, senti que eu estava na base, por causa do meu peso, mas conforme cresci e perdi peso consegui respeito, mas isso não muda o que vi daquela hierarquia.

Mas tinha alguma coisa que você não se sentia confortável fazendo?
Eu ficava constrangido por fazer música na escola, mas trabalhar como modelo rendia mais escrutínio que a música. Na música eu podia fazer rap sobre qualquer coisa, e as pessoas ainda me respeitavam. Mas ser modelo é onde eles me escrutinavam porque se alguém ouvisse que eu estava modelando com maquiagem na cara, do nada era tipo, “você é um cara estranho”. Eu ganhava bem fazendo o que faço, mas eles não respeitavam esse trabalho, eles simplesmente desrespeitavam o que achavam que acontecia.

Você chegou a pensar em desistir de ser modelo porque não era algo considerado masculino?
Eu me sentia constrangido, mas você não pode deixar isso te atrapalhar, é o equivalente a um torcedor gritando “você é muito ruim” pro LeBron e ele aceitar isso e se atrapalhar num jogo.

Então você não deixava isso te incomodar?
Não deixei isso me incomodar. Eu ouvia o que eles diziam mas não me preocupava. Mas isso me fez perguntar – quero continuar com isso ou vou sentar aqui e sentir pena de mim mesmo? Eu tinha 12 anos quando comecei a pensar sobre essa merda. Mas mesmo antes percebi que as pessoas estavam tentando me dizer do que gostar. Quando te dizem desde pequeno que azul é cor de menino e rosa é de menina, você começa a falar merda para quem não se conforma com isso.

São pequenas coisas, pequenas coisas que vão se acumulando. Não são coisas grandes, porque coisas grandes são notadas e ninguém quer que esse tipo de comportamento seja notado. Você não quer que o professor te pegue, você quer ser discreto. Eram pequenas coisas que você sabia. Eu contava para as pessoas que tinha feito ginástica olímpica e elas diziam “você fez ginástica olímpica então você é um maricas” ou riam porque eu tinha medalhas. As medalhas significavam que eu tinha conquistado algo naquele esporte, mas eles riam por quem eu era para aquele esporte. Eles não veem suas conquistas, só seu gênero e quem você deveria ser.

Photo by Marina Blake

Jerome, 25 anos
Web designer, Londres

VICE: Me conte como foi sua infância, Jerome.
Jerome: Eu era muito molecão quando era mais novo, mas também muito emocional.

Quando você ficou consciente de que emoções não eram “coisa de menino”?
No final do primário, quando parecia que era totalmente inapropriado ser emocionalmente vulnerável. E depois disso fui ficando cada vez menos presente emocionalmente. Há um diálogo sobre gênero quando você é criança e o diálogo sobre ser homem era que crianças e bebês choram e são emocionais, e para garotos chorar não é desejável. O que era desejável era força, coragem, ser alguém que tem as respostas ou conserta coisas, e isso era algo que eu via no meu pai. Ele sempre tinha uma resposta, ele tinha autoridade e era sensível, o que foi uma coisa muito importante para mim. Quando tinha sete ou oito anos eu tinha um ideal do que era um homem de verdade na sociedade e era o que eu via no meu ambiente. A imagem do homem que eu via em todo lugar tinha essas coisas. Definitivamente não alguém incerto ou vulnerável.

Você acha que isso prejudicou seu desenvolvimento?
Acho que desligar as emoções foi muito negativo para mim e para as pessoas ao meu redor. Você se torna emocionalmente pobre como resultado, e não tem uma conexão com as pessoas ao seu redor. As melhores coisas da minha vida vêm dessas conexões com as pessoas. Então quando você está distante e não se compartilha é algo muito triste. Isso te torna muito mais solitário de um jeito imperceptível.


Você era vulnerável às vezes?
Acho que eu não tinha acesso a isso. Eu só era próximo emocionalmente da minha mãe. Eu podia chorar com ela e ela respondia de maneira positiva. Enquanto crescia, fiquei muito consciente de que não me sentia capaz de ser emocionalmente vulnerável na frente do meu pai ou de outras pessoas, e aí tornei um objetivo meu ser forte e masculino, mais confiante, e interpretei essa confiança minha vida inteira. Acho que ainda interpreto, interpreto como se fosse uma necessidade.

Qual era a moeda que eu achava mais valiosa naquela época – quão poderoso eu sou? Quão melhor eu sou? Eu aceitava muitas ideias sexistas. Lembro de realmente acreditar que os homens eram melhores e lembro distintamente de me sentir incomodado com a vulnerabilidade emocional das mulheres e me sentir incomodado pela fraqueza disso. Tudo termina numa viagem de poder. Acho que a falta de vulnerabilidade resume bem isso.

Que coisas você não conseguia fazer?
Acho que expressar emoções foi a primeira coisa que fechei. Mais tarde senti que precisava me afastar das artes e de outros interesses meus porque eu teria que sustentar uma família, era uma coisa muito forte de que se você vai ser um homem, você tem que sustentar uma família e acho que isso me impediu de seguir meu coração em algumas coisas… O exemplo é um pouco arcaico, mas eu tinha essa ideia de que os garotos estavam sendo levados para trabalhos que rendiam muito dinheiro enquanto as mulheres aprendiam a costurar. Minha irmã aprendeu a costurar. Eu gostaria de ter aprendido a costurar.

Você viu masculinidade tóxica na escola também? Como era isso?
Quando tinha 16, 18 anos, eu estava num grupo de caras e éramos basicamente misóginos o tempo todo, tinha um sentimento profundo de misoginia na nossa classe. Também havia bullying e homofobia. Todos esses traços masculinos; violência, raiva e tudo isso junto significava que acabávamos com mais da metade da classe se sentindo péssima. Eu me sentia miserável e mesmo também tendo sido mau e feito bullying, fizeram isso comigo também. Os jogos que acontecem quando todo mundo está tentando ser poderoso e garantir sua autoridade e dominância do espaço são incrivelmente destrutíveis. Fico feliz de não ter passado pelo pior disso, mas tenho certeza que outros não tiveram a mesma sorte e tiveram suas vidas formadas por aquelas interações e aqueles anos.

Então o que mudou?
Uns seis anos atrás, quando tinha 19 anos, conheci minha namorada e isso me permitiu me abrir mais; ao mesmo tempo me desliguei de muitos dos meus ambientes da adolescência. Eu tinha amigos próximos, um relacionamento, e comecei a perceber que podia ser mais emocionalmente vulnerável e podia chorar, e isso podia ser uma coisa positiva. Eu estava nesse momento e queria crescer, expandir, e estava particularmente interessado em crescimento espiritual. Eu queria me entender melhor. O que definitivamente me inspirou foi querer ser mais próximo da minha namorada. Se eu não tivesse passado por esse processo, acho que não teríamos o relacionamento que temos agora.

Jesse, 22 anos
Ator, Vancouver

VICE: Jesse, como você era quando criança?
Jesse: Eu era supersensível e superemocional, nem um pouco masculino. Tive que aprender como lidar com isso, então me envolvi com esportes logo cedo. Fui atleta por um longo tempo e isso deve ter me calejado um pouco. A energia de um grupo de caras num vestiário não parecia o lugar para chorar.

Mas você é ator agora, então por que escolheu esportes quando era mais novo?
Meio que fui jogado nisso, mas eu também adorava esportes e era muito bom neles. Foi algo bom para mim, mas o hóquei pode ter atrapalhado o crescimento em termos de me expressar completamente. Com a atuação me sinto completamente livre e aprendi que não tenho que conter nada, você até é elogiado por se soltar, o que é muito legal.


E esse não era o caso com o hóquei?
Não. É um negócio supermasculino. Acho que tem a ver com a natureza do jogo; tem muita agressão e testosterona no ar, então, imagino que isso seja uma parte. O objetivo é vencer, então definitivamente há uma aversão a qualquer coisa vista como fraqueza. Mas tem um nível de emoção na mistura – mas é diferente porque vem da paixão pelo jogo, em vez de ser aberto e honesto um com o outro. Para muita gente isso funciona. Só que não era realmente eu e nunca fui bom nas brincadeiras clássicas com aqueles caras.

Todo mundo estava confortável com a coisa de macho ou era só atuação?
Parecia assim, mas eu sabia que metade do time sentia o mesmo. Você precisa aguentar. O cara do meu lado podia estar desconfortável também. Não estou criticando tudo isso, só não era algo condutivo para mim.

Você ficou nervoso em passar do hóquei para a atuação?
Claro. Antes de começar a escola de cinema, foi meu último ano jogando hóquei e lembro de estar morrendo de medo de alguém descobrir; tipo, se os caras do hóquei descobrissem que eu queria ser ator e ser estranho. E mesmo tendo idade o suficiente para não dar a mínima, ainda fiquei nervoso de contar para eles.

Você se arrepende de ter jogado hóquei por tanto tempo?
Não. Consegui essa blindagem de masculinidade e segurança através do hóquei e me sinto em dívida por isso. Muita da minha confiança vem disso, então não me arrependo dessa parte da minha vida, talvez isso tenha atrapalhado um pouco outros lados meus, mas ganhei confiança. Isso ajudou com a vida no colegial, eu tinha um círculo que eu podia usar sempre que havia alguma insegurança.

Você precisava daquela confiança da hipermasculinidade para crescer e ser uma pessoa normal?
Sim, eu acho. Acho que só estou percebendo isso agora.

O que teria acontecido se você tivesse continuado jogando?
Eu estaria empacado, principalmente emocionalmente. Ainda sou uma pessoa muito emocional. Assim que comecei a ter aulas de atuação notei que era algo que vinha muito naturalmente para mim.

Obrigado pelo papo, Jesse!
Fui bem?

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