Testamos o Nintendo Switch

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Testamos o Nintendo Switch

Três horas com o console me deixaram com a impressão de que o potencial é grande, mas os títulos de lançamento são um pouco apagados.

Esta matéria foi originalmente publicada no Waypoint.

Depois de algumas horas em sua companhia, na estreia britânica do sistema em Londres, posso dizer com segurança que o Switch da Nintendo está entre um dock e um case rígido: nem é o que se espera de um console de mesa padrão nem se coloca como substituto imediato (ou sucessor) do seu portátil favorito.

Nas mãos — nas minhas mãos, que não são nem imensas demais nem excepcionalmente pequenas —, o produto como um todo, com dois controles Joy-Con, um de cada lado da tela sensível ao toque de 720p, proporciona uma sensação firme e tem um bom peso, como uma tecnologia premium que vale os US$ 300 [no Brasil é vendido em média por R$ 1500] que pede. A resistência do acabamento fosco a impressões digitais pegajosas é bem melhor que a do preto brilhante do Wii U GamePad, e em nenhum momento parece que os Joy-Cons vão tentar sair em busca da liberdade. Fico com a impressão de que ele aguenta uma ou duas quedas e quando alguém derruba de fato um dos Pro Controllers do Switch, ele chega ao chão com aquele baque gratificante que só as coisas caras dão, apesar de deixar um nó no estômago.

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Mas em nenhum momento ele foi tão confortável, em sessões de Splatoon 2, Mario Kart 8 Deluxe e The Legend of Zelda: Breath of the Wild na tela menor, quanto o PlayStation Vita original, que joguei para fins de comparação no meu trajeto de três horas de volta de uma viagem, nem o 3DS XL, meu companheiro de deslocamento desde o lançamento de Picross 3D: Round 2.

A unidade principal no dock, Joy-Cons e Grip. Todas as fotos são cortesia da Nintendo.

A tela do Switch salta e borbulha com o mesmo brilho e nitidez da antiga Vita OLED, e os jogos multiplayer são manejados sem oscilações perceptíveis no desempenho. Mas o aparelho é um pouco mais comprido que os consoles mais voltados para uso portátil, e tão fino que meus dedos em nenhum momento sentiram que tinha coisa suficiente para pegar. Não tem muita ergonomia por trás, se é que me entende. Não consigo me imaginar usando o Switch muito como console para deslocamentos, pelo menos não enquanto o 3DS tiver suporte.

Felizmente, ao jogar na TV — em que a resolução salta de 720 para 1080p — o Pro Controller representa uma melhoria real com relação ao antecessor Wii U, com botões frontais encorpados no lugar daqueles menores e centralizados demais da geração anterior. Usei essa peça em Zelda e Ultra Street Fighter II e, exceto pela ausência de gatilhos analógicos, é preferível com relação ao modo mais largo e fino da unidade principal. (Fico me perguntando o que isso significará para o potencial de ter títulos de GameCube pelo Virtual Console, já que alguns dependem daqueles antigos gatilhos analógicos).

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Passar da tela da unidade portátil à TV é uma delícia de tão simples: basta pausar e inserir no dock e, zás, está pronto. O encaixe é cômodo e tudo que o jogador precisa fazer é segurar os gatilhos esquerdo e direito do controle para informar o Switch para onde suas mãos foram.

Usei os Joy-Cons sem a unidade principal em Arms, um jogo de pancadaria direta mais profundo do que parece e que usa controles de movimento para dar socos (através de membros com molas que se esticam), se mover e bloquear, e os gatilhos superiores para movimentos especiais, desvios e pulos. Com certeza tem um pouco do DNA de Punch-Out!! aí, e o game é muito divertido — absolutamente acessível, mas com claras nuances de que só jogadores que dedicam tempo a ele poderão tirar máximo proveito.

Os dois Joy-Cons deslizam para o Grip central, criando uma peça "meio padrão"

Minha única preocupação é que a ligação que segura o cordão de pulso, parecido com a do Wii Remote, fica solta quando jogo na luta com bastante atividade física — trazendo a possibilidade de que esse novo e belo Joy-Con vermelho vivo saia voando da minha mão e se enfie na televisão. O sujeito que estava demonstrando o jogo diz que não é uma situação muito comum, mas com certeza essas coisas deslizam sem precisar aplicar muita força. É algo a se prestar atenção se você estiver dando socos com muita determinação.

O pacote de minigame 1, 2, Switch — um dos poucos títulos de lançamento do console, que vai sair em 3 de março — é o jogo que mais usa os Joy-Cons, principalmente o recurso "HD Rumble". Isso se traduz na sua mão como uma variação de níveis de vibração, simulando sensações diferentes na palma. Um jogo dá a tarefa de abrir um cofre, girando o mostrador até sentir o clique certo. Outro exige contar as bolas que estão "dentro" do controle, com base na sensação de que elas estão girando. É um recurso exclusivo muito bacana, mas o que exatamente jogos maiores vão o fazer com isso para dar relevância real de impacto no jogo eu não sei. De repente pode ser usado para você navegar pelo escuro na barriga roncando do Bowser em uma nova versão de Inside Story?

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Quando você joga 1, 2, Switch, sempre tem alguma coisa na tela da TV, mas esses jogos pedem que você enfrente outro jogador — literalmente de frente. Você encara a pessoa, olho no olho, enquanto tira leite de uma vaca invisível, tenta pegar uma espada de samurai dependurada ou tenta vencê-los no desenho rápido no estilo faroeste. É o tipo de coleção que você pode tentar emplacar em uma festa para mostrar os novos minicontroles do Switch. Mas sozinho, a US$ 60, em vez de ser um jogo que chama a atenção, é uma curiosidade cara que provavelmente não será jogada com muita frequência, ou que os jogadores podem optar por simplesmente deixar de lado.

O Switch Pro Controller me pareceu a melhor forma de jogar na tela da TV

A forma como os Joy-Cons se encaixam na unidade principal — deslizando de cima para baixo — me dá um receio de que, se a ligação em algum momento se soltar, a gravidade vai terminar o trabalho. Tem um clique reconfortante quando eles encontram o lugar certo, seja diante da tela pequena ou no " Grip", que transforma com eficiência dois Joy-Cons em um controle tradicional. Mas daqui a um ano, será interessante ver qual é a durabilidade comprovada dessas engenhocas originais.

Segurando de lado, com um layout mais padrão — um stick, quatro botões frontais —, um Joy-Con sozinho se garante bem para o jogo de plataforma Sonic Mania, correndo (na grande velocidade que esperamos) na tela da unidade em vez de fazer isso na TV. Um Joy-Con também pode ser inserido em um volante com tamanho de um estabilizador para os controles de movimento de Mario Kart.

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Falando nisso, embora essa seja basicamente a versão "definitiva" de Mario Kart 8, não é como se a inclusão de dois slots e alguns corredores novos, para mim, representasse um status de "essencial" entre os títulos neste primeiro ano de Switch — não quando se tem uma versão para Wii U tão boa. E pode-se dizer o mesmo de Splatoon 2, com base nessa apresentação, pelo menos. Não precisa sair correndo atrás da sequência se você está contente com o original, que já é estelar. (Mas imagino que os números na internet e seu desejo por eventos ao vivo vai ditar a velocidade com que acontecerá a sua migração.)

Estes cordões de pulso são presos por uma fitinha fina cinza escura, que se soltou durante minha rodada jogando 'Arms'

E esse é o verdadeiro problema que vi nos programas apresentados no evento do Switch em Londres: tirando Arms e 1, 2, Switch — ambos voltados para chamar os amigos para jogar, não para sentadas longas e solitárias —, não há nada aqui que venda de fato o potencial desse hardware novo. Zelda, até onde sabemos, ainda vai sair para Wii U e para o Switch, e é bem provável que com som e imagem praticamente idênticos (os dois devem sair com cerca de 13 GB de tamanho), enquanto Splatoon 2 é, no geral, mais do mesmo, com exceção de algumas armas e etapas novas. Não pudemos jogar Super Mario Odyssey, mas o trailer não conta nada sobre como ele pode demonstrar o que os Joy-Cons e o sistema têm de único. Talvez tenha algum uso para o HD Rumble.

Tem muita coisa ainda para aparecer, é claro, mas os primeiros meses serão meio frios para os early adopters que não estão a fim de explorar Hyrule. Você falou em Just Dance? É basicamente tudo o que você vai poder fazer até surgirem nomes como Splatoon 2 e Odyssey ao longo do ano, sendo que este último só sairá no natal. Com a conclusão da estreia britânica, a opinião predominante entre uma fatia considerável da imprensa de jogos do Reino Unido é de que o lançamento do Switch está sendo feito cedo demais para fazer jus à plataforma, considerando os jogos disponíveis no momento. E acho que estou de acordo. Mas com certeza é um kit bem fascinante e que parece ter qualidade, muito mais sofisticado que o plástico cafona do Wii U (que descanse em paz). E se os títulos posteriores fizerem o aparelho cantar, quem sou eu para me negar a acompanhar a canção?

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Tradução: Aline Scatola

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