Muito já foi dito sobre os millennials (aqueles nascidos entre 1981 e 1996) com os anos. Segundos os boomers, somos narcisistas, obcecados com selfies, e não conseguimos comprar uma casa porque torramos nosso dinheiro em torrada com abacate e utensílios de cozinha rosas para o Instagram (e não porque os preços dos imóveis decolaram e nos formamos no meio de uma recessão).
Mas agora parece que a Gen Z (quem nasceu entre 1997 e 2012) também quer palpitar na nossa vida. Numa matéria publicada pela VICE semana passada, o pessoal da Gen Z dizia que só ligamos pra Harry Potter, testes do Buzzfeed e não matar nossas plantas (qual o problema de cuidar de suculentas, hein?) “Eles não têm grandes ideias porque já passou o prazo de validade deles”, disse uma pessoa de 16 anos. “Eu tenho grandes ideias em grandes proporções, mas pra eles, coisas pequenas e simples são tudo.” Essa doeu.
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Mas alguém se perguntou o que os millennials têm a dizer sobre tudo isso? Acho que ninguém precisa perguntar o que os millennials acham de petróleo, guerra e boomers gananciosos, mas o que eles pensam da Gen Z? Perguntamos pra alguns deles.
“NÃO TEM OUTRA GERAÇÃO EM QUE EU CONFIARIA O FUTURO”

Eles são uns folgados, mas pegam pesado. Essa galera é o futuro, física e metaforicamente. Eles vão até o fim, diferente de nós millennials. Não tem outra geração em que eu confiaria o futuro. Então temos mesmo que amá-los e respeitá-los, mesmo quando eles são folgados. Honestamente, eles são confiantes, e cheios de esperança sem os anos de experiência de vida que acabam te derrubando. Não tô certo? – Tayo, 30 anos
“A GENTE BEBIA E CHAPAVA MUITO MAIS NA IDADE DELES”
Não acho que os millennials e a Gen Z são tão diferentes assim. Acho que a diferença é que a gente bebia e chapava muito mais na idade deles, além disso, eles provavelmente estão transando menos porque há outras distrações. A gente transava mais porque éramos adolescentes entediados e bêbados. Nossa ideia de diversão era balada, cocaína e pegação. Mas se você sempre teve celular, talvez tenha menos necessidade de interação na vida real.
Eles são um pouco mais sinceros que a gente também, acho. Eles estão sempre expondo uns aos outros no TikTok, fazendo monólogos pra câmera frontal e threads sobre o que você deve ou não fazer. Acho bom que eles estejam sempre se analisando, mas eles também são bastante sérios. Millennials e humor millennial são muito mais niilistas. A gente é tipo “Tô deprimido, rs”, e eles são tipo “Como curar a depressão: segue o fio”. – Beth, 27 anos
“A GEN Z TEM UM ENTENDIMENTO MELHOR DE COMPORTAMENTO SEXUALMENTE INAPROPRIADO”

Acho que o jeito como a Gen Z usa as redes sociais é muito mais politizado que os millennials. Eles cresceram num mundo onde estão constantemente expostos a questões socioeconômicas e culturais, como as mudanças climáticas e o aquecimento global, o que isso vai significar para o futuro imediato, e o impacto direto da crise econômica, e vários movimentos sociais como o #MeToo, Extinction Rebellion e Black Lives Matter. Você pode dizer que todo mundo estava presente nesses anos formativos da vida millennial, mas nunca me senti tão próxima deles quanto suspeito que a Gen Z se sente, provavelmente por causa do ciclo de notícias e consumo de mídia digital permitidos por coisas como redes sociais e smartfones.
Noite passada, meu namorado e eu tivemos uma discussão relacionada com uma série que estou assistindo, I May Destroy You. Ele acha que a Gen Z tem um entendimento melhor de comportamento sexualmente inapropriado, e tem mais chances de expôr esse tipo de coisa. Ele espera que isso signifique menos casos de assédio e violência sexual no futuro. – Nancy, 32 anos
“A GEN Z PARECE USAR SEU PODER COLETIVO NAS REDES SOCIAIS PARA CRIAR MUDANÇAS SOCIAIS REAIS”

Acho que a grande diferença é que a Gen Z foi a primeira geração a crescer totalmente nas redes sociais e isso, pra crédito deles, os tornou muito mais socialmente conscientes do que está acontecendo no mundo. Se os millennials foram “rebeldes sem causa” quando começamos a usar a internet, a Gen Z parece estar usando seu poder coletivo nas redes sociais para criar mudanças sociais reais – ou só trollar os poderosos. Millennials também atingiram a maioridade, claro, durante uma época de desespero econômico – o mundo para qual treinamos não existia mais quando estávamos prontos pra entrar nele. A Gen Z não teve que lidar com essa descoberta deprimente. Eles já estão imaginando um novo mundo.
Acho que a raiva com os millennials é só aquela coisa de jovens versus a geração mais velha. Mas te digo uma coisa como alguém que cresceu com Harry Potter: a obsessão dos millennials com esses magos do caralho é irritante mesmo. RS. – Stephanie, 29 anos
“ELES SÃO TIPO UMA VERSÃO POKEMON EVOLUÍDO DE NÓS”
Adoro a Gen Z. Eles estão muito ligados nas coisas, política e socialmente, num nível mais profundo num idade mais jovem. Pode ser algo baseado especificamente nos Gen Zs que conheço, mas eles parecem ter uma qualidade imperturbável, e têm um desejo sincero de mudanças e progresso.
No geral, eles parecem mais mente aberta e falam mais sinceramente sobre coisas como sexualidade e saúde mental. Os millennials têm essa vibe “Hehe, tenho 30 anos e não faço a menor ideia do que estou fazendo”, enquanto a Gen Z sempre teve o mundo na ponta dos dedos – a maioria cresceu com smartfones e redes sociais. A Gen Z é realmente os filhos da internet, e eles têm uma energia criada por eles mesmos – especialmente vendo o conteúdo deles no TikTok/YouTube e coisas assim. Eles são tipo uma versão Pokemon evoluído de nós. O futuro está nas mãos deles, graças a deus. – Sophie, 30 anos
“ENQUANTO OS MILLENNIALS GRITAVAM PRO ABISMO, A GEN Z COMEÇOU A SE MOBILIZAR”

Sinto que os millennials ficaram dessensibilizados com críticas e culpam os boomers por coisas desde a economia até a queda nas taxas de natalidade, então qualquer zoeira da Gen Z parece tipo “essas crianças de hoje…”
[A Gen Z] nos deu uma sensação muito necessária de esperança no futuro que estava rapidamente caindo enquanto nossa geração assistia o mundo ser destruído pelo capitalismo. A mudança para direitos humanos básicos, segurança e até a simples necessidade de manter o planeta numa temperatura em que a gente consiga sobreviver parece ser bom senso [pra nós], mas tem encontrado uma posição muito mais agressiva com eles.
Enquanto os millennials gritavam pro abismo, a Gen Z começou a se mobilizar, fazer campanhas e exigir mudanças, basicamente dobrando nossos números e finalmente dando aos millennials a esperança de que realmente temos chance de ver algum tipo de justiça na nossa vida.
Uma revolução sempre vai ser aparentemente impossível. Mas enquanto a Gen Z amadurece, a possibilidade de realmente mudar a consciência global para algo movido por compaixão em vez de ganância, não é mais a filosofia risível que parecia ser apenas alguns anos atrás. – Courtney, 30 anos
“ELES TÊM MUITA COISA PRA DIZER, E AS FERRAMENTAS PRA FAZER ISSO ”

Trabalho com a Gen Z em alguns contextos e como generalização, acho que eles são bem tímidos, insulares e educados. Os protestos Youth Strike 4 Climate de que participei foram apaixonados e polarizados, mas não tão otimistas e sonoros quanto as manifestações contra taxas de que participei em 2010-2011.
A Gen Z é produto da Era da Informação. Eles são “nativos digitais”, têm um vocabulário incrivelmente maior, e são mais engajados política e culturalmente que minha geração era nos 00. A princípio a Gen Z pode até parecer passiva. Mas no fundo eles têm uma conexão e curiosidade nítidas e astutas do mundo. Eles realmente têm muito a dizer, e as ferramentas pra fazer isso. É um privilégio aprender com eles. Talvez essa timidez que encontrei seja por causa da idade e contexto. Enquanto a geração amadurece, e a sociedade se torna cada vez mais dependente da tecnologia digital, mais os zoomers vão se beneficiar e ditar as regras. – Henry, 31 anos
“ELES SÃO MUITO MAIS CONSCIENTES SOBRE SE PROTEGER E EXPÔR ALGO QUE NÃO ESTÁ CERTO”
Fico impressionada com como eles entendem de segurança online. Entrei num Discord que é composto principalmente de adolescentes, e eles tomam cuidado para não usar seus nomes verdadeiros e são vagos sobre onde moram. Quando eu tinha 13 anos, meus amigos davam o número do telefone fixo em fóruns e se encontravam com estranhos no MSN.
Eles são muito mais conscientes sobre se proteger e expôr algo que não está certo, seja alguém no chat sendo sexualmente inapropriado com um menor de idade, ou se envolvendo com o BLM e política. Lembro que eu era apolítica nessa idade. Também adoro ver eles se interessarem pela moda e as bandas que eu gostava quando era adolescente… mas não curto tanto quando eles me chamam de “mãe”. – Rachel, 27 anos
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