Desde o dia 2 de janeiro, a violência organizada se tornou rotina no Ceará. Criminosos queimam ônibus, caminhões de lixo, atacam pontes e viadutos com explosivos, além de impor “toque de recolher”.
Quase seis toneladas de explosivos foram apreendidas com bandidos, que compõem facções criminosas, as quais afirmaram em um salve (recado público por escrito) que só irão interromper os ataques após a saída do secretário estadual de Administração Penitenciária Luís Mauro Albuquerque.
Por conta da onda de violência, o governo estadual, sob gestão de Camilo Santana (PT), anunciou uma série de medidas de combate à violência, entre elas a convocação de policiais da reserva, que voltaram a atuar nas ruas do Ceará no último dia 18.
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Porém, segundo confirmado pela própria Polícia Militar cearense, a faixa etária dos 150 policiais da reserva, que agora estão na ativa, oscila entre 55 e 60 anos. Do total de agentes convocados, 41 são oficiais (com patentes acima de tenente) e 109 são praças (soldados, cabos e sargentos).
“O efetivo convocado vai atuar no policiamento de prédios públicos, guarda de quartel e fiscalização de policiamento, respeitando a escala de serviço e idades deles”, diz trecho de nota da PM, encaminhada à VICE.
“Esses homens serão empregados no policiamento ostensivo, sendo observadas a idade e a capacidade física de cada um para que possam fazer a diferença nesse momento de combate ao crime organizado no nosso Estado”, afirmou o coronel Jano Emanuel, Assessor de Comunicação Social da PM do Ceará, durante evento em que os PMs da reserva se apresentaram.
“Ações midiáticas”
O otimismo oficial declarado pela PM, no entanto, foi questionado pelo juiz federal Nagibe de Melo Jorge Neto, no último dia 19, em um artigo publicado pelo jornal O Povo. Segundo o magistrado, o momento de violência vivido pelo Ceará somente não é pior pois “as ações terroristas (feitas por criminosos) ainda são gambiaras mambembes”. “Em matéria de improviso só se comparam com as ações midiáticas do Estado: montes de policiais nas ruas, tropas de choque, Exército, equipes do Raio, fuzis, Força Nacional de Segurança”, afirmou o magistrado.
Jorge Neto pondera que a policiamento ostensivo “é importante”, “mas está longe de ser o suficiente”.
Acrescentou que o Brasil não conta com uma lei antiterrorismo para punir atentados, como os feitos diariamente desde o início de 2019, além de não oferecer condições mínimas de estrutura em presídios. “Precisamos de condições dignas nos presídios. Esses presídios anárquicos, infectos e caóticos são o caldo de cultura para as facções criminosas. Precisamos de um regime rigoroso de cumprimento das penas, com respeito à dignidade dos presos”.
Um vídeo encaminhado à VICE mostra quatro policiais “prontos para a guerra”,segundo afirmado por um deles. No registro, feito por celular, os agentes estão claramente fora de forma e dois deles ostentam cabeleiras brancas. “Os combates estão agora saindo pra defender à sociedade. Pronto pra guerra. Selva!”, afirma um deles.
Fim de semana
Na madrugada de domingo, bandidos explodiram bombas de fabricação caseira em um posto de combustíveis e também incendiaram um ônibus e um caminhão no Ceará.
O ataque ao posto ocorreu na noite de sábado (19) em Maracanaú, que fica na região metropolitana de Fortaleza. Segundo a polícia, suspeitos jogaram coquetéis molotov (bombas incendiárias caseiras) em uma bomba de combustível do local. Ninguém se feriu e as chama foram controladas por funcionários no local.
Ainda no sábado, um ônibus foi incendiado na periferia da capital cearense. Segundo a polícia, um bandido armado obrigou para que o coletivo parasse. Depois, ordenou para que passageiros e motorista desembarcassem e, em seguida, o veículo foi incendido. Ninguém se feriu.
Na madrugada do domingo, suspeitos incendiaram um caminhão de lixo, no galpão da empresa de coleta, em Eusébio, que fica na região metropolitana de Fortaleza. Segundo a última atualização feita pela Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Ceará, no sábado, 399 pessoas haviam sido presas e apreendidas acusadas de envolvimento nos atentados realizados no estado.
Denúncias
A população pode contribuir com as investigações repassando informações que possam ajudar na localização dos suspeitos. As denúncias podem ser feitas pelo número 181, o Disque Denúncia. O sigilo é garantido.