Cerca de um ano atrás alguém tirou uma foto numa festa. Era uma foto simples, eu e alguns amigos apoiados num bar. A foto não era particularmente negativa. A luz era boa e os ângulos eram OK, mas quando postaram na internet me senti meio envergonhado. Eu estava mais gordo do que queria. Pela maior parte da vida, sempre lutei com os mesmos dois ou quatro quilos a mais, e sem saber eu estava do lado mais pesado de novo. Não deveria ter sido surpresa, eu me via diariamente, mas é incrível o tipo de coisa que você consegue ignorar até, sabe, não conseguir mais.
Não posso dizer que a foto foi o momento instigante para o que se tornaria a grande experiência de tanquinho da minha vida. Não lembro realmente. Provavelmente foram vários pequenos momentos se acumulando, várias coisinhas apontando para uma ideia maior. Eu queria ver se podia cuidar daquele peso extra de uma vez. Se eu me entregasse ao fitness, eu poderia finalmente ir além do status quo? Parecia um incentivo decente para um ensaio pessoal e motivação externa suficiente para realmente fazer o que era preciso.
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O resultado da experiência foi uma matéria para a VICE chamada Passei Oitenta Dias Tentando Conseguir um Tanquinho e Fodi Com a Minha Vida. A matéria foi um sucesso de várias maneiras e um fracasso de outras. Perdi 7% da minha gordura corporal mas não acabei realmente com uma barriga de tanquinho. Foi a matéria mais lida que já escrevi, mas colocou uma pressão séria na minha vida pessoal. A matéria também acordou muitos fantasmas antigos com os quais eu não estava inteiramente preparado para lidar.
As reações à matéria foram divididas. Para cada pessoa elogiando a escrita ou a transformação, tinha outras 20 me chamando de fresco. Uma mulher disse que eu tinha sangue nas mãos. Ela disse que as pessoas iam ler a matéria e desistir de entrar em forma. Quando essas pessoas morressem, a culpa seria minha.
Mas de todas as grandes reações teve algo que eu não esperava. Recebi um punhado de mensagens diretas perguntando como eu tinha conseguido. As pessoas liam sobre como fiquei miserável durante aquele tempo, como minha experiência com certeza era o jeito errado de perder peso, e ainda queriam que eu dissesse exatamente qual era minha dieta e rotina de exercícios. As mensagens eram longas e emocionadas, com as pessoas explicando como sentiam que seu corpo tinha se tornado um fardo. Na época eu não sabia realmente o que responder. Eu não era um especialista no tema, e assim que saí do projeto tanquinho, eu não tinha certeza se não cairia direto nos meus velhos hábitos.
Faz um tempinho (10 meses) que a matéria do tanquinho saiu e com algumas mudanças de estilo de vida e as instruções de Geoff Girvitz, o dono da Bang Fitness de Toronto e a pessoa que supervisionou meu experimento, consegui manter meu peso estável e até perder mais alguns quilos. Essa experiência decididamente foi menos extrema do que o regime condensado em 80 dias, e mesmo ainda não sendo nem de longe um especialista em fitness, sinto que aprendi algumas coisas. O suficiente para querer escrever sobre isso, de qualquer maneira. Abaixo – com ajuda de Geoff – listei algumas das maiores e mais chatas verdades que aprendi sobre perder peso e não ganhar de novo.
1. Provavelmente tem uma diferença entre o que você acha que é comer bem e o que é realmente comer bem.
Quando comecei a experiência do tanquinho, eu acreditava honestamente que me alimentava de maneira saudável. Eu comia o mínimo de porcarias. Bebidas se limitavam a uma ou duas vezes por semana. Eu comia meus vegetais. Mas uma das primeiras coisas que me pediram para fazer durante o projeto foi manter um diário com tudo que eu colocava na minha boca. E o processo foi uma iluminação.
“Muitas vezes, quando pedimos para as pessoas escreverem tudo que estão comendo, mesmo que elas não mostrem o diário pra ninguém, ela acabam comendo melhor”, disse Girvitz. “Escrever o que você consome – tudo que você ingere – te permite olhar honestamente para onde você está.”
Pequenas coisas, quando vão se acumulando durante a semana, fazem diferença. Eu estava bebendo mais do que achava. Comia muitos sanduíches e, para satisfazer minhas laricas tarde da noite, muitas vezes eu ingeria tantas calorias quanto as de uma refeição inteira. O diário destacou o vão entre como eu estava comendo e como precisava comer para atingir meus objetivos de fitness. Mas mesmo com a informação na minha frente, quebrar a rotina foi mais difícil do que pensei. Levei um tempo para encontrar estratégias eficientes.
Não achei a coisa binária de comida boa/comida ruim útil. Em vez disso, tentei pensar no que eu estava consumindo como mais perto ou mais longe do meu objetivo, numa modificação razoável. Em toda refeição eu me perguntava se não podia fazer uma escolha ligeiramente melhor. Na superfície isso era bem simples: molho balsâmico na salada em vez de molho caesar. Café preto em vez de café com leite. Comida integral em vez de processada. Essa questão básica, combinada com o registro preciso do que eu estava realmente comendo, me permitiu definir melhor o que eu queria fazer.
2. Consistência é mais importante que trabalho pesado.
Uma das razões para eu me sentir tão mal durante os primeiros dias da minha experiência era porque mudanças drásticas estavam acontecendo muito rápido. De ir para a academia duas vezes por semana, comecei a ir duas vezes por dia. Usar comida como conforto não era mais uma opção e eu precisava de sono mais do que nunca. Tudo isso exigia muita energia mental.
“Muitas vezes as pessoas começam com a ideia ‘quão pesado posso pegar – o que consigo aguentar’. É uma perspectiva muito sombria”, disse Girvitz. “Fitness deveria ser uma questão da sua felicidade. Então por que abordar a questão esperando que isso vai te quebrar? Por que não pensar em quanto você consegue fazer regularmente. É menos sexy que a abordagem tudo ou nada, mas é assim que você se coloca no caminho do sucesso.”
O que eu estava fazendo não era sustentável. Sem o enquadramento/pressão da matéria eu teria desistido logo. Quando você começa um novo regime, há sempre aquela inclinação de pegar o mais pesado possível, mas se você é o tipo de pessoa que fica tonta quando levanta do sofá muito rápido, talvez seja melhor ir com calma. O que você pode gerenciar realisticamente na sua agenda? Como você torna isso uma prioridade? No momento estou comprometido com quatro dias de exercício por semana. Geralmente malho na academia, mas se não deu pra ir naquele dia por qualquer razão, tenho um kettlebell em casa. Às vezes até corro.
3. Sozinhos, exercícios não são suficientes para mudar dramaticamente seu físico.
Quanto uma pessoa pode comer e continuar magra varia. Mas no final das contas – fora alguma condição médica extrema –, perder gordura se resume a queimar mais calorias do que você ingere. É isso. Tendemos a superestimar quantas calorias estamos perdendo durante um treino. E isso pode retardar as coisas, mesmo quando a pessoa está malhando pesado.
“Descobri logo que não só você não estava aderindo à dieta nutricional, mas que não estava realmente num ponto de começar mudanças – ou mesmo ouvir. Você estava muito estressado”, disse Girvitz. “Foi só no meio da experiência que você realmente começou a entender isso.”
Se quer mudar a composição do seu corpo, você vai ter que comer diferente. Isso não quer dizer necessariamente comer menos. Como mais agora do que quando o projeto começou, mas o tipo de comida mudou. Preciso comer muita salada para me sentir tão cheio como com um pedaço de pão. Preciso de muito mais peito de frango para atingir o mesmo conteúdo calórico de um hambúrguer.
Todas as minhas refeições são alguma variação de proteína magra e vegetais. Para os lanches? Um pedaço de fruta. Nozes. Novamente, consistência é a chave: dietas loucas podem te levar onde você quer chegar, mas sem fazer uma mudança geral nos seus hábitos, elas não vão te manter lá.
4. Tenha um objetivo. Tenha um plano. Registre o que você está fazendo. É chato mesmo.
Fotos de antes e depois podem ser assustadoras. Números numa balança podem ser dolorosos. Escrever por quanto tempo e o que você fez no treino é irritante. O mesmo com o registro da comida. Mas sem toda essa informação você não sabe realmente o que está fazendo e se as mudanças estão funcionando ou não.
“Você não vai ter progresso de calibre profissional com planejamento de nível amador”, explica Girvitz.
Ter um objetivo quantificável – algo mais específico do que parecer bem pelado – também ajuda. Talvez seja perder X quilos. Talvez seja uma porcentagem de perda de gordura. Qualquer coisa. Não que números são o sentido de tudo, mas é possível medi-los de um jeito que outras coisas não são. Informação é feedback. 90 quilos são 90 quilos.
Se você não tem certeza de onde começar, e tiver condições, faça uma pesquisa para encontrar especialistas (treinadores ou nutricionistas) para te guiar. Se não tiver condições de contratar os serviços deles, há várias boas fontes gratuitas na internet.
5. Manter seus objetivos fitness é um estilo de vida.
A diferença entre a primeira e a segundo foto em cima desta matéria é 13 meses e 14 quilos. Especificando, minha postura, meu bronzeado e a iluminação da segunda foto também são melhores… mas não teve edição ou preparação. Era um dia normal. Quando comecei o experimento do tanquinho eu era ingênuo. Eu achava que alcançar um corpo de super-herói era algo que estava – não sei – a uns quatro ou sete quilos de distância? Quando perdi os primeiros quatro quilos, fiquei surpreso e desapontado com meu físico, vendo só uma versão ligeiramente melhorada de mim mesmo. Mesma coisa quando cheguei na marca dos nove quilos. Foi só depois, vendo as fotos, que percebi quão drásticas as mudanças tinham realmente sido.
Depois do experimento eu tinha que tomar uma decisão. Eu podia voltar para o jeito como comia e me exercitava antes, o que iria desfazer todo o meu trabalho. Eu podia continuar com o experimento e me esforçar ao máximo para conseguir uma barriga de tanquinho de curto prazo, apesar do que o que fiz no experimento de 80 dias ter levado a me cagar duas vezes. Ou eu podia tentar encontrar um nível de manutenção: um novo normal que se encaixaria com as outras coisas que queria fazer na minha vida. Felizmente, estou mais em forma agora do que quando terminei o projeto tanquinho, apesar de ainda não ser a figura esbelta que eu imaginava. A diferença é que os fundamentos do que estou fazendo agora estão muito acima de onde eu estava, tanto que fazer o básico não é tanto esforço assim. Se eu decidir tentar fazer outra tentativa de transformação corporal, tenho uma base melhor de onde começar.
“Há muitos jeitos de subir a montanha. Mas sugiro pensar no que precisa de menos trabalho para você implementar mentalmente”, disse Girvitz. “Você não precisa fazer ginástica mental. Se é algo simples, provavelmente vai funcionar pra você. Se você usa um plano que se encaixa na estrutura preexistente da sua vida, mais chances você tem de realmente conseguir. Quando o plano já é parte da sua vida, você sempre pode ajustá-lo.”
Graham Isador é um jornalista de Toronto. @presgang
Geoff Girvitz é um escritor e profissional de fitness. Siga o cara no Twitter.
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