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Passamos um mês no Minder, o Tinder muçulmano

Tem o Tinder. E tem o Tinder só para muçulmanos. Ele se chama Minder – e segundo o site, é o lugar “para muçulmanos incríveis se conhecerem”. Não achamos que somos especialmente incríveis, e um de nós nem é muçulmano. Mas isso não impediu que três funcionários da VICE Índia experimentassem o aplicativo por um mês.

Foi isso que aconteceu nas nossas vidas amorosas nesse tempo.

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Maroosha Muzaffar

Em toda minha vida, nunca tive um namorado muçulmano. A piada entre os meus amigos é que nunca vi um pênis circuncidado. Fora isso, minha mãe sempre me lembra que casar com um não muçulmano traria laanat (ruína, desgraça) para nossa família. O dilema é complicado. A busca e a saga continuam.

Então quando um dos meus colegas, Parthshri, topou com o Minder, “o lugar para muçulmanos se conhecerem” – pense no Tinder para muçulmanos – claro que topei experimentar. Finalmente, pensei comigo mesma, posso levar um muçulmano para apresentar pra minha mãe. Era tudo que eu estava esperando.

Me registrei no app com a bio e a foto mais simples. Algumas horas depois, recebi uma mensagem de parabéns do Minder. Aqui estava um aplicativo de encontros muçulmano e halal onde eu podia encontrar o momin (verdadeiro seguidor) dos meus sonhos.

Aqui vão os destaques do meu mês no Minder:

1) Flertar é uma coisa muito islâmica. Muito halal. Nada é muito direto. Mas sutil. “Você vai ser minha muazzin (a pessoa que chama as pessoas para as preces), eu vou ser seu imã (a pessoa que conduz as preces)”, dizia uma bio.

Imagem: Maroosha Muzaffar

2) Me perguntaram que sabor de muçulmano eu era. Sim, também não entendi muito bem. Sabor? O aplicativo queria saber se eu era sunita ou xiita. Eu disse “só muçulmana” e segui em frente. Como se me identificar como muçulmana não fosse suficiente.

3) E não faltou match. Quem já esteve no Tinder sabe como os caras começam as conversas. Geralmente com “Oi”. “Ei”. “E aí?” “Tudo bom?”

Se você achava que o Minder seria diferente, achou errado. Provas abaixo:

Imagem: Maroosha Muzaffar

4) As bios do pessoal são intrigantes. O Islã está por todo lado, pontuando o perfil de todo mundo. Vi um verso do Corão aqui, um Hadith (citação do Profeta) ali. Alguém estava sinceramente “Procurando uma Khadija num mundo de Kardashians”.

5) O conjunto de muçulmanos disponíveis é pequeno. Consegui mais matches em Mumbai e Bangalore que em Deli. O grupo é tão pequeno que dei match com o colega de trabalho que senta do meu lado. A frase de introdução dele: “Seus olhos são como os rios do jannah (paraíso)”.

6) As conversas perderam o gás mais cedo do que eu esperava. Não culpo os caras. Eu estava ocupada cumprindo prazos, enquanto o cara que eu mais queria conhecer provavelmente deu match com a mulher de seus sonhos e seguiu em frente.

7) Bônus: não recebi nenhuma foto de pinto.

Zeyad Masroor Khan

“Sou um momin procurando por uma muslimah (garota muçulmana)”, escrevi no meu perfil do Minder quando comecei a conta. Com meu medidor de religiosidade marcando “mais ou menos praticante”, eu estava pronto para minha busca pelo amor, dando like em garotas de Hyderabad, Mumbai e Deli. Na seção “saudação curta” digitei “Procurando por amor halal (puro)”.

As pessoas eram muito diferentes de um aplicativo de encontros normal. A bio padrão da maioria das garotas dizia simplesmente “ Assalamu alaikum (que a paz e misericórdia de Alá estejam com você)”. Mas havia exceções. Uma médica de 25 anos estava “procurando um médico para casar”, e uma garota de Mumbai afirmava “ganhar dinheiro igualmente”. Colocando de lado minha ideologia, preocupações e preferências, fiz o que a maioria dos homens faz em aplicativos de encontro – dei like em todos os perfis que apareciam.

Imagem: Zeyad Masroor Khan

Meu primeiro match aconteceu horas depois. Vamos chamá-la de Zehra*. Uma garota muito fofa e legal de Bagalore que estava procurando um “indivíduo educado e decente que consiga equilibrar deen aur duniya (a fé e o mundo)”. Finalmente era hora de usar minha melhor cantada. “Você parece uma hoori (anjo) de Alpha Centauri”. Esperei a resposta dela segurando o fôlego. “Obrigada”, ela disse. Meu charme estava funcionando. Conversamos. Ela achava que o Minder era perda de tempo, mas ainda resolveu tentar. Fiquei apaixonado por um dia.

O segundo match foi com uma garota de 24 anos de Jaipur. Usei minha segunda melhor cantada. “Seus olhos são como os rios do jannah”. Ela digitou “lol” e me bloqueou logo depois. O terceiro foi com uma garota da minha alma mater Jamia Millia Islamia. O medo da sociedade e possível julgamento dos meus amigos me obrigou a não falar com ela. A última foi minha colega Maroosha, que deu like no meu perfil por educação. Rimos disso por dias.

Imagem: Zeyad Masroor Khan

Resumindo, fracassei miseravelmente no Minder. A insistência de Zehra de que “Alá tem o melhor plano” atravancou nossas perspectivas de um encontro. Espero que ela encontre um dentista religioso para se casar.

Parthshri Arora

Como um virgem de aplicativos de encontros, eu não estava com medo de entrar no Minder – só um pouco nervoso. Nunca passei pelo desafio emocional de escolher fotos, mudar imagens, consertar a gramática da minha bio, mudar a foto de novo, etc. Mas instalei o app e fiz minha conta, com grandes esperanças no coração e já ouvindo os sinos da mesquita na minha cabeça.

Minha bio dizia “Religiosa e fisicamente flexível”, o que achei que era engraçado, e minhas fotos valiam uma nota sete, no mínimo. Coloquei no medidor Quão religioso você é? “Não religioso”. Me senti pronto: eu queria comer biryani no Eid, ser convidado para festas iftar e deixar meu pai hindu puto. Eu queria dar like, dar match e casar.

Imagem: Parthshri Arora

Um mês depois, meu aplicativo é um boulevard dos sonhos desfeitos, ninguém, nenhuma pessoa, deu match comigo. Nem uma. #KyaItnaBuraHoonMaiMaa

Meus colegas, Zeyad e Maroosha, insistiram que o Minder é um espaço muito conservador, e que minha bio devia dizer “Um introvertido pronto pra ser convertido”. Colocando toda minha fé na humanidade, tentei uma versão melhor de mim, mas estranhos na internet falaram merda dessa versão.

Sou tão feio assim? Eu deveria ter colocado “fisicamente” antes de “religiosamente” na bio? Meu nome é longo demais para as pessoas darem like? É assim que todo mundo se sente em aplicativos de encontros? Minha autoestima não se recuperou totalmente do meu último pé na bunda como eu achei que tinha? Nunca vou encontrar o amor? Não sei.

A resposta certa, segundo meus colegas, é que simplesmente esse não é o aplicativo certo para mim, o que, fora a falta de usuários na Índia (o perfil da Maroosha apareceu várias vezes), é uma receita para decepção e tristeza.

Imagem: Parthshri Arora

Mas ainda não desisti de dar likes no Minder, às vezes nas mesmas garotas. Já falei com a minha mãe sobre isso, que agora está usando suas conexões para encontrar rishtas (propostas de casamento) pra mim. E meus estimados colegas só riem na minha cara quando menciono o aplicativo.

Matéria originalmente publicada pela VICE Índia.

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