Red Dead Redemption 2, o jogo mais antecipado dos últimos cinco anos, foi lançado hoje. Se você está no trabalho, é bem provável que o pessoal que faltou hoje está jogando. E se acompanha as notícias sobre o mundo dos videogames, você provavelmente sabe da polêmica recente cercando as práticas de trabalho na Rockstar Games, que incluem alguns empregados trabalhando 100 horas por semana para entregar o jogo a tempo. Cem horas dá 14,3 horas por dia, sete dias por semana. A internet se rebelou e, como geralmente é o caso online, muita gente propôs boicotar RDR2.
Mas então, você deveria boicotar Red Dead Redemption 2?
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Vamos estudar os fatos. É verdade que os empregados trabalham 100 horas por semana? Sim e não.
Dan Houser, cofundador da Rockstar, soltou essa bomba numa entrevista para a New York Magazine: “Trabalhamos 100 horas por semana várias vezes em 2018”. Trabalhar 100 horas é desumano e já sabemos que os “crunches”, ou períodos intensivos de trabalho extra, são comuns na indústria dos videogames, além de não receber hora extra em muitas ocasiões.
Houser rapidamente se explicou, dizendo que isso só se aplicava a ele e três outros funcionários, e que ninguém é obrigado a fazer hora extra na Rockstar. Vários empregados e ex-empregados deram sua opinião no Twitter, e o discurso varia consideravelmente se eles ainda são parte da empresa ou não. Também há uma matéria grande no Kotaku, na qual entrevistaram quase 80 pessoas trabalhando atualmente na Rockstar e ex-funcionários, e muitos descreveram a Rockstar como um cultura construída sobre excesso de trabalho e medo.
Entre ex-funcionários, as reações são bem negativas. “Eu trabalhava 80 horas por semana na Rockstar até ter uma depressão. Se não trabalhasse, eles encerrariam meu contrato. Há muitos jeitos de obrigar alguém a trabalhar mais do que combinado.”
“Faz quase dez anos que saí da Rockstar, mas te garanto que durante a era do GTA IV, era como trabalhar com uma arma na sua cabeça sete dias por semana. ‘Venha no sábado e domingo também, no caso do Sam ou Dan aparecerem, eles querem ver todo mundo trabalhando tanto quanto eles’.”
Sem surpresa, entre funcionários atuais, os comentários têm mais nuances. “Desde que entrei, as práticas de trabalho melhoraram muito. Os crunches para Red Dead Redemption 2 foram muito mais suaves que os dias de Grand Theft Auto 5, onde trabalhei mais de 70 horas por semana por um mês”, disse Phil Beveridge no Twitter.
“Já trabalhei em vários estúdios e, honestamente, a Rockstar North é uma das melhores experiências que já tive. Eu poderia ter ido embora do escritório antes e atingir minhas metas, mas não estaria completamente satisfeita com a qualidade do meu trabalho”, escreveu uma funcionária.
É difícil dizer com certeza, mas parece mesmo que a situação na Rockstar está melhorando. Especialmente depois da publicidade negativa. A cultura muda lentamente. Talvez lentamente demais. Mas o boicote é a melhor maneira de mandar a mensagem de que essa cultura precisa mudar mais rápido?
Do lado do consumidor, há um pouco de egoísmo rolando. Você pode ler isso em muitos comentários online. É “meu jogo” que “eu estava esperando há oito anos”, etc. Muita gente não acredita que quem disse que vai boicotar o jogo vai mesmo. É fácil dizer isso no Twitter enquanto você baixa RDR2 no seu Xbox.
Afinal, esse é o jogo mais antecipado do ano do estúdio que nos deu Grand Theft Auto 5, o produto de entretenimento que gerou mais lucro, rendendo cerca de US$ 6 bilhões. E os críticos já tomaram a decisão unânime de que Red Dead Redemption 2 é uma obra-prima.
O melhor argumento para não boicotar o jogo é que muitas pessoas que trabalharam nele, exploradas ou não, não querem que você faça isso. Elas têm orgulho de seu trabalho, elas querem que o maior número de pessoas testemunhe e se aventure no mundo que elas criaram. Além disso, o bônus de final de ano deles é diretamente ligado com as vendas do jogo. Boicotando o jogo, você pode estar prejudicando a carteira da Rockstar, mas também prejudica todo mundo que você está tentando “proteger”.
Então talvez a melhor maneira de ajudar essas pessoas seja denunciando publicamente a prática de crunches, para a indústria saber que está sendo observada, esse sendo o jogo da década ou não.
Matéria originalmente publicada pela VICE Quebec.
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