Os Barões dos Pântanos

O presidente ugandês Yoweri Museveni, o vice-presidente sul-sudanês Riek Machar, o presidente sul-sudanês Salva Kiir, o presidente da Assembleia Nacional James Wani Igga e o vice-presidente da Assembleia Nacional Daniel Awet Akot prestam condolências junto ao túmulo do líder rebelde sul-sudanês John Garang, em Djouba, no Sudão do Sul, em 21 de maio de 2010. AP Photo/Pete Muller.

A VICE foi ao Sudão ver como uma das civilizações mais ricas e avançadas durante os séculos de colonialismo na África transformou-se num país castigado por golpes de Estado, ditaduras e desmandos, mergulhado numa série de conflitos intermináveis após a independência, em 1956. Nesta série de 22 capítulos, Robert Young Pelton e o fotógrafo Tim Freccia mostram de perto o que acontece num dos maiores países do continente africano, rico em petróleo e guerras, rachado ao meio em 2011, e com um futuro incerto pela frente.

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Antigamente, a metade inferior do Sudão do Sul era conhecida como Equatória. Suas fronteiras, que praticamente não mudaram ao longo da história, são parcialmente demarcadas pelo grande pântano Sudd – que significa “barreira”. A água que se origina no Nilo Branco leva quase um ano para chegar a essas terras planas, formando um pântano que, durante a estação das chuvas, atinge um tamanho equivalente a três vezes o do estado do Rio de Janeiro. A migração de animais mais intensa e menos documentada da África ocorre nessa região, que apresenta uma das maiores concentrações de crocodilos, girafas, hipopótamos e elefantes, além de mais de 400 espécies de pássaros.

Durante a estação das chuvas, os habitantes da região se refugiam em ilhas pantanosas. São pastores que migram de acordo com as estações. Procuram por água quando a chuva cessa e voltam a suas aldeias, em terrenos mais altos, quando a estação das chuvas seguinte se aproxima. Organizados em pequenos grupos familiares que vivem de pesca, agricultura e caça, eles fazem parte dos 250 milhões de africanos que povoam a savana guineense, uma área de 600 milhões de hectares equivalente a 25 países – um vasto ecossistema maior do que metade do território do Brasil.

Esse estilo de vida, porém, tende a atrair um estranho tipo de intruso. Desde sua “descoberta”, diversos homens peculiares, com vários propósitos pessoais, tentaram “salvar” o Sudão do Sul, incluindo seus habitantes nativos.

Dinkas e nuers compunham a maioria dos grupos rebeldes ativos na região desde a primeira guerra civil sudanesa, nos anos 1950. A segunda guerra civil estourou no fim dos anos 1970 após cessar-fogo de 11 anos, pelos mesmos motivos da primeira. Contudo, dessa vez, todos os problemas pareciam ter se inflamado. No meio dos anos 2000, ambos os lados já haviam sofrido com conflitos sangrentos.

Quando George W. Bush tomou o poder nos EUA, o Sudão era um atoleiro geopolítico. A crise em Darfur estava cada vez mais tensa, e a violência e a instabilidade ameaçavam se espalhar por todo país. Anos antes, a questão da situação dos habitantes do sul do Sudão foi levada ao presidente Bush pela direita evangélica. Muitos de seus membros eram a favor de armar os rebeldes cristãos do sul para protegê-los do governo muçulmano sudanês. Foi então que, em 2011, Bush encarregou um enviado especial de participar na elaboração de uma solução para a “guerra brutal e vergonhosa” que o governo sudanês travava “contra seu próprio povo”. Com o acordo de paz e o cessar-fogo alcançados em 2005, a missão do enviado se provou um sucesso diplomático.

Segundo a revista The Atlantic, para Bush, o ocorrido era uma simples formalidade, um “problema deixado por seus antecessores” na lista de assuntos de política externa. Entretanto, para a coligação de republicanos e democratas conhecida como “Caucus do Sudão”, o que aconteceu em 2005 foi uma recompensa pelos mais de 20 anos de tentativas de se convencer três administrações consecutivas a levar os problemas do Sudão a sério. Anos de trabalho finalmente abriram caminho para a independência do Sudão do Sul, com fronteiras que incluíam 75% da fonte de petróleo do Sudão unificado.

Em contraste com a abordagem mais diplomática de Bush, Bill Clinton manteve uma postura dura frente ao governo sudanês, que em meados da década de 1990 abrigou Osama bin Laden e membros da jihad islâmica egípcia em Cartum. Em 1996, três anos após os ataques ao World Trade Center e um ano após a tentativa de assassinato do presidente egípcio, Hosni Mubarak, por Bin Laden e seu grupo, o governo sudanês finalmente cedeu à intensa pressão internacional e expulsou a rede terrorista, que transferiu suas operações para o Afeganistão e o Paquistão – e todos sabem o que aconteceu depois.

Comandados por John Garang, que havia passado duas décadas liderando forças rebeldes no sul, o Movimento e o Exército Popular da Libertação do Sudão (MPLS/EPLS) foram essenciais na elaboração do acordo de paz de 2005. Duas semanas após a assinatura do acordo que fazia dele presidente da região autônoma do Sul do Sudão, Garang morreu em um acidente de helicóptero. Embora teorias da conspiração tenham circulado, a notícia oficial foi de que o acidente ocorreu devido ao mau tempo.

Após a morte de Garang, Salva Kiir assumiu a liderança do MPLS. Kiir, dinka originário de Warab, havia lutado contra o exército separatista Anyanya durante a primeira guerra civil sudanesa. Anos mais tarde, com o MPLS/EPLS, tornou-se o segundo na linha de comando de confiança de Garang. Foi eleito em 2010 com 93% dos votos para liderar o Sudão durante o referendo do ano seguinte, que decidiu com 98% dos votos pela separação do norte. Durante sua liderança, Garang insuflou grande fervor religioso, comparando a realização do sonho de Garang a “Josué bíblico, que tomou o manto da liderança de Moisés quando os israelitas estavam prestes a entrar em Canaã e conseguiu que os fugitivos se estabelecessem na Terra Prometida”.

Kiir, um homem grande e de grande personalidade, orgulha-se de seu legado militar e de seus 22 anos de combate. Durante uma visita à Casa Branca em 2006, Bush lhe presenteou com um chapéu de caubói que Kiir parece nunca mais ter tirado da cabeça, vestindo-o em visitas oficiais, aparições públicas e até mesmo durante a assinatura da declaração de independência do Sudão do Sul.

Os detratores de Kiir dizem que o presidente gosta de beber, tem problemas em controlar sua raiva e é paranoico – defeitos pessoais compreensíveis em um homem que passou duas décadas no comando de grupos tribais extremamente violentos. Esse comportamento, contudo, é profundamente problemático para um político cuja função é unificar um país dividido pela guerra.

O Sudão do Sul se tornou oficialmente uma nação soberana em 9 de julho de 2011, com a promulgação da nova constituição. Kiir e Riek Machar, vice-presidente e companheiro de MPLS/EPLS, caminharam lado a lado na presença de ditadores e líderes democraticamente eleitos. Entre eles, o presidente de Uganda Yoweri Museveni; Robert Mugabe, do Zimbábue, o governante há mais tempo em exercício no continente; o presidente da África do Sul Jacob Zuma; Meles Zenawi, primeiro ministro da Etiópia; Teodoro Nguema Obiang Mangue, petroleiro e ditador da Guiné Equatorial e o Omar al Bashir, do Sudão, acusado de genocídio pela Corte Penal Internacional em 2010.

Mas o frenesi logo deu lugar a problemas logísticos, como a alimentação do povo e a produção de selos postais, que apresentou problemas diversas vezes. A Organização das Nações Unidas informou que aproximadamente US$ 763 milhões em ajuda humanitária foram solicitados para manter o país a salvo. A Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional forneceu um adicional de US$ 323 milhões em 2013, mas encontrou dificuldades na operação de suas atividades devido à “insegurança, perseguição burocrática por parte de organizações de ajuda humanitárias, problemas de logística e restrições impostas pelo governo do Sudão do Sul”. Como os pântanos inundados pelas águas do Nilo Branco, o Sudão do Sul foi inundado por uma cheia de boas intenções e doações monetárias, mas a situação já parecia perdida.

Mesmo com um bilhão de dólares à disposição, as 22 agências que compõem equipe da ONU no Sudão do Sul enfrentaram dificuldades em se estabelecer na região, afirmando que “os desafios perante o mais novo Estado do mundo são esmagadores, tanto em escala quanto em complexidade. Estruturas de Estado foram estabelecidas recentemente, e sistemas de distribuição em todos os setores são inexistentes ou disfuncionais. A corrupção está em todos os níveis do governo. Mecanismos de prestação de contas, onde existem, não conseguiram impedir o mau uso e a má gestão dos recursos públicos. Com a ausência de mecanismos políticos e socioculturais de ampla atuação, conflitos violentos continuam sendo um problema cotidiano”.

Para lidar com os crescentes problemas do Sudão do Sul durante o ano de 2014, a ONU destinou mais de US$ 900 milhões, valor calculado para cobrir os custos de oito mil soldados, diferentes esferas de governo e ajuda nos desastres humanitários que frequentemente atormentam o novo país. Em março de 2014, a ONU lançou um apelo urgente por um adicional de US$ 1,27 bilhões para ajudar a conter o caos que se instaurava no Sudão do Sul, República Centro-Africana e outros países da região. A ONU estima que 3,2 milhões de sul-sudaneses precisam de ajuda urgente, o que, consequentemente, afeta nações vizinhas, com a chegada de refugiados.

George W. Bush e Salva Kiir no Salão Oval em 5 de janeiro de 2009. AP Photo/J. Scott Applewhite.

Um grande número de ONGs chegou ao Sudão após o referendo de 2011, cada uma com seu propósito. Em 2010, havia em torno de 150 ONGs internacionais registradas oficialmente na região. Todas gastaram muito dinheiro na contratação de locais e em diversos projetos para a melhoria da nação. Hoje, a maioria foi embora, levando consigo seus funcionários e deixando seus veículos e equipamentos para os saqueadores.

Em agosto de 2011, o governo do Sudão do Sul encomendou um relatório da Joint Donor Team, organização de ajuda humanitária que ajudou o governo a elaborar um plano orçamentário nacional com base nas receitas esperadas advindas de petróleo, que, de acordo com o FMI, representam 98% dos rendimentos do governo do Sudão.

O resultado, um plano de desenvolvimento de 413 páginas a ser realizado em cinco anos, previa que as receitas oriundas do petróleo atingiriam seu ápice em 2011, seguido de uma queda drástica até seu fim. Baixos rendimentos, previsões de aumento da população e um índice de pobreza de 50% não ajudariam, mesmo no mais bem estudado dos planos financeiros. Muitos dos homens indicados ao poder eram ex-combatentes e seus parentes e amigos. Alguns haviam estudado, mas não eram maioria. Os governos nacionais, regionais e locais, líderes de tribos e empresários tinham o mesmo objetivo: explorar a vida curta de um otimismo rejuvenescido.

Uma estatística alarmante se esconde entre as 413 páginas do plano de desenvolvimento: estima-se que os 3,5 bilhões de barris de petróleo que seriam extraídos no Sudão do Sul durante as próximas duas décadas renderiam somente US$ 38 bilhões, e este seria o fim da extração de petróleo no país.

Quanto ao orçamento para 2014, segundo autoridades sul-sudanesas, US$ 4 bilhões seriam necessários somente para operações quotidianas do governo. Só foi possível coletar US$ 2,2 bilhões, uma vez que o restante já estava comprometido com impostos de extração de petróleo, dívida externa e planos de infraestrutura.

O plano de desenvolvimento de agosto de 2011 foi baseado em uma ideia otimista de que o petróleo fluiria tranquilamente para Porto Sudão, no norte, e que ambos os países trabalhariam em conjunto para exportar petróleo e dividir os lucros. Entretanto, em janeiro de 2012, o Sudão e seu vizinho do Sul não conseguiram chegar a um acordo quanto aos custos de utilização dos oleodutos, que foram prontamente fechados, juntamente com a fonte de renda primária do Sudão. As fronteiras foram fechadas para o comércio e Kiir acusou o governo do Sudão de roubar US$ 815 milhões em petróleo como represália. A tensão que crescia rapidamente nos dois lados logo se mostrou demasiada, e em setembro de 2012 concordaram com a reabertura dos dutos.

Em 3 de maio de 2012, menos de um ano após a independência, Kiir enviou o que disse ser uma carta privada a mais de 75 políticos influentes e oficiais governamentais, acusando-os de roubar US$ 4,2 bilhões em fundos do Estado. Kiir exigiu que eles devolvessem o dinheiro e deu instruções para que o depositassem, estranhamente, em uma conta de banco especial, aberta no Quênia pelo governo do Sudão do Sul.

Embora Kiir insistisse que somente ele e outro membro de seu gabinete tinham acesso a essa carta, a agência Associated Press obteve um exemplar no começo de junho. Embora em escala muito maior, o incidente lembra outra situação problemática ocorrida em 2006, quando Arthur Akuien Chol, ministro das finanças do governo interino, foi destituído após ser acusado de desviar US$ 60 milhões em fundos do Sudão, destinados à criação de instituições civis. Segundo o ministro, Pagan Amum Okech, secretário geral do MPLS, receberia metade desse montante.

Onde foi parar o dinheiro dessa vez? Ninguém sabe. Kiir acreditava que o melhor para a estabilidade do governo era manter o assunto o mais discreto possível. Uma das pessoas mais curiosas quanto ao destino do dinheiro era Machar, que, por outro lado, estava determinado a levar o escândalo até o fim. Sua curiosidade logo se tornou um grande ponto de conflito entre ele e Kiir.

Esse dinheiro estava primeiramente destinado à contratação de soldados e funcionários do governo, à pavimentação de estradas e à elaboração de uma reserva estratégica de grãos. Enquanto a carta acusatória de Kiir polarizava seu governo nascente, pouco ou nenhum progresso havia sido atingido em termos de infraestrutura no país, apesar de milhares de ex-rebeldes e parentes constarem na folha de pagamento do governo.

Em junho de 2013, os oleodutos foram fechados novamente. Dessa vez, o Sudão acusou Juba de apoiar rebeldes que haviam lutado contra Cartum. O Sudão do Sul negou as acusações, mas isso em nada contribuiu para que os dutos fossem abertos novamente.

O Sudão do Sul, embora “rico em petróleo”, era, de fato, uma nação devedora que tomou emprestado US$ 500 milhões de outros países: US$ 100 milhões do Banco Nacional do Qatar e outros 100 milhões de dólares do Standard Bank Group, banco sediado em Johanesburgo. O FMI havia prometido mais US$ 50 milhões em setembro de 2013. Começaram a circular rumores apontando uma canalização de fundos dos Estados Unidos para o Sudão do Sul, em apoio ao governo de Kiir. Em novembro de 2013, enquanto o governo afirmava não ter dinheiro para pagar seus funcionários públicos, mídias divulgavam que o país devia US$ 4,5 bilhões a diversos bancos comerciais.

O Sudão do Sul estava rapidamente seguindo o caminho do Sudão, que tinha uma dívida externa de US$ 41,5 bilhões, sendo 87% em pagamentos atrasados, segundo o Banco Mundial. Todavia, levou um século para que esta situação desastrosa se instalasse no norte. O Sudão do Sul tinha somente dois anos de existência e controlava a maior parte do petróleo. Nenhuma explicação podia justificar esse funcionamento. Resumidamente, o Sudão do Sul era um caso perdido.

Mas além do petróleo, além do dinheiro nas mãos de um governo incompetente e corrupto, qual é a verdadeira economia do Sudão do Sul? Ela não existe. Os cidadãos do Sudão do Sul vivem de modo precário. Cultivam a terra quando há chuva e cuidam de suas vacas, cabras e ovelhas. Constroem suas casas com materiais naturais e gastam o pouco dinheiro que ganham em alguma cadeira de plástico, camiseta ou cartão telefônico. Tudo isso enquanto se agarram à esperança de que a guerra e os assassinatos a esmo não levem também seus empregos.

A triste verdade é que o único negócio que o Sudão do Sul realmente conhece é a guerra. Ainda que o EPLS tenha conseguido formar um partido político, a única fonte de renda a longo prazo do Sudão do Sul tem sido matar seu próprio povo e manejar, da pior forma possível, montes de dinheiro que, em grande parte, provém de fontes estrangeiras que “querem ajudar”.

Com a proximidade das eleições de 2015, em meio a um cenário de favorecimento político, corrupção e um governo autoritário hostil, Kiir reagiu da única maneira que sabia. Em 22 de julho de 2013, demitiu todo seu gabinete e ordenou que diversos políticos envolvidos em numerosos escândalos fossem presos. Quando escreveu a constituição provisória, Kiir incluiu uma cláusula que lhe permitia destituir governantes eleitos democraticamente em circunstâncias extremas, sob o pretexto de manter a “segurança nacional”. Entretanto, legalmente, esta cláusula não existia mais, uma vez que a constituição de 2011 havia substituído seu poder supremo pelo voto democrático. Mas Kiir fez o que bem quis. Para ele, seu modo de gestão autoritário estava acima da constituição e da democracia. O desmantelamento das alianças políticas entre grupos já divididos deixou claro o fracasso ao qual se destinava a tentativa do Sudão do Sul de se tornar um estado.

Os salários não eram pagos. Os aliados mais próximos de Kiir se foram. Em novembro de 2013, o ministro das Finanças Aggrey Tisa Sabuni reconheceu que o país caminhava rumo ao colapso. “Nossas dívidas nos alcançaram e não podemos mais fugir”, disse ao Voice of America. Foi implantado um plano de austeridade que excluía um grupo de funcionários de alto escalão, que continuava a receber salários e incentivos. O descontentamento se espalhou quando a ajuda econômica prometida para projetos e acordos não chegou.

Mabior Garang, filho mais velho de John Garang, não iria ficar de braços cruzados. Com a ajuda da viúva de John Garang, ex-ministra dos Transportes, e de Machar, Mabior desafiou a autoridade de Kiir. Em 6 de dezembro, o trio e seus aliados expressaram suas queixas quanto ao governo de Kiir em uma conferência de imprensa.

Por que um país com menos de três anos de existência devia US$ 4,5 bilhões aos EUA? Como Kiir podia justificar os gastos para criar uma “Guarda Republicana” de 15 mil homens, paralela às forças armadas já existentes? Essas questões continuam sem resposta.

Inspirado pela conferência de imprensa, um grupo composto de dinkas, nuers, shilluks e outros membros do MPLS anunciaram uma sessão do Conselho de Liberação Nacional para analisar a corrupção no país, seguida de manifestação pública em 14 de dezembro. Kiir afirmou que não toleraria que se repetisse o que aconteceu em 1991, referindo-se ao massacre em Bor contra os dinkas por parte dos rebeldes nuers de Machar. Os simpatizantes de Kiir começaram a cantar canções de guerra e Kiir divulgou um documento que condenava seus detratores.

Muitos políticos não estiveram presentes no encontro inflamado de Kiir em 14 de dezembro, fazendo-o suspeitar de um golpe de Estado iminente contra seu governo. No dia seguinte, Kiir ordenou que sua guarda presidencial desarmasse todos seus membros nuers e publicou uma longa lista de criminosos que deviam ser presos.

Em 15 de dezembro, Kiir declarou uma guerra contra os nuers, que resultou em uma limpeza étnica que custou entre 500 e 10 mil vidas, dependendo da fonte. Dados precisos não foram divulgados até hoje. Conflitos começaram nos quartéis de Juba quando a ordem de desarmamento dos guardas nuers foi dada. A milícia armada Gelweng, “guardiões do rebanho”, foi ordenada a buscar homens de casa em casa, colocar barricadas e organizá-los na rua para interrogá-los, espancá-los e executá-los. Kiir chamou Machar de “profeta da destruição”. Tanques e tropas armadas logo chegaram à residência oficial de Machar, que foi incendiada. Todos os guardas e funcionários da casa que se interpuseram no caminho foram mortos.

Contudo, algum membro da guarda presidencial conseguiu avisar a Machar e sua esposa do ataque, permitindo que eles fugissem por pouco.

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Tradução: Flavio Taam

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