Foi há coisa de um mês que a chefe me telefonou para perguntar se não tinha inconveniente em cobrir o próximo Boiler Room em Barcelona.
– Excitação total!
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Diz-me logo de seguida que seria um evento “Stay True” patrocinado pela Ballantines. A ideia “Stay True” é um Boiller Room muito especial, e exclusivo, que na sua oitava edição escolhe Barcelona como cidade anfitriã.
– Começamos mal!
Há 1345 dias que não bebia whisky, nem nenhum tipo de bebida alcóolica com mais de 15 graus. Ainda essa manhã tinha repetido em frente ao espelho: ” Olá sou o Pedro” (é assim que me chamo quando falo comigo ao espelho) ” Há 1345 dias que não bebo whisky e sinto-me bem“.
Vejo o line-up e a coisa promete. Cinco dos nomes mais influentes do techno/house espanhol fazem parte do programa. Tudo das 19 às 24, numa localização absolutamente desconhecida até ao dia do evento, e com um número limitadíssimo de entradas. Clandestinidade e Exclusividade. A receita de sucesso do Boiler Room.
– Bem, vamos a isto, e que seja o que Deus quiser.
Chega o dia e começamos cedo. Às 10h da manhã já tenho a produção da festa a pedir-me as perguntas para cada um dos três entrevistados. Ainda nem tomei o pequeno-almoço, não tenho um computador por perto, e só as tenho rabiscadas à mão no meu caderninho. Uma série de perguntas mais sérias com algumas provocações à mistura, um formato rápido e efectivo que todos os entrevistados confessaram ter sido a sua entrevista mais divertida.
Tinham de escolher uma de duas opções, mas nem sempre foi possível, por isso mudámos um bocadinho as regras do jogo. Ou seja, verde para resposta única, amarelo para indecisos, e cinzento na categoria de “não sabe / não responde”.
Vamos lá a mexer. Meia hora depois já estão a ligar-me para me darem a morada do tasting que a Ballantines oferece a alguns jornalistas e convidados. É super fora de mão. Ainda tenho de ir buscar o fotógrafo e tentar tomar o pequeno-almoço. A chefe liga-me para dar-me as últimas recomendações e detalhes técnicos. Chego a casa do fotógrafo e está em boxers. Assim não dá. E eu sem pequeno almoço. Apanhamos um táxi. Somos os primeiros a chegar e os únicos que chegámos a horas. E aí conhecemos o Ken e percebemos que o dia não vai ser fácil, nem aborrecido. Tínhamos à nossa espera uma degustação de cinco whiskys, dos 3 aos 30 anos, e muitas histórias deste World Embassador da marca que por si só daria para escrever uma série de artigos. Depois de chegarem os convidados que vinham de Portugal, com o habitual atraso nacional e um jet lag violentíssimo, lá fizemos o tasting e pude tomar o meu pequeno almoço de sticks de pão processado, batatas fritas e cerejas cristalizadas, tudo regado com os melhores whiskys das Highlands (e felizmente, muita água pelo meio).
Já com um grãozito na asa, despedimo-nos dos nossos anfitriões. Pusemo-nos a caminho do finalmente revelado local do evento – o Centro Náutico de Barcelona – onde tínhamos as primeiras entrevistas às cinco da tarde, mas não sem antes passar pela Barceloneta, para um mix de tapas vegan (calha-me sempre este fotógrafo porra!).
A emoção que produz assistir a uma festa clandestina é sempre extremamente atractiva. Saber que só podes entrar se fores com alguém VIP ou se tiveres acesso a um dos poucos convites, que vão actuar dj’s famosos, e que certamente vais recordar esse momento por uma larga temporada, fazem com que alguns já estivessem na fila para entrar (ou começar a tentar entrar, desse por onde desse) duas horas antes de abrirem as portas.
O line-up deste Boiler Room prometia festa da grossa e não defraudou.
Henry Saiz (elegante e prometedor), Psyk (aborrecido), UNER (eclético e surpreendente), Coyu (passou desapercebido) e finalmente Paco Osuna (contundente e efectivo), juntamente com uma produção e mise en scéne extremamente cuidadas, um público entregado e o bar aberto durante toda a festa, fizeram deste Boiler Room mais uma experiência inesquecível (pelo menos da parte que conseguimos lembrar-nos).
Têm dúvidas? Confiram.
Conseguimos fugir a tempo, quando apanhámos o Ken distraído, e assim escapar à After Party num outro local secreto de Barcelona. Porque Ken, essa coisa do “It’s not Alcohol, It’s Ballantines” digo-te eu que não é verdade.
Já comecei a contar outra vez: “Olá sou o Pedro. Há 4 dias que não bebo whisky e sinto-me melhor”.