Foto: Tariq Hindic.
A novata e intrigante cantora/produtora Lafawndah – que em breve abrirá os shows da Kelela – ficou na posição #100 da eleição da Dazed dos artistas visionários surgidos em 2014 e escolheu um remix de “Oops” do produtor chileno Dinamarca como sua música favorita do ano. A energia da música continua vindo do poderoso vocal da Tweet, mas que acompanhada por samples de animais, um dancehall soturno e breaks estratégicos, com certeza representa um pedaço do que produtores ousados tentaram fazer com o R&B durante todo esse ano.
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Apesar de ter nascido no Chile, Cristian Dinamarca viveu praticamente sua vida toda em Estocolmo (Suécia), cidade onde ele mantém o seu selo Staycore, pelo qual lançou o seu último EP No Hay Break. O EP, que foi lançado há duas semanas, possui cinco faixas que contam com colaborações entre amigos e parceiros de outro continente, como o produtor Zutzut, do selo de música periférica N.A.A.F.I. – Dinamarca, aliás, é um dos nomes do extenso lineup da festa de fim de ano do coletivo mexicano ao lado da produtora Ghazal, com quem divide as funções e os princípios da Staycore: “Mantenha-se fiel às suas origens (Stay true to your core). Não dê atenção às suas inseguranças, apenas faça o que te der vontade.”
E a vontade do Dinamarca foi que você tivesse essa freebie de “How About”, com certeza a faixa mais interessante do EP, colaboração entre o Zutzut com vocais de Kassandra, sua amiga de Estocolmo que tem alguns trabalhos guardados para 2015. Você pode baixar a faixa direto do Soundcloud, ou comprar o EP No Hay Break através do iTunes. Enquanto isso, vai lendo o papo que batemos sobre a produção do EP, seus planos para o fim de ano e a dominação latina na música eletrônica.
THUMP: E aí, Cristian, me fala um pouco sobre você e me conta algumas coisas que você ama, odeia, ou só te deixam entediado.
Cristian Dinamarca: Olá! Eu tenho 28 anos e nasci em Santiago, no Chile. Minha família teve que sair do país por causa do golpe militar, então fui praticamente criado na Suécia. Eu amo usar sandálias slippers e eu odeio o inverno sueco.
E sua produção musical e DJing, como você aprendeu e entrou nesse mundo?
No começo eu era apenas DJ. Eu tinha apenas 12 anos quando comecei a ir em algumas aulas de discotecagem que havia num centro juvenil que ficava no porão da minha escola. Os professores eram todos antigos estudantes que aprenderam o ofício de DJ no mesmo lugar quando eles foram crianças, e todos eles eram muito legais. Mais tarde um deles até chegou a me ensinar o básico de produção durante seu tempo livre, ele era um fofo.
Eu não consigo imaginar a Suécia como um lugar onde ocorrem muitos eventos ou festas latinas. Estou errado? Como as pessoas reagem a essa música por aí?
Na verdade existem muitos latinos aqui, especialmente chilenos, devido aos golpes e conflitos na América Latina. Existem alguns clubes de salsa mas eu só estive em um apenas uma vez. Eu tenho a sensação de que esses lugares são para pessoas mais velhas ou pais lol. Em termos de música de clube mais contemporânea, o toque latino tem funcionado muito bem. Quero dizer, a cena em Estocolmo não é tão grande, mas está sempre se desenvolvendo e as pessoas tem ficado cada vez mais curiosas por ouvir coisas novas.
E que festas e produtores têm agitado a cena do clube por aí?
As coisas têm ficado cada vez melhores, especialmente agora que conseguimos criar o selo e tudo mais. Parece que estamos criando um lar bem confortável para a música que estamos criando. Eu faço parte das festas Staycore e Ham City, e agora surgiu uma nova chamada Evolver que o meu amigo Al T4riq está fazendo. Eles tem um line-up incrível para a sua estreia, que acontece logo mais. Mas infelizmente não vou poder ir porque estarei no México para o fim de ano da N.A.A.F.I. :)
Estou muito animado para ouvi-lo no fim de ano da N.A.A.F.I.! O que você espera das festas? Vai continuar no México depois das festas?
Eu estou no meu apartamento olhando através da janela e eu simplesmente estou ansioso para chegar no México. A primeira neve apareceu hoje e a cidade inteira já está coberta. Mal posso esperar pra ver minha família mexicana e darmos uns rolês mais uma vez. Estou ansioso para tocar algumas coisas novas, também. Eu vou ficar na Cidade do México por mais umas semanas após o Ano Novo, eu e a Ghazal vamos tocar em mais algumas festas por lá.
Que legal! E como você começou a falar e conectar-se com a cena do México?
Acho que tudo começou quando eu pus minha primeira produção no Soundcloud, “Jaguar”. A partir daí comecei a ganhar novos followers do México e da América Latina, e também fiz outros amigos através do Facebook, então durante esses anos tenho acompanhado a cena de lá através deles. A alguns meses atrás, quando estava em L.A., eu decidi finalmente ir ao México já que estava tão perto. Então comecei a falar com alguns dos meus amigos e fui para lá. Eu amei demais, com certeza a Cidade do México foi o lugar mais estranho e divertido que eu conheci. Quero muito ir de novo e tentar passar mais tempo por lá.
O coletivo Krysaor parece ser outro grupo de artistas a levar influências latinas à cena do clube no UK. O que você acha deles?
Sou muito fã. Eles estão fazendo algo completamente novo. Tenho repetido a mixtape do Blaze Kidd durante algumas semanas, já.
Sim, e parece que essa onda de reggaton/dembow está ficando cada vez maior, ou apenas ganhando mais atenção da mídia. Por que você acha que isso tem acontecido?
É, tenho sentido isso também. Eu não saberia dizer o porquê exatamente, eu sempre amei dembow mas acho que o moombahton matou a vibe de tudo isso lá atrás. A mesma coisa aconteceu quando o kuduro explodiu, mas tudo isso está voltando agora com mais respeito às suas origens.
Me conta um pouco sobre a produção por trás de cada faixa do EP e quanto tempo levou pra terminá-lo.
“A.M.A.B.” foi feita quando o Zutzut estava aqui em Estocolmo, ele estava fazendo uma faixa com o Gnucci no meu estúdio e eu estava os ajudando. Gnucci começou a falar esse monte de coisa sem sentido e eu apenas me apaixonei pela frase “make a man do anything for me (faço um homem fazer loucuras por mim)”, então criei a música em cima disso.
“Zorna” foi inspirada por essa música de casamentos árabes que eu e meus amigos costumávamos ouvir quando éramos crianças. Eu cresci em uma região muito segregada aqui em Estocolmo onde quase não havia brancos suecos, sério. Então eu tenho amigos de todas as partes do mundo, especialmente árabes. Eu sempre fui curioso pelos seus rituais de casamento e a música que toca nesses eventos.
“Battle Trak” foi feita em três horas. Eu nunca tinha ouvido falar do Al T4riq ou do DJ New Jersey Drone. Nós nos conhecemos através de uns amigos em comum quando o T4riq se mudou para cá vindo da Noruega, e o DJ NJ Drone estava aqui de visita. Nós nos encontramos no meu estúdio e o computador do T4riq tinha acabado de parar de funcionar, então ele trouxe uma flauta. O resto é história lol.
“Descontrol” foi feita quando eu estava no aeroporto indo para o México, na real. O THUMP México tinha me pedido uma mix, e eu senti que eu precisava adicionar alguma produção nova. Eu já fazia ideia de como usar o sample, então o resto aconteceu muito naturalmente.
“How About” foi feita quando o Zutzut estava aqui, também. A Kassandra é uma querida amiga minha e eu já tinha feito música com ela algumas vezes. Nós não tinhamos ideia do que fazer, apenas nos encontramos no estudio e criamos tudo a partir daí. Ela consegue escrever muito rápido e ainda possui uma bela voz, então esperem ouvir mais dela no futuro.
Eu amo como o R&B também parece ser uma grande inspiração pra você, como aqueles remixes da Tweet, Rihanna e Beyoncé. Como você acha que o R&B é visto pela cena eletrônica em geral?
Hmmm, eu nunca tinha parado pra pensar nisso, na verdade. Todos aqueles remixes apenas possuem elementos que eu gosto e alguns outros que eu tinha vontade de mudar.
E quais os planos para o futuro?
Vamos lançar um EP de remixes de No Hay Break no ano que vem. A lista dos remixers é simplesmente incrível. E depois disso vamos trabalhar com alguns artistas locais que queremos dar mais atenção, então pode esperar mais alguns EPs em 2015. Eu também tenho um EP para sair pela N.A.A.F.I. e mais algumas mixtapes na manga. 2015 vai ser show!
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