Desde os 16 anos, o belo-horizontino Chris MC constrói duas carreiras paralelamente. Tendo começado a rimar na clássica Batalha do Viaduto Santa Tereza, responsável por revelar outros grandes nomes do rap mineiro como Djonga e FBC, o rapper e cantor passou a lançar faixas solo só alguns anos depois por insistência da irmã Clara Lima. Juntos, os dois participaram do single “Eu Sou o Jogo”, do Sagaz, e inauguraram a carreira de Chris.
Pouco depois, porém, o cantor passou a explorar um lado menos rimado, mais cantado de seu talento como membro do 1Kilo. De “Dia de Caça” até “Olha Quem Voltou”, Chris passou a colocar sua faceta romântica e R&B chavoso nas faixas do grupo carioca. Enquanto isso, ele participou de cyphers e uma edição do Poesia Acústica, da Pineapple.
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Nesse começo de 2019, o MC juntou suas duas facetas num único disco: PRIN$, lançado em meados de janeiro, é uma junção de suas lovesongs mais melosas (como “Facetime”, “Sempre Que Puder” e “Céu Azul”, uma parceria com Luccas Carlos, como não poderia deixar de ser) e suas trapzeras mais pesadas (como “O Mundo Terei”, “Corre” e “6 Me Desculpa”). O equilíbrio que Chris encontra entre a melodicidade e a agressividade surge em meio a uma valorização de ambos: enquanto a crueza do rap mineiro prospera em meio a lançamentos como os de FBC, Djonga e Sidoka, o rap romântico — na boca de artistas como Matuê, os rappers do Poesia Acústica e o próprio 1Kilo de onde veio Chris — ganha as paradas e as rádios do Brasil. Neste contexto, talvez este seja o momento perfeito para a existência de PRIN$.
Ouça PRIN$ e leia o papo que eu bati com o Chris por telefone abaixo:
Noisey: Como te veio a ideia de gravar um disco solo?
Chris MC: Eu já tinha bastante single, cypher e essas paradas. Pra consolidar o que eu tava fazendo durante esses anos, eu precisava ter um disco. Queria ter um trabalho mais sólido. Você chegar cuspindo uma rima numa cypher em que você fala o que quer e não tem um conceito é muito mais simples do que colocar isso num álbum. Eu acreditei que esse era o momento, que eu deveria ter essa parada para o público me olhar com esses olhos.
Parece que tem dois lados de você que aparecem no disco: um mais rapper e outro mais cantado, romântico. Essa foi a intenção?
Sim, tem essas duas partes. É importante unir esses dois lados. Eu não ia soltar nenhuma lovesong, mas querendo ou não as pessoas também gostam quando eu faço um bagulho mais R&B, essa parada voltada pra um outro público. Eu não podia contar só com o público que curte as rimas, que me conhece das batalhas, porque musicalmente eu cresci muito fazendo essas outras coisas também.
Quando você pegou pra fazer o disco, você começou do zero ou pegou coisas que já tinha escritas?
Foi do zero mesmo. Eu escrevi “Forças”, que é a introdução, e eu e o Malive [produtor do disco] fomos fazendo as músicas. Fizemos os traps, depois as outras, aí acabou que juntamos as duas partes e virou um só.
Quem você teve como referência/inspiração na hora de gravar e compôr?
Gosto muito dos caras do rap aqui de Minas Gerais. Acho que a gente tá fazendo uma coisa maneira, uma parada muito nossa. Eu me identifico bastante com a galera falando sobre autoestima, sobre ser uma pessoa que veio do nada e hoje tem algo, de como isso incentiva a gente daqui porque não ser do eixo é muito difícil. Mas tem algumas de fora também, eu sempre gostei muito do Michael Jackson, acho as melodias do Biggie boladonas pra época, Usher também… E a capa do disco é uma referência ao Young Thug, sou bem fã. Uma das músicas que mais ouvi na vida foi “Memo”, que está no Slime Season 3, o disco dessa capa. Meu primeiro álbum tinha que ter uma referência de algo que eu gostasse muito. Ou era o Young Thug ou era Rei Leão (risos).
Tem rolado um movimento no rap de BH: ano passado saíram discos bem grandes do Djonga, FBC, Sidoka. Como é lançar o seu disco em meio a essa leva?
Eu acho que é o momento em que a gente tinha que estar fazendo isso mesmo. É importante a gente estar fazendo isso e estar participando nos discos uns dos outros. Tem participação do Djonga no disco do Fabrício, o Sidoka e o Hot têm participação no disco um do outro, eu tenho som com o Sidoka. É importante andar de mãos dadas, é mais fácil você conseguir levar alguém.
Como rolaram as participações do PRIN$?
Do Luccas [Carlos] não tem nem o que falar. Luccas é um cara sem palavras pra descrever. O SOS é muito meu parceiro desde que o conheci, o Baviera é um dos meus melhores amigos da vida, o FBC é mestrão. E o Pan [Mikelan] a gente tinha chapado numa música dele, eu e o Malive. Gostamos pra caralho do flow dele, do jeito que ele canta e decidimos convidar pro disco.
O que você recebeu de feedback do disco até então?
Eu não esperava que o feedback fosse tão positivo. Estou bastante feliz com isso, porque querendo ou não quando os números são altos a gente consegue patrocínio, tocar com o apoio de cultura, é importante esse bagulho.
Quais são os planos daqui pra frente?
Trabalhar esse disco e viver esse momento novo de ser um artista solo, não ter mais um grupo, entender esse bagulho e viver o que tem que ser vivido. Eu sou novo, tenho 22 anos, e é uma experiência muito intensa pra mim. Eu faço isso desde que tinha 16, não fui um adolescente normal nem no colégio (risos). Minha adolescência foi mais no rap do que em casa. Querendo ou não, existe uma entrega maior da gente por ser jovem, mas também nos priva de muitas coisas.
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