A LDI (Liga de Defesa Inglesa) é, em resumo, uma organização composta por fãs de futebol e tipos irritadiços que marcham através do Reino Unido protestando contra o Islã. O problema — bem, um dos problemas — é que não fazem distinção entre muçulmanos comuns e extremistas, e julgam que são todos terroristas que deviam ser removidos à força do país.
Os membros da LDI são, o que era de se esperar, homens brancos que têm entre 18 e 50 anos, todos vestidos no melhor estilo hooligan. Antes de cada “protesto político” eles se juntam em um bar, enchem a cara e vão para as ruas, com copos na mão, cartazes e camisetas personalizadas. O objetivo deles é causar o máximo de confusão possível, e um catálogo de canções inspiradas se tornou um de seus principais cartões de visita. A canção que contém o verso “Gordon Brown/grande punheteiro/grande punheteiro” é o maior hit.
Nos últimos seis meses, eu os acompanhei em uma turnê pela Inglaterra, e você ficará feliz ou deprimido ao saber que seu número de recrutados está crescendo.
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A LDI, com seus cartazes convincentes. BIRMINGHAM
A primeira vez que vi a LDI foi em Birmingham, no dia 5 de setembro de 2009. Seus membros planejavam protestar contra os muçulmanos sob a via expressa de Aston, mas assim que chegaram ao centro da cidade se depararam com membros da UCF (União Contra o Fascismo). O pau quebrou e uma turma grande de jovens muçulmanos se juntou à UCF na briga. A LDI foi obrigada a se esconder dentro de um pub. No fim seu grupo foi mandado embora da cidade pela polícia para sua própria segurança. Parecia uma cena saída de Quadrophenia, mas com racistas mais mal vestidos.
E aqui vamos nós! Esse é o início do evento em Birmingham. Assim que o pessoal da LDI chegou à New Street, por volta das duas da tarde, se deparou com um grupo de integrantes da UCF, e a briga começou.
A polícia teve de intervir quando a UCF encurralou um membro retardatário da LDI e sua filha. Não sabemos se ela também odeia muçulmanos, já que ela não estava gritando os slogans, mas para o bem dessa legenda vamos supor que sim.
Por volta de uma da tarde os manifestantes da LDI estavam bêbados e cantavam uma nova canção que dizia que Alá era a cidade de Peterborough. Controverso, mas preciso admitir que a canção pega. NOTTINGHAM
Em dezembro, a LDI planejou uma marcha em Nottingham. Cheguei cedo ao ponto de encontro da LDI, um pub ao lado do canal—ainda não era nem hora do almoço, mas dava pra notar que todos já tinham tomado algumas cervas para entrar no clima de gritar coisas racistas às demais pessoas. A polícia dessa vez não deu chance e manteve a LDI e a UCF separadas, então, mesmo sendo impressionante, não foi tão excitante quanto o início do tumulto em Birmingham. Quando o pessoal da LDI se deu conta de que não conseguiria nem chegar perto da UCF, que é basicamente composta por vovôs e estudantes, ficou entediado e começou a brigar com a polícia, que desceu a porrada, com direito a cães e cavalaria.
Essa foto está desfocada porque eu estava fugindo como um covarde, mas como se pode ver a polícia enviou a cavalaria para dispersar a LDI, partindo pra cima e nocauteando alegremente os desavisados que encontrassem pela frente.
Puta merda, os cães! Esse foi provavelmente o momento mais assustador em Nottingham. Esses cães são bravos de verdade e parecem não gostar nem de brancos nem de muçulmanos de pele mais escura.
A pequena congregação antimuçulmanos assiste ao discurso de Stephen Gash, o líder da PIE da Inglaterra. Infelizmente, ninguém conseguia ouvi-lo porque a UCF tinha um caminhão enorme com alto-falantes que pegou emprestado de um festival. HARROW
Em dezembro, uma facção dinamarquesa da LDI chamada PIE (Parem a Islamização da Europa) organizou uma manifestação contra a nova mesquita em Harrow, Londres. Eles convidaram seus camaradas ingleses da LDI para o passeio, mas apenas 20 torcedores de futebol antimuçulmanos apareceram, e deram de cara com mais de 200 membros da UCF. Quase senti pena do líder da PIE, Anders Gravers, que tinha vindo lá da Dinamarca com os seus guarda-costas e acabou se metendo numa situação constrangedora e foi obrigado a voltar para casa sem encontrar sequer um único muçulmano para xingar.
Conheci esse cara em Harrow, e ele me mostrou seu desenho.
Com a mesquita de Harrow ao fundo, a UCF provoca a LDI. Seus membros reagem com suas próprias canções pegajosas, incluindo “Nazis voltem para casa” e “LDI vá pro inferno”.
A LDI é pró-Israel porque é antimuçulmana, ou algo parecido. A moça à esquerda falava furiosamente sobre mutilação genital, o cara do meio me chamou de bicha e o à direita gritou “lixo paquistanês” para a UCF.
A LDI se juntou em um pequeno espaço na frente do Parlamento. Os participantes viram uns trabalhadores imigrantes trabalhando na Abadia de Westminster e começaram a xingá-los. LONDRES
Geert Wilders, o político holandês de extrema-direita que tinha sido proibido de entrar na Inglaterra por incitação ao ódio racial, foi convidado pela Câmara dos Lordes em Londres para exibir o seu filme Fitna, que afirma que o profeta Maomé é o demônio e que o Corão é como Minha Luta. A LDI veio oferecer o seu apoio em uma sexta-feira ensolarada no começo de março, e a manifestação começou em frente à Tate Britain—imagino que tenha sido porque o lugar tem “Britain” no nome, o que a faz ser mais patriota. Alguns discursos foram feitos e então todos marcharam até o Parlamento para gritar para os turistas que Alá era gay.
Trombei com esses dois bebendo na frente do Morphet Arms, e eles me explicaram como os muçulmanos estavam roubando os nossos empregos e como os impostos baixos permitiam que imigrantes ilegais contrabandeassem heroína para o país e arruinassem o Natal.
Esse cara à esquerda dizia que sua mulher era muçulmana, da “Arágia Saudita”. Por causa do cara sique e dessa descoberta de um novo país no Oriente Médio, a coisa tinha ficado totalmente psicodélica. More
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