Caçula de quatro mulheres arretadas, Magá Moura é dessas pessoas inspiradoras. A baiana de Feira de Santana se autodenomina, em sua conta do Instagram, como Fashion PR, Cool Hunter e Style Lover, mas é muito mais do que isso: Margareth dos Santos Mouraé uma importante referência do empoderamento negro, feminino e estético no Brasil. Ela é, a bem dizer, a quebra consciente dos padrões. “Me sinto privilegiada por, aos 28 anos, saber o que quero pra minha vida: ter o meu negócio e colaborar na vida das pessoas sem ser só uma questão de likes e seguidores”, afirma.
A sua trajetória é estímulo para muitos seguidores – mais de 106 mil só no Instagram. De Feira de Santana, Magá se mudou ainda pequena para Irará, também na Bahia. Depois da separação dos pais, morou por dois anos com a avó materna enquanto a mãe se aventurava como empregada doméstica em São Paulo. Era quase o papo do filme “Que Horas ela Volta?”, de Anna Muylaert. Pouco depois, se mudou para a capital paulista. Sua primeira casa era no Parque Santo Antônio, quebrada da Zona Sul, e tinha apenas um cômodo para ela, as três irmãs e a mãe. Conseguiram a casa própria na Cidade Ademar, também na periferia, e viu sua mãe prosperar no emprego de costureira.
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Alguns anos depois, Magá estava em outra realidade: morava no Itaim, bairro também na zona sul mas bem mais nobre. Era onde sua mãe tinha seu próprio ateliê de costura e em condições muito melhores para a família. “A minha mãe é minha maior empoderadora. Ela não via dificuldade nenhuma pela frente, ela só ia”, conta. Da matriarca a menina herdou esse espírito incontrolável de simplesmente ir. E assim foi conquistando o mundo. Primeiro foi a faculdade de Relações Públicas, depois mochilões anuais na Europa até o curso de fashion marketing em Londres.
Magá, a essa altura, já estava em outra. Já era do mundo. Sua cara apareceu em destaque no Londres Fashion Week, em 2014. Com tranças cor-de-rosa e brincos com cabeças de boneca Barbie, a menina de Feira de Santana impressionou o mundo da moda. “Essas fotos correram o mundo inteiro. Eu achei essa imagem em site no Japão, na Finlândia. Em todas as línguas eu achei foto minha com legenda embaixo.”
O caminho para as tranças, porém, foi mais longo do que um clique. “A parada das tranças vem de uma história parecida com a da maioria das meninas negras. Elas crescem sem saber sua identidade, sem nem saber que são negras, sem nem saber que o cabelo é crespo. A gente já cresce alisando”, explica. Num desses processos capilares, Magá ficou quase careca e ficou naquela encruzilhada: ou raspa ou faz trança. Ficou bem claro qual foi a decisão que tomou. “Aí nessa época eu vi um clipe da Beyoncé e a irmã dela, a Solange Knowles, aparece com as tranças enormes, pretas balançando até o joelho. Eu falei: Noooooooosa, olha esse cabelooooooo”, conta. O cabelo atual, mais parecido com dreads, também vem do visual da cantora americana.
“As pessoas encontram em mim referências de muitas coisas. Da mulher negra que venceu, da mulher da Bahia, da mulher estilosa, fashion, descolada, doida e que corre também”, diz. Pois é: Magá ainda corre – e bastante. Desde 2010 costuma passar dos 10 quilômetros fácil, fácil e não é incomum ver suas tranças coloridas acelerando pelo Parque do Ibirapuera. Agora, diz, está se preparando para os 21K da Nike Women Victory Tour. Será sua primeira prova do tipo. “Tenho uma resistência muito boa, não fico com medo da distância, sei que vou correr tudo. Na verdade, fico com medo do calor do Rio, isso abala.”
Além da corridona, a Magá marcou uma corridinha só sua, a Magavilhas BLK PWR, aberta a todos que curtem o esporte. Será dessas bem sussas e cheias de estímulo até para os mais sedentários. A prova, marcada para às 17h do dia 16 de abril, um sábado, não passará dos cinco quilômetros. O evento será na Vila Madalena e partirá do Bolovo Ground Control, na Rua Fradique Coutinho, 2217. “Quero movimentar essa galera que me segue e trazê-las pra essa coisa da corrida, despertar isso. Vai ser legal correr com elas”, explica Magá, sentada confortavelmente. Além de estimular o debate e o empoderamento negro, feminino e estético, será ainda uma forma de estimular os seguidores e amigos a fazer algum exercício. “A minha corrida vai ser maravilhosa”, pontua, sorridente.
Magavilhosa, diríamos. E aí, topa?
Para saber mais sobre a prova acesse:
https://web.nike.com/vemjunto/index.html#/event/magavilhas-blk-pwr