Seu pai adora o FitBit dele, aquela mina do trabalho tem uma obsessão quase patológica pelo aplicativo de contagem de calorias dela, e você não consegue parar de conferir suas estatísticas no Monzo, tentando desesperadamente saber pra onde seu dinheiro vai. (Pro bar.)
No mundo moderno, ficamos obcecados com rastrear nossos dados. Por quê? Porque “dados são o novo petróleo”, como seu namorado fez questão de mansplainar recentemente. Num mundo onde gigantes da tecnologia fazem milhões rastreando desde nossos cliques até nossas conversas, não é de se admirar que estejamos convencidos de que saber todas as nossas estatísticas pessoais é a chave para o bem-estar financeiro, de saúde e pra felicidade. Agora há cerca de 160 mil rastreadores de saúde disponíveis na App Store, e o número de acessórios conectados como FitBits e Apple Watches devem atingir 1,1 bilhão em 2022.
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E não são apenas nossos dados pessoais que estamos obcecados em minerar. Hoje em dia, nossos amigos peludos também entraram na tendência dos acessórios de tecnologia: já existe FitBits para pets. Na verdade, é algo se tornando tão popular que algumas seguradoras estão oferecendo descontos para donos de animais de estimação que colocam gadgets de rastreamento de saúde em seus bichos, como relatado pelo Financial Times este ano.
Agora você já deve estar familiarizado com as críticas a rastreadores de saúde para humanos, com vários estudos sugerindo que os dados fornecidos pelos FitBits e Apple Watches são equivocados, e outros concluindo que esses aparelhos provavelmente não melhoram a saúde de ninguém. Então fora o potencial incentivo financeiro para os donos de pets, você ganha alguma coisa dando um rastreador de fitness pro seu gato ou cachorro?
Decidi descobrir por mim mesma, mas como meus bebês peludos são uma putinha relaxada que mora com meus pais do outro lado do país, e uma idosa delicada que tem medo de sair de casa, eu precisava de um voluntário. Aí entra minha amiga Izzy e o gato dela, Kubrick, um maine coon. Izzy estava disposta a entrar no experimento para ter alguma ideia do que seu filho fazia quando ficava fora a noite toda e voltava pra casa de manhã “fedendo a salmão e Chanel Nº 5”.
Para realizar esse trabalho vanguardista de jornalismo investigativo, eu tinha que ter certeza de usar o equipamento mais avançado de monitoramento de pets. Depois de pesquisar o número francamente desnecessário de produtos disponíveis, escolhi o Tractive IKATI. Custando £44,99 [cerca de R$230] (provavelmente mais do que eu gastaria num rastreador pra mim), o IKATI foi lançado mês passado e é o primeiro aparelho para gatos a oferecer um monitor de atividades além de rastreamento por GPS.
Prendendo o rastreador na coleira do gato e pagando uma assinatura mensal de £3.33 [R$17], o usuário pode rastrear seu pet através de um aplicativo que mostra sua atividade e localização. Atividade é categorizada como “preguiçosa”, “ativa” ou “dinâmica”, e “Pet Points” são distribuídos com base em quão ativo seu amigo de quatro patas tem sido, com a opção de colocar um objetivo de Pet Points diário e ver como seu bicho se classifica numa tabela geral de líderes, ou contra os pets dos seus amigos.
Você também pode estabelecer uma “cerca de segurança virtual” ao redor da sua casa e receber notificações se seu pet sair da área. O rastreador tem até um modo “ao vivo”, te dando atualizações de localização a cada dois até cinco segundos, o que só seria útil mesmo no evento improvável de o Kubrick ser sequestrado e a gente ter que fazer uma perseguição em alta velocidade para resgatar o bichano.
Depois de colocar o novo gadget no Kubrick (que deixou ele parecendo um criminoso com aquelas tornozeleiras de prisão domiciliar), deixamos ele sair pelas ruas do sul de Londres enquanto a gente o stalkeava. A novidade de ter um novo aplicativo tornou a coisa bastante viciante nos primeiros dias, e me vi clicando no Tractive tanto quanto entrando no Twitter e Instagram. Alguns dos comportamentos do Kubrick eram bastante intrigantes, particularmente no meio da noite quando ele estava mais ativo, às vezes disparando em corridas e uma vez até ousando sair da cerca de segurança virtual.
De muitas maneiras, a experiência era similar a usar as redes sociais – a empolgação quando Kubrick tinha um surto repentino de atividade era parecido com o rush de serotonina de cruzar com um meme muito bom, enquanto a decepção de descobrir que ele estava dormindo em sua casa era tipo atualizar seu feed e não encontrar nada novo ou excitante.
Mas na ausência de qualquer incidente de sequestro, a informação que vimos no rastreador de fitness do Kubrick era realmente útil? Bom, sim e não. Considerando que o Kubrick é um carinha cheio de swag que some por longos períodos (para ver outra mulher?), era um alívio poder ver que ele estava simplesmente no quintal do vizinho na maioria das vezes. Ainda assim, na falta de quaisquer diretrizes sobre o que exatamente constitui um nível “normal” ou “saudável” de atividade e sono para um gato da raça, tamanho e idade do Kubrick, o monitor de atividade não forneceu nenhum insight especial sobre a saúde geral do gato. Mesmo podendo nos dizer que ele provavelmente podia ser um pouco mais ativo, não é como se a gente pudesse fazer algo sobre isso. Você já tentou falar pro seu gato que ele deveria dar umas corridinhas ou fazer uma aula de spinnig?
No final das contas, a descoberta mais útil (e aterrorizante) foi que, segundo os dados coletados pelo meu aplicativo de saúde do iPhone, numa semana de rastreamento, Kubrick – um gato que dorme no mínimo 40% do dia – cobria duas vezes mais distância em seus passeios que eu, um ser humano com pernas muito mais longas. Isso pode não dizer nada sobre a saúde dele, mas provavelmente significa que eu deveria fazer academia ou algo assim, o que absolutamente não era a conclusão que eu queria tirar disso tudo.
Matéria originalmente publicada pela VICE Reino Unido.
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