Música

A Britney Spears É a Última Fronteira do Capitalismo

Imagine ser a Britney Spears? Não dá, né? Dá até para tentar, mas nunca daria para chegar perto de entender como deve ser famosa nesse nível. Tão famosa que, poucas horas após o lançamento, seu último single já estava no topo das paradas em 36 países. Tão famosa que quando você termina um relacionamento vira notícia internacional, acima de estupros, assassinatos e incêndios e todas aquelas coisas que não são bacanas. Tão famosa que quando brota um bebê pra fora de você é o equivalente de ter dividido um átomo. Ser uma pop star está fora dos limites do pensamento convencional.

Britney Spears é a rainha do pop, uma coroa que foi passada pela Madonna quando ela deu uns pegas nela no MTV Awards. (A coroa de rainha do pop é bem pequena. Na verdade, é uma cápsula de ouro que é passada via um beijo de língua.) E essa cápsula de ouro destranca uma porta secreta para o livro de recordes, que é uma residência em Las Vegas. Pense em Céline Dion com um terno, Elton John tocando em um piano banhado a ouro. Agora, é Britney fazendo 100 shows em dois anos no Hard Rock Hotel em Las Vegas. Possuir uma residência em Las Vegas significa que você já passou a cultura contemporânea atual e é apenas legendária. Legendário no sentido Elvis da palavra. Isso é o show da grana. É a última exaustão. Sim, você irá cair da cama de manhã como a porra da Babara Streisand. Quando você morrer, o governo irá colocar sua cara em selos.

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Tudo isso me leva ao último single da Britney. “Work, Bitch”, segundo a própria, presta uma homenagem à seus seguidores gays. No programa do Reino Unido This Morning, Britney explicou que seus fãs gays presicavam ouvir umas de suas próprias gírias. Foi para eles, porque ela ama seus fãs gays. Sem contar que deve ser muito divertido repetir a palavra “bitch” várias vezes durante uma música. Porém, não vejo “Work, Bitch” como o último hino gay, mas sim como um “viva” capitalista. “Você quer um corpão? Você quer uma Bugatti? Você quer uma Maserati? É melhor trabalhar, vadia”. Verdade. E a Britney sabe de tudo isso.

O will.i.am co-escreveu e produziu o álbum para a Rainha. Por mais irritante que ele e o cabelo dele sejam, esse cara sabe como escrever uma música pop para a Britney. É uma coisa difícil. Tipo, é a Britney. Estamos falando do rosto que a nossa geração entende que é “música pop”. Ela é o rosto da geração da perfeição do pop chiclete, sexualizado e computadorizado. Simplicidade. Infantilidade. Virginidade. Isso funciona. (Vadia).

Quando você é uma rainha existe uma quantidade enorme e irracional de pressão colocadas em você para aderir a algum conceito abstrato de “realeza”. Não é diferente com a Britney. Ao assistir as entrevistas dela, parece que está vendo um profissional treinado e não uma pessoa. Será que ela alguma vez pode ser ela mesma em público? Nesse ponto, como ela seria? Quando você se torna tão valiosa, tão enjaulada, tão rentável, existe muita proteção apoiada com muito perigo.

Cada vez que a Britney enlouquece e faz alguma “cagada” –os melhores momentos dela, na minha opinião. Mas eu não sou um dos assessores dela- já tem um time pronto para a defender do ataque da mídia, inventar uma desculpa e salvar a imagem dela. Ela é uma baleia orca no Sea World –uma fera poderosa, mas no fim o dia ainda está presa em uma banheira fazendo uns truques em troca de atum.

O primeiro álbum dela saiu quando eu estava na sétima série. Cada uma das garotas da minha sala sabia de cor e salteado a coreografia de “Baby One More Time”. Você conseguia ouvi-las cantando a quilômetros de distância. E os pais ficavam putos da vida, porque se você lesse nas entrelinhas, a Britney virginal e adolescente estava falando sobre foder. Desde então ela colocou dezenas de hits no topo das paradas, casou com um otário, teve filhos, raspou a cabeça, desmoronou, juntou os pedaços, colocou ainda mais hits no topo das listas e tudo isso com uma câmera captando cada movimento dela. E o que VOCÊ fez nos últimos dez anos?

O novo álbum dela, como um todo, é meio caído. Mas eu não estou aqui para acabar com a Brit. Eu vim aqui reconhecer que ela é meio que incrível. E agora, com 32 anos e pisando no deserto de Las Vegas, ela ficou fora de moda, se distanciando de tudo, e ela está no direito dela. Ela não está mais causando, mas já está no caminho das lendas anteriores do pop. Finalmente, a rainha encontrou o seu reino..

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