A festa Sound of Q-dance no Shrine Expo Hall em Los Angeles.
Pela primeira vez em seus 13 anos de história, o genêro holandês de dance music caracterizado por seus passos de dança vigorosos e mandíbulas cerradas conhecido como hardstyle está reunindo suas tropas e tomando a costa norte-americana. Recentemente, o festival belga Tomorrowland se repaginou para TomorrowWorld em sua estreia nos EUA. Com um palco todo dedicado ao hardstyle, arrastou 150 mil raveiros para uma fazenda de cavalos em Chattahoochee, na Georgia, onde milagrosamente ninguém teve uma overdose de MDMA. E então aconteceu o Sound of Q-Dance, um evento enorme em Los Angeles com os novos e empolgantes nomes do hardstyle, incluindo a nova estela da Dim Mak, Coone, o duo holandês Psyko Punkz e o sinistro Gunz for Hire.
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As batidas agressivas que se aproximam dos 150 BPM, as melodias urgentes e uma total falta de síncope dão a impressão de que, assim como a polka, o hardstyle não é pros mais sensíveis. Pros ouvidos destreinados, tipo os dos meus amigos que curtem Willie Nelson e quinoa, o hardstyle soa como uma câmara de tortura, ou então uma piada europeia de mau gosto. Mas essa mesma hostilidade desatinada que apavora os não-iniciados tem um enorme apelo aos jovens desajustados que mamam nas tetas da sociedade (ou sonham com isso) — uma das razões pelas quais o hardstyle prosperou na última década, crescendo de um microgênero alemão para uma das mais populares subculturas de EDM no mundo.
Mas o que é o hardstyle, exatamente? São os fãs que usam as famigeradas phat pants e alegam que o hardstyle é mais do que música, é um estilo de vida. Um estilo de vida normalmente ridicularizado por sua sua falta de filtro de bom gosto, algumas vezes depreciado por suas origens nas classes trabalhadoras, e ocasionalmente louvado pelo uso honesto da serotonina como combustível. É impossível negar que um grande motivo do hardstyle ser tão atraente — ou repelente, se você tem tendências a ideias pretensiosas sobre bom gosto — é um apelo óbvio ao mais baixo denominador comum. Como o dubstep de festival, o hardstyle se aperfeiçoou na fórmula da dance music que ensanduicha apenas os mais eufóricos crescentes entre as batidas mais distintas e satisfatórias, sem quaisquer preenchimentos no meio.
Com seus passos de dança aleatoriamente coordenados e sua estética Hot Topic (NT: loja de departamentos norte-americana especializada em cultura popular), o gênero nunca esteve muito preocupado em ser “cool”, o que é inevitavelmente parte do seu encanto. Mas à medida em que as rodas do hype giram, o hardstyle está encontrando muitos novos fãs sérios, irônicos, e alguns em cima do muro, enquanto vai invadindo o som de todo o resto. (Até mesmo o Krewella!)
Nascido em Amsterdã no final dos anos 90, o hardstyle cresceu dos gêneros movidos à farmacologia e testosterona da EDM como hard house, house trance e gabber. Ele rapidamente desenvolveu sua própria cultura de passos de dança, selos e estrelas, com festivais gigantes como o (já falecido) Qlubtempo, o Qlimax e o Defqon. 1 potencializando o movimento pela Europa e Ásia. A Austrália, por exemplo, é agora berço de alguns dos mais devotos fãs do gênero.
Porém, só agora que o hardstyle ameaça chegar ao mainstream das bibliotecas de iTunes norte-americanas. Muitos sinais apontam pras possibilidades dele chegar a ser o novo grande lance da EDM: a estreia nos EUA dos festivais TomorrowWorld e Q-Dance; a Ultra Music está assinando com um dos expoentes e maiores produtores do gênero, Headhunterz, que fechou eventos como o Electric Daisy Carnival em Nova York e Las Vegas; Steve Aoki, o poderoso da Dim Mak assinou com o talento do hardstyle Coone depois de ouvir sua faixa “Madness”, feita em colaboração com Dimitri Vegas, Like Mike, e, hm, Lil Jon. O próprio Coone me disse que “o principal objetivo de trabalhar com a Dim Mak é trazer o hardstyle pros EUA. Queremos globalizar a cena”.
Mas por que o hardstyle só está estourando nos EUA só agora? A repórter da Billboard, Kerri Mason, que foi uma das primeiras a prever o potencial de uma tomada da América do Norte pelo hardstyle, e explicou por email que o apoio de empresas norte-americanas poderosas e cheia de dinheiro como Ultra Music, Williams Morris, Insomniac Events, e até mesmo a Q-Dance têm sido especialmente úteis. “Algumas pessoas na cena holandesa estão desconfiadas dessa abordagem descendente, no entanto”, ela adicionou, “porque por lá a cena ainda tem elementos de uma subcultura sincera… Quando se fala com caras que promovem o estilo na Holanda há uma década, nota-se que é algo ligado a uma forte subcultura de desajustados, não é só a música”.
Quando fiz a mesma pergunta aos representantes da Ultra e Dim Mak, o Gerente Geral e Vice-Presidente Senior de A&R, David Waxman, apontou para o grande apelo das melodias robustas do hardstyle, que ele acredita serem tão fortes quando às que vêm de outros estilos eletrônicos mais populares. “É um pouco extremo entrar de cabeça num evento de hardstyle a noite inteira”, reconheceu Waxman, mas “nomes fortes como Hardwell, Steve Aoki, Tiesto e Porter Robinson estão tocando hardstyle nos seus sets… e os fãs estão reagindo positivamente”. Waxman tem alguma razão — até Diplo anda incluindo hardstyle na sua música… e imediatamente levando uma no Twitter de Venus X da turma GHE20 G0TH1K –, ela própria fez um mix matador de hardstyle com seu DJ parceiro $hayne para a V Magazine, que foi descrito como “a melhor mix do apocalipse hardstyle com imitações de Nicki (Minaj) e RiRi (Rihanna), e muita bruxaria e gatos”.
Da mesma forma, o diretor de marketing da Dim Mak, Bryan Linares, atribuiu o crescimento do hardstyle à tendência do público norte-americano de ser movido a tendências. “Vimos o dubstep ter seu momento. O trap está tendo seu momento agora. O hardstyle está começando a ter seu momento nos EUA porque os fãs estão buscando um som novo e empolgante. É rápido, os jovens adoram o rápido”.
Se a infiltração do hardstyle nos Estados Unidos está fadada a acontecer eventualmente, é também inevitável a sua americanização — assim como o dubstep foi de bass music melancólica e cabeça ao brostep vazio e hiperativo quando cruzou o oceano do Reino Unido à nossa costa. “Os promotores estão sonhando com o surgimento de um artista de hardstyle nos EUA para fazer com que o estilo soe mais norte-americano”, diz Mason, “isso poderia incluir a adesão de elementos do hip hip ou punk — o que poderia, na verdade, transformá-lo num brostep mais pesado ainda. Se prepare pro inevitável vídeo no YouTube ‘vovôs curtindo hardstyle’…”
Mesmo Headhunterz, o manda chuva do hardstyle, reconhece que alguma mudança está pra acontecer. “Alguns dos ingredientes da fórmula do hardstyle vão provavalmente se destacar mais do que outros, e enquanto eu estava em turnê pelos EUA isso ficou mais claro pra mim. Como o gênero vai mudar é um mistério, e eu só estou seguindo com a corrente. Mas eu não vejo as mudanças como negativas”, disse.
Independentemente de ser reivindicado por executivos de gravadoras, antigos mestres do hardstyle, ou formadores de opiniões, uma coisa está clara: o hardstyle voltou, galera. Melhor começar aprender a dançar.
Michellez é hardstyle v1d4 l0k4 – @MichelleLHOOQ