Gostámos tanto das fotografias da Neves Estrela que quisemos logo publicar este set de miúdas e comida. No outro dia mandámos-lhe um email para que ela nos explicasse melhor o seu trabalho. A resposta foi esta:
A fotografia surgiu tarde na minha vida, já depois de ter formação académica noutra área, em nada artística. Impôs-se-me uma vontade de fotografar coisas aparentemente banais e insignificantes, mas que, aos meus olhos, eram bem mais belas e merecedoras de atenção do que outras habitualmente elogiadas pela sua beleza e harmonia. A mim, encantava-me a singeleza e a trivialidade dos objectos e das imagens do quotidiano. Revoltavam-me (e continuam a revoltar-me) as imagens perfeitas que retratavam realidades encenadas de uma beleza quase absurda e inexistente à minha volta. E por isso fotografava o oposto. A insignificância e a graça subtil do que me rodeava. Lentamente, porém, dei por mim a querer fotografar pessoas. Corpos, gestos e inseguranças. E, outra vez como resposta às imagens que me invadiam a retina, fotografei do avesso. O avesso da felicidade desmedida e da pseudo-perfeição impressas um pouco por todo o lado. Queria fotos mais honestas e mais reais, que documentassem pedaços de existências doridas na sua insignificância. Daí as fotos de corpos sustentados pelo descontentamento com a vida. É que me agrada fotografar o que muitos preferem não ver.
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