Neste Dia dos Namorados 2015, a VICE entrevistou pessoas com mais de 50 anos para falar sobre amor, paixão, casamento e separação. Sidney tem 53 anos e está no sétimo matrimônio. Seu namorido é um novinho que se monta de mulher para trabalhar em festas noturnas. Beatriz tem 86 anos e hoje vive para cuidar do marido, um ex-enfermeiro que sofre do mal de Alzheimer. O sociólogo Dória tem 65, casou-se três vezes e acredita que a paixão é uma “doença da alma”. Se você está em num relacionamento, aí vão dicas de gente experiente. Agora, se você está solteiro e triste com isso, não se estresse. Tenha em mente o exemplo da cantora Gretchen, que juntou as escovas de dente 17 vezes. É a prova cabal de que o amor e a vontade de dormir de conchinha todas as noites existe mesmo e de que tudo pode acontecer nessa vida. Enquanto isso, suspire com as entrevistas abaixo.
Carlos Alberto Dória, 65 anos, sociólogo
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VICE: Você é casado ou namora?
Carlos Alberto Dória: Não sou casado nem namoro.
Mas já casou e namorou?
Já casei três vezes e namorei incontáveis vezes.
Em todas as vezes, você se casou achando que seria pra sempre?
Nunca tive essa fantasia. Nunca me casei oficialmente também. É da condição humana nada ser pra sempre. O que muda é a atitude diante da percepção do fim. Evidentemente que, na geração dos meus pais, o casamento era pra sempre. Portanto, a ruptura é um trauma muito grande. Na minha geração, a grande conquista era o amor livre. Ou seja, a provisoriedade dos vínculos.
O que é amor?
Eu acho que é a simpatia que pode haver entre dois seres humanos no seu ápice. São vínculos de todo tipo: sexuais, vínculos de afinidade intelectual, cultural. Eu chamaria essas coisas de amor, diferente da paixão.
E o que é a paixão?
A paixão é uma doença da alma. É você perder a razão por causa do amor.
Como você vai passar o Dia dos Namorados?
Com indiferença. Não vou ao shopping, não vou ao restaurante. Não quero nem saber. Vou tratar com amor por mim mesmo.
Sidney Oliveira, gerente comercial e DJ, 53 anos
VICE: Você é casado?
Sidney Oliveira: Sim. Há cinco anos. Ele tem 25 anos.
O que vocês vão fazer no Dia dos Namorados?
Eu vou discotecar amanhã. Vamos comemorar juntos.
Você é DJ também?
Quando dá. Né, querida?
Qual é a sua experiência com amor?
Eu tô no meu sétimo casamento.
É uma coisa meio Fábio Junior?
Não. Foram casamentos relativamente longos. De quatro, cinco anos. O máximo que fiquei junto foi sete anos.
As pessoas te criticam ou fazem piada?
Não. Quem me conhece, sabe que sou uma pessoa casadora. Tô casado desde os 20 anos de idade. Agora, sou casado com um menino mais novo.
Casamento nunca é muito fácil. Às vezes, você tem vontade de jogar a pessoa pela janela. É conviver, saber aceitar as diferenças.
O que vocês gostam de fazer juntos?
A gente gosta de fazer tudo junto. É um relacionamento bem gostoso. Saímos pra jantar, pra beber, vamos pra boate. Meu namorado se monta. Ele tá num ponto entre se montar e virar trans. Ele faz porta de festa. Aí, quando ele vai se montar, fico meio do lado. É festa moderna, mas sempre vai ter algum filho da puta que vai querer mexer. Quando você fica mais velho, vai cuidando mais da pessoa.
Você sempre foi casado com homens?
Já tive três casamentos com mulher.
Você é gay ou bi?
Gay. Tenho um filho e um neto. Fiz um filho com 20.
E sua família?
Minhas sobrinhas ficaram confusas quando casei com uma mulher. Falaram “Mas o tio não era gay?”. Eu sou uma pessoa exótica. Não tenho atração por mulher. Meus relacionamentos com mulher foram esporádicos porque eu me apaixonei. Eu gosto de menino.
Você tem cachorros?
Tenho dois schnauzers: Zooey, que nem o filho do David Bowie, e a outra se chama Channel. Muito gay… [risos]
Todas as vezes que você casou, achou que era pra sempre?
[Respira fundo] A pergunta de um milhão… não. Sei que tudo tem um limite. Pode durar a vida inteira, pode durar o tempo da sua vida. Não espero que nada dure pra sempre porque a vida não é eterna.
Beatriz Sobreira, aposentada, 86 anos
VICE: A senhora é casada?
Beatriz Sobreira: Conheci meu marido no Dia dos Namorados, em 12 de junho de 1959. Casei um ano depois. Uns amigos nos apresentaram na festa da firma em que eu trabalhava. Meu marido falou assim para um rapaz que trabalhava comigo: “Me apresenta aquela menina?”. E meu amigo disse que eu era pra casar. Meu marido respondeu: “Com ela, eu casava”.
Acho que o destino é muito forte. Ele é danado. Estou com 55 anos de casada. Só que meu marido tá com Alzheimer há seis anos, coitado. Eu cuido dele como uma criança.
O que acha do casamento?
Casamento é uma maravilha.
Na época do namoro, vocês tinham algum passeio preferido?
Meu marido é enfermeiro. Ele morava no Largo do Arouche e eu, aqui na Mooca. Ele vinha me ver, tinha de tomar condução. Ele estava sempre cansado e com sono. Sempre foi muito esforçado. Teve uma vida brilhante. Eram uns passeinhos muito pequenos. Depois de muitos anos, viajamos bastante.
A senhora tem filhos?
Tenho dois. Queria ter tido três, mas meu marido achava que eu estava muito velha para o terceiro. Eu tinha 30 anos. Que idade você tem?
Vinte e nove.
Com essa idade que eu casei. Mas não tenha pressa.
Qual conselho a senhora daria aos jovens? O que é importante pra manter um relacionamento saudável?
Acho que todo mundo procura ser feliz. O importante é se entender. Peço que Deus ilumine os jovens, que encontrem quem eles realmente gostem.
Desculpa… tenho pouco conhecimento. A gente vive mais pensando na casa, em doença, remédio, essas coisas. [risos] Deus abençoe você. Não tenha pressa de casar, mas se valorize. E que Santo Antônio de Pádua nos proteja. Que Santo Antônio, o padroeiro dos casamentos, faça você feliz e faça você encontrar a pessoa que você tem em mente. Bom fim de semana! Fique feliz.
Eita! Pra senhora também. Obrigada, Dona Beatriz.
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