Estudante é assediada no metrô e segurança questiona o seu vestido

Anna, indignada com a atitude do segurança,chegou a tirar foto do vestido que estava usando.

A estudante de jornalismo Anna Caroline Kaptchouang denunciou um grave assédio na linha vermelha do metrô de São Paulo na manhã de ontem (22). Segundo ela, um homem se masturbou e ejaculou no seu vestido durante o trajeto até a estação República. Desesperada, Anna chegou a pedir ajuda, enviando um SMS para o Metrô, porém não obteve nenhuma resposta. Quando abordou um segurança, foi questionada sobre sua roupa.

Kaptchouang conta que foi assediada durante nove estações. O homem entrou na estação Tatuapé e aproveitou que o vagão estava lotado para prosseguir com o assédio. Segundo a estudante, o homem estava de calça e terno social preto e aparentava estar na casa dos 30 anos de idade.

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“Comecei a sentir ele atrás de mim, coloquei até a bolsa no meio para evitar. Só que quando estava me aproximando da estação Bresser, senti meu vestido molhado. Não acreditei que isso estava acontecendo comigo”, relata.

Acuada, Anna pediu para sua mãe mandar o número do metrô destinado a receber mensagens denunciando assédio. Às 7h10min, Anna mandou um SMS pedindo ajuda, informando o número do vagão e o sentido que estava indo. A resposta pedindo as características do agressor chegou tarde.

Quando ela estava na estação Brás, decidiu confrontar o agressor. “Vi que tinha que interferir. Falei pro homem que não acreditava que ele estava fazendo isso e ele ficou revoltado e começou a gritar.”

Anna conta que, durante a discussão, o homem chegou a segurar os seus pulsos e a empurrar quando ela ameaçou de tirar uma foto do seu rosto. Anna ainda diz que ele a chamou de “louca”. Na confusão, o homem quebrou seu relógio e também a tela do seu celular quando foi impedir a foto. Ninguém interviu. “Tinham bastante homens no vagão e ninguém falou nada, ninguém me ajudou”.

Na estação República, onde grande parte do vagão também desembarca, Anna desceu junto com o agressor, que saiu correndo em direção às escadas, se perdendo no meio da multidão. O jeito foi Anna recorrer até um segurança da ViaQuatro, a linha amarela que faz conexão na estação República, e relata que não houve nenhuma tentativa de ajuda por parte dele.

“O segurança falou que não podia fazer nada. Ele também olhou para mim dos pés à cabeça e questionou o vestido que estava usando”, conta Anna. “É por causa do seu vestido”, ele me disse.

Com a falta de auxílio do segurança, Anna desistiu de ir atrás do agressor. Na parte da tarde de ontem (22), ela postou na sua conta do Twitter sobre o caso. A página oficial do Metrô respondeu sua denúncia e a convidou para conhecer o monitoramento da linha vermelha.

A estudante ficou descrente com a atuação do Metrô. “O que adianta fazer campanha se vocês não auxiliam?”, questionou ela em alusão à forte campanha feita pela empresa para incentivar as denúncias de assédios no metrô com o slogan “Você não está sozinha”.

Em nota oficial, a assessoria do Metrô de São Paulo e a Concessionária ViaQuatro (operadora da Linha 4-Amarela) informaram “que estão apurando criteriosamente os fatos relatados”.

Segundo o metrô, os agentes de segurança “foram ao vagão descrito pela usuária em duas ocasiões, entretanto, não houve manifestação dos passageiros”.

“O Metrô e a ViaQuatro não toleram e repudiam o abuso sexual, crime que deve ser combatido dentro e fora do transporte público. A Companhia do Metrô vem intensificando suas campanhas de cidadania e conscientização e as ações de combate ao crime, além de disponibilizar uma rede de auxílio com funcionários preparados para o acolhimento da vítima. São mais de 3 mil agentes de segurança e de operação e 3.500 câmeras para monitoramento de estações e trens”, diz a nota.

A campanha contra o assédio no Metrô começou com a disseminação de diversas denúncias nas redes sociais sobre abusos diários sofridos pelas mulheres no transporte público. Em 2014, o deputado estadual Jorge Caruso do PMDB ofereceu um projeto de lei para criar um “vagão rosa” reservado só para as mulheres para evitar assédios. O projeto foi visto como uma “segregação” pelos movimentos sociais feministas e foi amplamente rejeitado. Em resposta, o Metrô de São Paulo criou uma forte campanha para conscientizar os usuários do transporte sobre assédio sexual.

No fim do ano passado, dois protestos foram organizados em São Paulo com mulheres pedindo delegacia especializada e mais seguranças mulheres nas estações. A delegacia de polícia do Metropolitano, que investiga os crimes no sistema metroviário paulista, informou que só ano passado as denúncias de assédio cresceram 64%.

ATUALIZAÇÃO 24/03: A concessionária informou por meio de sua assessoria que não encontrou nas câmeras nenhuma abordagem ao segurança. Leia a nota completa abaixo:

Em relação ao fato ocorrido na Linha 3-Vermelha do Metrô e sobre o relato de pedido de ajuda na Linha 4-Amarela, a concessionária ViaQuatro esclarece que, após apurar internamente os fatos, tanto com colaboradores que atuavam na estação República como com análise de todas as imagens das câmeras, não foram constatadas a abordagem e o pedido de auxílio citados pela usuária aos agentes de atendimento da Linha 4-Amarela.

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