Esta matéria faz parte de uma série de reportagens de saúde mental para o mês de prevenção ao suicídio. Para ler mais, clique em VICE Setembro Amarelo .
Falar de suicídio é sempre difícil, mas neste Setembro Amarelo não podíamos deixar de tocar no assunto. É bom lembrar que a internet não é consultório, ainda que seja sempre importante buscar ajuda — seja com amigos, familiares e sempre considerar ir a um profissional de saúde.
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Consultamos a psicoterapeuta, professora titular de Psicologia e coordenadora do laboratório de estudos sobre o luto da PUC-SP Maria Helena Franco para entender como é entrar nessa bad e como, sim, você pode sair dela — ou ajudar alguém a sair dessa. Saca só:
NÃO É FRESCURA
Aqui vai a lição mais importante: não existe um único motivo para se pensar em suicídio. Não é do dia pra noite e muito menos frescura, como os desavisados de plantão se apressam em dizer. A professora da PUC-SP comenta: “Ah, tem isso, sim ele é um suicida. Não. É uma conjugação de fatores. Há períodos mais difíceis da vida que a pessoa não consegue lidar.”
SOLIDÃO
Depois de saber que a ideia do suicídio em geral não está ligada a apenas um fator, o isolamento e afastamento de pessoas é um grande sinal de alerta. “A pessoa saía, encontrava amigos e de repente se fecha, se isola. Ela fica muito irritada com as pessoas. irritada sem paciência, para ouvir, conviver.”
O QUE VOCÊ QUER SER QUANDO CRESCER?
Ser jovem e quase adulto é conviver com incertezas e dificuldades a todo momento, e costumamos sempre pensar qual o próximo passo. Se isso não está rolando, mayday. “É importante observar se a pessoa fez e tem planos para o futuro. Curto, médio e longo prazo”, observa a professora. Olhar para os próximos passos do dia, do mês e ano é assentar objetivos para seguir em frente, e conquistá-los na medida do possível.”
VOCÊ É ESPECIAL
A vida faz com que cumpramos vários papéis sociais. O que motiva manter os vínculos é saber que alguém faz parte de um núcleo, e que seu papel dentro dele é fundamental. Maria Helena explica que “com esses vínculos fortes e saudáveis, as pessoas percebem que são importantes pro outro, que a vida dela é importante pro outro. Isto é uma forma de a pessoa se sentir pertencendo a uma família, a um grupo social”. Sempre que tiver a oportunidade, relembre alguém que ela faz parte do bang e que o diferente dela é o que a faz especial. Faça isso agora.
PAIS + INTERNET + ARMADILHAS
Em relação à internet, a indicação da psicoterapeuta é simples: “o uso da internet para o jovem precisa ser monitorado pelos pais. Não tem muito o que questionar. Ser monitorado vai a diversos graus. Vai do grau absoluto que é você fechar para determinados usos e recursos, não ter acesso aquele ou outro site. De madrugada está todo mundo dormindo e esse é o ponto fraco porque é uma hora que evidentemente não vai ter vigilância, claro. É para ter atenção, é para conversar sobre. Acompanhar sempre, conversando com o filho(a): ‘O que você está fazendo aí?’, ‘o que você achou de bacana hoje?’.”
FALE, FALE MESMO
OK. A gente sabe que tem aquele lance em brincar com o proibido, mas é bom ficar esperto. “Tudo que vira tabu, tudo que vira alguma coisa que a gente não fala, só cresce. E, quando falamos, diminui a importância, deixa de ser um fantasma”, explica a psicoterapeuta.
O lance é ficar atento, principalmente os pais, no que a pessoa está dando de sinal de que ela gostaria de expressar e se sente coibida. “Não é para proibir, mas conversar. Se a ‘coisa’ não for conversada, não houver uma relação de confiança entre pais e filhos, o que ela vai ousar é na casa dos amigos”, alerta.
FIQUE LONGE DOS TROLLS
A internet também pode ser uma tremenda roubada. Isso porque a gente sabe que está cheio de troll por aí. O “Bullying a gente fala que é um fator de risco importante porque dá para o jovem a ideia de que ele não é legal. Bullying é cruel e perigoso. As escolas estão muito sensíveis a isso para que não seja mais uma causa de suicídio”, salienta Helena.
E AGORA, QUEM IRÁ AJUDAR?
Nem todo mundo tem forças de pedir ajuda. Por isso mostrar que a pessoa é querida, estimada, respeitada e aceita além de ser massa, é bem importante. É importante mostrar que a presença de alguém é importante. A professora Maria Helena diz que é preciso “observar isso e fazer com que a pessoa se sinta pertencente a uma família e que as suas dificuldades possam ser lidadas e tratadas em família. E, às vezes, a família não dá conta, então é sempre bom buscar ajuda profissional”.
AJUDA PROFISSIONAL? TÁ TUDO BEM
Saúde mental é como qualquer busca por ajuda — e deve sim ser tratada. Confira onde buscar ajuda profissional:
- Na cidade de São Paulo: os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e as Unidades Básicas de Saúde (UBS) prestam atendimento voltado à saúde mental. Os endereços e telefones estão aqui.
- Em outros estados: disque 136 para saber mais informações dos centros de assistência à saúde mental do SUS em todo Brasil.
- Universidades, faculdades e centros acadêmicos que oferecem o curso de Psicologia prestam serviços de consultas à comunidade. Informe-se nas unidades mais próximas.
- Centro de Valorização da Vida (CVV): A instituição é uma das mais sérias do país. Começou em 1962 na cidade de São Paulo e hoje tem 70 postos de atendimento em todo país. Os voluntários se colocam à disposição para ouvir sem julgar ou dar sermão.
Acesse o site: cvv.org.br ou disque 141.