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CCDB – Parte 2

O CCDB, irmão de Arnaldo Baptista e Sérgio Dias, dos Mutantes, é mais louco que eles.

Se você leu a primeira parte da entrevista com o Cláudio César Dias Baptista, sabe o que esperar dessa segunda. Se não, faça o favor de voltar lá e sacar o trabalho do Robert Anton Wilson brasileiro – e aproveita e ainda dá uma olhada no site dele. Além de escritor, o “Mutante Oculto” (como ele se define) e irmão mais velho dos Dias Baptista é artista plástico. Mas diferente do Arnaldo Baptista, que desenha em papel, o Cláudio usa o computador para criar seus alienígenas, e algumas de suas obras ilustram essa segunda parte da conversa. Agora CCDB fala de arte, plágio, o livro e o filme que ele prepara sobre os Mutantes, tecnologia musical (não, ele não aceita encomendas, pode voltar pro site da Tagima, seu tarado por guitarras fã de Steve Vai) e, novamente, sobre por que um editor deveria publicar sua obra. Boa viagem.

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VICE: Você faz uma série de exigências para os editores no seu site, mas ainda não foi publicado. É difícil conseguir transformar um livro, ou projeto, em papel no Brasil?
CCDB: Não é verdade esse "ainda não foi publicado". Eu próprio já publiquei os meus livros para leitura on-line em meu site, na seção CCDB Livros. Essa publicação tapa a boca dos editores e os põem no devido lugar: não somente abaixo do autor, onde devem ficar, mas também abaixo do editor que me tornei com essa publicação. Ela serve, outrossim, para que editores sérios tenham acesso ao livro. Serve de desafio para a quebra do sistema opressivíssimo dos editores sobre os autores, que exigem destes coisas impossíveis: como eu poderia, sem recursos ou até com eles, enviar cópias impressas de Géa a uma editora? São milhares de páginas, e só a leitura integral transmite a Mensagem, que se acha por detrás do texto! Se você ler "California Sunshine" num pacote de pílulas laranja de LSD não saberá o que é uma viagem lisérgica. Pra saber você tem de engolir a pílula e sentir na alma o resultado. Géa é a mesmíssima coisa. Por isso o meu site não pode, nem site algum poderá jamais explicar, o que é Géa a editor ou a futura leitora, futuro leitor algum. Os livros sagrados têm de ser lidos para se saber o que contêm. Géa é um livro sagrado.

E não escrevi somente Géa. O livro chamado ")que(" tem só trezentas e uma páginas e aceito que editores cortem parte do texto - desde que de comum acordo comigo, bem como que reduzam o formato. Isso não aceito em Géa, mas nesse livro e em Geínha - a série infanto-juvenil que os adultos também adoram ler - aceito. O livro ")que(" também contém mensagem, foi escrito de um jato feito Mozart com suas músicas, e a linguagem é a mais acessível de todas. Os editores podem começar com o autor "iniciante" que quiserem, se publicarem o livro ")que(" - isso está ofertado a eles na página de meu site que apresenta esse livro.

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Geínha é uma obra que pode concorrer com O Sítio do Pica-pau Amarelo em todo e qualquer sentido. Não digo substituir (aí, sim, eu seria arrogante!) a obra do mestre Monteiro Lobato, mas concorrer pode e superar também. Para conferir, basta ler! Está no site pra ler, é barato ler e é muuuuito gostoso ler Geínha.

O livro CCDB - Gravação Profissional tem só mil e dez páginas, é um best-seller na versão original (com o que obtive na venda artesanal construí a casa onde moro!) e muito melhor e atualizado na versão atual, escrita em co-autoria com meu filho RDB. Os editores também podem começar com esse livro a publicação em papel impresso deste autor, que não é tão iniciante assim em textos impressos, já que publicou perto de setecentas páginas de seus próprios artigos técnicos entre 1977 e 1987 na Nova Eletrônica, com tiragem de sessenta mil exemplares para todos os países de língua portuguesa, distribuída pela Abril.

Você é um cara que pode ter fama de doidão – ainda mais com a história pregressa dos Mutantes e dos seus irmãos mais novos. Por que (e quando) você largou tudo para tentar viver como escritor? E você fazia todas aquelas invenções musicais fodas, que têm um monte de gringo pagando pau – você ainda tem uma dessas cartas na manga? Recebe encomendas? Não tem saudade de mexer com música? Nunca tive fama de doidão. Pode ser que você me julgue assim, mas fama de doidão é a primeira vez que ouço falar que tenho. Sempre fui a cabeça pensante, o sujeito culto, o místico, o Mutante Oculto. Ser místico não é ser mistificador e muito menos ser doidão. Quanto tomei LSD, bastante jovem, foi para obter a experiência mística descrita em várias obras, como por exemplo em As portas da percepção, de Aldous Huxley - que fala em mescalina, coisa parecida em resultado, embora menos potente, com o LSD.

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Minhas invenções tecnológicas têm o mesmo peso das invenções musicais dos outros Mutantes. Sem tecnologia, música não há, e vice-versa. Ambas as coisas são fases da espiral evolvente da Arte. Quem é mais importante: Stradivarius ou Paganini? Um não existe sem o outro! Minhas invenções tecnológicas são perecíveis, viram coisa de museu, pois a tecnologia é submissa ao continuum espaço-tempo, tal como a Lógica, mãe da tecnologia. Porém, a experiência mística da Iluminação é perene. O testemunho dessa experiência também é.

Foi para testemunhar a minha experiência, de modo a que outros a alcancem mais fácil, que escrevi Géa e até mesmo os outros livros, porquanto o livro chamado ")que(" também possui mensagem. Géa estava até com título em disquetes que eu ia guardando. O livro começou em meus artigos na revista Nova Eletrônica, na década de 70. Quem me inspirou foi Dalgiza (Giza); aí inventei Gia e seu nome aparece nos meus artigos para a NE. Em 1994 veio a experiência do contato inesperado com a entidade incorpórea, sem espiritismos nem quaisquer ismos. Aí veio a certeza de que era chegada a hora de escrever, isso porque eu já estava então de posse de tudo quanto queria saber e queria transmitir. Não teria cabimento escrever uma obra como Géa (e os outros livros que de certa forma a complementam e continuam), se eu tivesse algo incompleto para testemunhar à leitora, ao leitor.

Sobre a continuação da produção dos aparelhos CCDB e até a volta da manufatura das guitarras, isso depende de alguma empresa já estabelecida no ramo de áudio e/ou de instrumentos musicais se dispor a conversar comigo sobre o uso da marca CCDB, registrada no INPI e do meu aval para que relancem esses produtos. Não é coisa para o mais bem-intencionado curioso, iniciante fazer. É preciso capital e tempo para vir aprender o necessário - ainda estou neste corpo físico e posso transmitir o conhecimento a quem eu creia apto a recebê-lo e utilizá-lo. A outros tenho me negado, pois seria perda de tempo e entrega de um cabedal que me levou uma "encarnação" inteira para adquirir - e que ainda tenho comigo na forma de biblioteca em 3D (Autocad) que criei para componentes eletrônicos, circuitos em 3D que criei para os mais recentes aparelhos CCDB, gabaritos, fotolitos e muita informação escrita e impressa.

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Em meu site digo que não respondo perguntas sobre áudio e a seção do site que apresenta o Cláudio artesão é adrede mínima, perante a que apresenta o Cláudio escritor e os livros. Também não aceito encomendas. Faço uma só coisa por vez, para fazer bem feita. Hoje escrevo. E para escrever já me sobrecarrego com o desenvolvimento e o crescimento do meu site, a criação de "looks” no site byMK. E me sobrecarrego também com as entrevistas a jornalistas, com o atendimento aos Leitores e as Leitoras de CCDB Livros. Tudo isso tem atrasado a escrita de novos livros - e já tenho vários programados. Mas tudo isso é indispensável, tal como o Livro Treze à obra Géa.

Não tenho saudade de mexer com "música", pois a ouço todos os dias o dia inteiro. Se se refere à produção artesanal, que é fruto de tecnologia, que é o complemento da música na espiral evolvente da Arte, não tenho a mínima saudade. O que o Cláudio dessa encarnação fazia está para este Cláudio escritor tal qual a boneca está para a mulher que já é mãe de verdade e tem um filho de verdade nos braços. Lembro-me com nostalgia, não com saudade. Saudade maior que saudade tenho descrita na obra Géa, capítulo "Solífugos Olhos". Leia a obra inteira e verá o que a verdadeira Saudade, ou melhor: Sauternidade

Falando ainda de Mutantes, aposto que tem um monte de jornalistas e de curiosos em geral que ficam te enchendo o saco com perguntas sobre o grupo. No site, você diz que tem um livro escrito em inglês sobre a banda que você fundou, e que você está ajudando um gringo a fazer um filme sobre o grupo. O que falta para o livro sair? E o filme, vai rolar? Você não cansa de falar da história dos Mutantes e do bando de viúvas que fica tentando ressuscitar a banda e relembrar disso?
Sim, escrevi We, Mutantes sobre nós, Mutantes. Sim, estou ajudando o meu amigo Jeff McCarty a criar o filme Bread & Circuses sobre nós, Mutantes. Mas se ajudo Jeff, a ponto de ele me dizer que porá meu nome nos créditos INICIAIS do longa-metragem, em vez de nos créditos finais que quase ninguém lê, meu irmão caçula atrapalha. Sérgio não aceita me ver em posição superior e negará o que eu disser e destruirá o que eu fizer, para não me ver acima dele. Ao escrever We, Mutantes, não me pus acima; sim, no mesmo nível, no status de Mutante, porque, como afirmei, tecnologia é tão importante quanto música e, sem minha tecnologia, "Los Mutas nunca teriam saído do quintal da Rua Venâncio Ayres", como afirma Rita Lee. A prova de que Sérgio não aceita me ver em destaque é não só ter colidido de frente com o roteiro que Jeff e seu co-autor Steven Kedrowsky criaram e comigo desenvolveram, como a não-autorização de que eu publique o livro We, Mutantes, porque leu nesse livro, capítulo sobre o automóvel Lorena que eu pintei para ele, coisas que eu não escrevi, não subentendi e nem sequer insinuei. Para o filme sair, falta o Jeff obter financiamento e falta Sérgio, Lucinha+Arnaldo e Rita Lee aceitarem o roteiro - portanto, falta algo que talvez jamais ocorra. We, Mutantes foi escrito por sugestão do Jeff, para ser lançado com o filme supramencionado. Relutei em aceitar a sugestão de Jeff, pois já descartara sugestões repetidas anteriores para que escrevesse um livro sobre Os Mutantes (ou Mutantes), feitas pelo próprio Sérgio - eu sabia que Sérgio encrencaria com muita coisa, senão com tudo, e isso me faria sofrer - eis um dos motivos para que eu não tenha "saudade" daquele tempo, que me custou muito trabalho, tempo, dedicação, dinheiro e sacrifício, que fiz de boa vontade e sem intenção de receber pagamento em dinheiro, mas que nunca foi reconhecido pelos outros Mutantes e que foi até mesmo escarnecido. Jeff me convenceu e acabei escrevendo, já sabendo o que ocorreria, mas para atender o amigo.

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Escrevi um livro de puro amor, uma obra de arte, que em nada parece com os que já escreveram sobre nós, Mutantes. Como disse Jeff ao ler We, Mutantes, sou um "insider" e os outros que escreveram sobre Mutantes são "outsiders". Eu não só me canso de falar na nossa história de Mutantes, como evito falar. Não depus para o documentário sobre meu irmão do meio [Loki, de Paulo Henrique Fontenelle], Arnaldo, porque ele sofre com o assédio de jornalistas e fãs, que só querem reviver o velho Arnaldo de antes do salto para a morte, donde nasceu o novo Arnaldo. Fazem o mesmo ao quererem ressuscitar o velho Cláudio, porque este era útil a todos do jeito que todos conheciam! Só que o novo Cláudio não se atirou da janela de um hospital nem teve o cérebro afetado: estou melhor, remelhor, ao pé do velho Cláudio. Por isso tenho de ter prioridades, e a atual se centra nos meus livros. Também não depus no documentário sobre Arnaldo porque nem ele, nem Lucinha, nem Sérgio nem Rita me autorizaram a publicar We, Mutantes. Eu teria de citar isso no depoimento e não quis comprometer esse documentário com recriminações - não foi, portanto, para "pagar na mesma moeda".

No seu site sempre tem uma série de avisos sobre permissões de imagens, registro das suas obras, além de uma seção onde você analisa as semelhanças entre as suas obras e obras de outros autores. De onde vem toda essa preocupação em registrar as coisas? Você tem medo de ser plagiado?
"Só não têm medo Deus e o louco", está escrito em Géa. Porém, não tenho esse medo que você menciona, o de ser plagiado. Tenho, isto sim, o que todos têm quando são proprietários de algo: o devido cuidado para evitar furtos e roubos. Não tive medo do assalto que aconteceu em nossa casa no ano passado, nem do assaltante. Minha resposta a este me podia custar a vida, mas eu o enfrentei porque tinha objetivo maior que eu. Foi fácil! E no fim, tudo acabou melhor para nós aqui do que se eu me houvesse submetido. Tenho, isto sim, uma coragem infinita. E coragem só tem quem tem medo.

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Por outro lado, abri uma página em meu site chamada “Nem plágio nem coincidência”, onde aponto semelhanças entre meus trabalhos e o de outros autores. Atribuo à ligação possível entre as mentes de todos os homens o fato de uns pensarem a mesma coisa que outros e vários produzirem trabalhos similares, sem manterem qualquer contato por meios físicos, diretos ou indiretos (pessoal ou pela telecomunicação).

Sobre plágio e antropofagias in se, claro que não gosto, pois um criador eu sou! Mas não gosto que copiem obras de autor algum, não apenas as minhas. Não existe um contexto pessoal nessa postura; sim, um repúdio ao que muitos vêm fazendo e cada vez mais no planeta, produzindo livros, filmes, canções e tal que são colchas de retalhos. Alguns defendem que esse é o único jeito de se reapresentar obras antigas - e minha resposta a esses se acha na obra Géa, capítulo "Iniciações". Criatividade se tornou moeda rara hoje em dia e desrespeito pela produção alheia é coisa banalizada e até tida em alta conta. Quem põe a boca no mundo contra os plágios e as cópias, os furtos, os roubos descarados, é recriminado, e se estava indo bem nas paradas de sucesso, tal sucesso decai.

Além da quantidade gigante de textos no seu site, você colocou um monte de ilustrações que têm a ver com os seus livros e que, pelo que eu entendi, podem ser publicados junto com a versão impressa deles. Mas eles são feitos no computador, misturando umas técnicas de modelagem 3D muito antigas, é o tipo de coisa que daqui uns vinte anos vai ser retrô. Você pretende atualizar eles, fazer algo que tenha umas imagens mais modernas?
Se você me honrasse com a leitura de Géa, veria nas páginas introdutórias, antes de iniciar o texto, que rendo homenagem a Gustave Doré. Como não tenho um Gustave Doré para ilustrar Géa (que supera de longe a Divina Comédia de Dante e também a obra musical homônima dos Mutantes), ilustrei-a eu mesmo. Claro que, num computador da Idade da Pedra, minhas ilustrações não se podem comparar com o que se vê nos filmes de produtores endinheirados, como Hulk e Spider-Man, que pagam as grandes empresas de computação gráfica, repletas de máquinas de última geração, de profissionais excelsos e de programas incrementadíssimos. As técnicas de modelagem em 3D que utilizo não são "muito antigas" não. O 3D Studio MAX é um aplicativo poderosíssimo e atualíssimo. O que é da Idade da Pedra é o computador onde utilizo esse aplicativo. Sei usar a mais alta técnica do 3D Studio e do Maya, mas não posso simplesmente empregá-la num computador com apenas 2MB de RAM e um CPU Pentium D com 2.8GHz! Isso, é o que tenho HOJE. Quando comecei a ilustrar os meus livros, meu computador rendia menos de um centésimo, comparado a esse.

Há ilustrações de meus livros em sites estrangeiros também, capturadas sem autorização minha em meu site, e fazendo sucesso. A face de Talia é um exemplo, com os fios de cabelo individualizados, técnica das mais recentes, mesmo nas produções cinematográficas endinheiradas.

Eu não pretendo atualizar as ilustrações que fiz para meus livros, porquanto servem tal como estão! Elas revelam a evolução de minha técnica e de meus computadores ao longo dos livros que fui ilustrando. Elas são parte da história da vida do escritor Cláudio César Dias Baptista. Tenho oferecido aos editores que pretendam publicar-me os livros em papel impresso que o façam com ou sem ilustrações. Estas podem ser as minhas ou de ilustradores profissionais, pagos pelo editor. Tenho um "manual" manuscrito por mim com mais de cem páginas, cheio de desenhos feitos por mim com canetas esferográficas coloridas, que criei para servir de base a tais futuros ilustradores - e foram a base que segui para criar as minhas ilustrações.

Sigo um plano muito bem feito para a publicação de meus livros em papel impresso. Tenho recusado ofertas de ingressar (grátis, um brinde no meu caso) em sites que divulgam obras dos escritores aos editores. Não quero intermediários, por mais gentis que pareçam, entre mim e o editor sério que me publicará os livros em papel. Sites assim são em verdade um meio extra de domínio do editor sobre o autor. E autor existe sem editor; não, editor sem autor. Eu sou a prova cabal dessa Verdade.

Leia aqui a primeira parte da entrevista.