10.000 anos entre Cid e Savanna

Onde? Na aula magna. Quando? Na última sexta feira. Como? Ligeiramente alterado — já não fumava um charro há uns anos. Porquê? Porque nem que tivesse que bater num monge tibetano, numa velhinha e num panda bebé ia deixar de ver ao vivo, aquele que considero o melhor álbum português de sempre. Assim, sem peso nem medida, sem justificar. É o melhor porque eu digo e pronto. 



Não tenho de ser coerente porque isto é rock prog, e o prog é épico, o épico é desmesurado, é enaltecedor, é conquista e tem um quê de Wagner. Não dá satisfações ao comum dos mortais.

Os irmãos Tiago e Miguel Vilhena — baixista e guitarrista dos Savanna, a banda que, dez mil anos depois de Cid, ressuscitou o rock prog nacional. Álem da música partilham outro dom. Conseguem em média umas dez vezes por dia considerar alguma coisa a melhor e mais espetacular cena do mundo e arredores. E dizem-no com uma confiança e vontade que não te deixam outra opção se não entrar no barco. Há o Carpe Diem, o YOLO e depois há os Vilhena! Foi com eles que aprendi olhar um admirável mundo cheio de melhores merdas ao som deste e muitos outros álbuns.

Por isso fui ver o Cid com eles, fui o gajo mais chato do mundo, aproveitei o momento e fiz uma data de perguntas parvas durante o concerto. Consegui não só impedir que eles curtissem o gig, como também comprometer o melhor artigo de sempre da VICE.



VICE: Isto é o melhor álbum do mundo?
Tiago Vilhena:
Se é o melhor álbum do mundo? Não é. Mas é o meu álbum português favorito Não é uma avaliação dos melhores álbuns portugueses. É apenas o que eu sinto mais e como eu estou ligado ao rock progressivo, sinto-o de uma maneira especial.

Está a ser o melhor concerto do mundo?
O público já cantou de pé e tudo, está a ser um bom concerto sim.

Olha qual é o melhor solo do mundo?
[Risos] Não sei. mas o meu irmão faz muito bons solos.

O que é que savanna fazia se estivesse algures entre Vénus e Marte?
Eu bebia um copo de vinho e comia queijo da serra.
Miguel Vilhena: ‘Tá caladinho vá.

Marte é verde?
Marte é da cor que um gajo quiser.
Tiago Vilhena: O cid quis que assim fosse.

Plutão já não faz parte do sistema solar, achas que devia mudar a letra?

[E não me responderam mais porque eu estava a ser insuportável.]



Perante isto dei por mim a considerar a  hipótese de fazer um artigo decente sobre o espectáculo em si. O alinhamento, a multidão, a iluminação ou a atitude do artista que confessou em palco estar com uma valente caganeira. Como sei que é isso que estão à espera, aqui vai:

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É sempre estranho ouvir ao vivo um álbum que está em loop na minha vida há uns anos. Bastou usar um teclado ou uma distorção diferente da gravação para me sentir ligeiramente incomodado. Mas eu tinha dado aquelas passas num charro. Não contem à minha encarregada de educação… A verdade é que na segunda música “Onde? Quando? Como? Porquê?” já a aula magna aplaudia de pé. Afinal de contas tinham perante eles o autor do “Favas com chouriço” a roçar bem perto o universo do heavy metal. No fim do concerto houve encores e bis com direito a isqueiros no ar e público a cantar 20 vezes seguidas o refrão.

Posso garantir que para lá de um concerto, tratou-se dum reconhecimento mais que merecido e adiado do José Cid como pai mãe e dinossauro do rock português.

Isto dito assim de um modo totalmente emotivo e claramente tendencioso porque “coerente era a minha avó”.


Fotografia por Joana Cardoso

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