‘Geral Com o Ruivo’: A corrida de revezamento que uniu cabeleiras flamejantes, avôs, DJs, adolescentes e mascarados


Foto: Guilherme Santana/VICE

A buzina tocou e foi dada a largada na pista de atletismo do Ginásio do Ibirapuera, em São Paulo. Debaixo de um sol de fritar a nuca, dezenas de caras e mulheres uniformizados pareciam empolgados para passar o bastão aos companheiros do outro lado da pista. O clima era mais de festividade do que competição. O que importava, diziam os presentes, era unir o máximo de perfis diversificados para completar a prova “Geral Com o Ruivo”, organizada pelo farmacêutico e atleta amador Roger Freitas, de 27 anos, que tem na cabeleira flamejante seu apelido e marca registrada.


Roger Freitas, o ruivo. Foto: Guilherme Santana/VICE

Roger, o Ruivo, criou a corrida na plataforma Vem Junto, da Nike, com suas próprias regras. Ele queria criar uma situação propícia para juntar uma galera de todos os tipos e idades que curtisse suar a camisa. “A corrida de hoje é revezamento com grupos de quatro integrantes em que cada um tem a meta de correr mil metros somando quatro quilometros por grupo. Depois da bateria preliminar, os cinco melhores grupos se classificam pra final”, explicou Ruivo no início da corrida.

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Apesar desse papo de eliminatória, final e título, tudo não passava de uma manhã de diversão. Havia um DJ que pilhava a galera com hits de rock, hip hop e música eletrônica. Tinha os levinhos e aqueles em busca de leveza, um cara com máscara de homem-aranha, universitários e também representantes da terceira idade. O clima tava tão pra cima que não houve desistências e todos, bem no esquema “junto e misturado”, completaram a bateria preliminar.


Tudo junto e misturado. Foto: Guilherme Santana/VICE

O anfitrião foi o que deu o maior gás na corrida. Ele não queria fazer feio já que levou seus dois irmãos mais novos para mostrar que o atletismo está no DNA da família. “Comecei no atletismo com a ajuda de uma galera que sempre corria em grupo e incentivava muito quem estava começando e foi essa união que me fez gostar das provas de revezamento”, disse Roger. “Foi por causa da força que recebi no início que decidi apresentar o esporte pros meus dois irmãos e, desde então, eles já disputaram algumas provas.”


Richard, Robert e Roger, os irmãos flamejantes. Foto: Guilherme Santana/VICE

E pelo visto o Roger passou direitinho os ensinamentos dentro de casa. Ele e seu irmão do meio, o Robert Freitas, de 23 anos, foram um dos destaques e se classificaram junto de seus respectivos grupos para a final. “Cara, nem acredito que consegui, fui pego de surpresa”, disse o Robert, ofegante e sorrindo. “Assim como o Roger, o revezamento também é uma das provas que eu mais gosto. Lembro dele chegando em casa animadão por causa das corridas e falando para eu ir com ele. Um dia fui em um treino da Nike e conheci um monte de gente diferente e me senti muito bem. Se não fosse por isso eu não estaria aqui e a corrida não faria parte da minha vida como ela faz hoje”, explicou.


A torcida botando pilha. Foto: Guilherme Santana/VICE

No intervalo para a final, a galera recuperou o fôlego e rolou uma divisão de torcida para os grupos finalistas. Nesse meio tempo, o jornalista e atleta profissional Wanderlei Oliveira, que no início da manhã havia puxado um mix de aquecimento zen com aula de história, deu uma palavrinha. “Como eu disse mais cedo, de acordo com a Federação Internacional de Atletismo, a história do revezamento vem do século 18, quando os japoneses criaram essa modalidade para integrar e unir as pessoas, e é exatamente essa proposta que estamos seguindo aqui”, afirmou.


Wanderlei Oliveira puxando o treino com aula de História. Foto: Guilherme Santana/VICE

Aos 56 anos – mas com baita cara de 30 – o Wanderlei não estava lá por acaso. Ele é figura tarimbada na mídia especializada em atletismo e uma grande referência para muitos esportistas do país. Seus números são impressionantes. “Comecei a correr aos seis anos de idade com meu pai, que era jogador de futebol no Corinthians. Quando ele faleceu, eu decidi que iria correr todos os dias do ano. Desde então, há 25 anos, 11 meses e cinco dias eu estou correndo diariamente”, disse, tranquilão. “Nos meus 50 anos de atletismo, tenho catalogado mais de 105 mil quilômetros percorridos.”


Foto: Guilherme Santana/VICE

Papo vai, papo vem, torcida pronta e a buzina toca novamente. Com a adrenalina ainda na veia dos classificados, alguns integrantes disparam. Os quatro quilômetros que cada grupo deve percorrer ficam ainda mais difíceis com o solzão e a fadiga da eliminatória. Mesmo assim, a determinação e a diversidade prevaleceram: no pódio dos três grupos vencedores estavam ambos os sexos, o homem aranha, a terceira idade e os irmãos Roger e Robert. Primeiro, segundo, terceiro lugar, tava na cara de todo mundo ali presente que isso pouco importava. Na foto de despedida, todos saíram no estilo dos campeões.


Foto: Guilherme Santana/VICE

Eufórico depois da prova, Ruivo – que, além de incentivar geral a queimar calorias, também agilizou para que todos levassem um quilo de alimento para doação – fez um discurso bacana de encerramento. “A corrida me abriu oportunidades. Conheci muita gente, pessoas de diferentes etnias e culturas, me agregou muito ao relacionamento interpessoal”, falou. “O que vocês vivenciaram hoje é aquilo que eu sinto quando corro. Cada um de vocês que esteve aqui hoje agora faz parte da minha vida na corrida. Isso aqui vai ficar eternizado na minha memória.”