Conheça o rei Bansah: monarca de meio período, mecânico em tempo integral

O Rei Bansah, ou Togbe Ngoryifia Céphas Kosi Bansah, comanda a Área Tradicional Gbi de Hohoe, Gana. Seu reino tem em torno de 200 mil súditos, mas, como superior e chefe espiritual do povo ewe, ele também se sente responsável por 2 milhões de pessoas em Togo.

Apesar disso, ele não vive em Gana ou em Togo. Seu lar é Ludwigshafen, Alemanha, onde ele trabalha como mecânico em sua oficina.

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Em 1970, seu avô, o rei de Hohoe, o mandou para a Alemanha a fim de que ele estudasse mecânica automotiva. Quando Bansah terminou seus estudos, ele decidiu ficar por lá. Ele abriu uma oficina, vivendo uma vida tranquila e feliz até que, um dia, em 1987, recebeu um fax de Gana que mudou as coisas para sempre.

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Seu avô tinha morrido, porém seus sucessores diretos, o pai e o irmão mais velho de Bansah, eram considerados impróprios para governar por serem canhotos, o que o povo ewe acredita ser algo “impuro”. Sendo assim, Bansah era o sucessor de seu avô. Ele aceitou a coroa e fez de seu objetivo de vida apoiar o bem-estar e o desenvolvimento de seu povo – embora ele ainda trabalhasse na oficina das nove às cinco. Por isso, o monarca comanda seu povo via telefone e e-mail.

O Rei Bansah volta para Gana várias vezes por ano, geralmente acompanhado de sua esposa alemã, Gabriele, para devotar toda sua atenção às questões de seus súditos. O país é uma democracia desde 1992, mas os reis tradicionais continuam mediadores importantes. Rei Bansah está construindo escolas, pontes e poços, além de doar bombas de água e veículos para projetos locais. Para levantar mais dinheiro, ele se apresenta como cantor, aparecendo em programas de TV e eventos públicos na Alemanha.

Conheci o rei em 2009. Eu estudava numa cidade próxima a Ludwigshafen e comecei a documentar sua vida. Viajamos para Gana e Togo juntos, e eu sempre o visitava em sua casa, onde ele cozinhava pratos tradicionais deliciosos, como rabo de boi, plátano e inhame. No entanto, quando viaja para Gana, ele geralmente leva um pouco da cozinha alemã, como schmaltz de cebola, que ele gosta de comer no café da manhã. Para financiar seus projetos de caridade, ele também vende sua própria cerveja, chamada Akosombo, mesmo não bebendo álcool.

Todas as fotos por Mirka Laura Severa.

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