Muito se diz por aí que o Rock in Rio 3, que rolou no já longínquo ano de 2001, foi a última grande edição do festival. O lineup apinhou artistas na ascendente (Foo Fighters e Queens of the Stone Age), retornos aguardados (Axl Rose + GNR e Bruce Dickinson + Maiden), gente no topo da carreira (Red Hot Chili Peppers e Britney Spears) e nomes clássicos inéditos no Brasil (R.E.M. e Neil Young).
O festival também guardou algumas descobertas surpreendentes. A primeira é a de que passar 13, 14 horas exposto à terra batida produz meleca de nariz preta. A segunda é que acumular duas centenas de milhares de seres humanos sob o sol de 40 graus do verão carioca resulta num cheiro muito próximo ao de um aterro sanitário. Cada um ali parecia ser um embalixo de 50 litros com a capacidade máxima atingida.
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Em termos musicais, a grande surpresa aconteceu no último dia de rolê. Diante de 250 mil pessoas, uma banda brasileira relativamente desconhecida foi o destaque do dia que havia sido preparado para ser o principal de todo o festival. A escalação do dia 21 de janeiro tinha Red Hot Chili Peppers (bombadaços com o disco “Californication”) e Silverchair (estourado nas FMs com as pentelhaças “Ana’s Song” e “Miss You Love”). Só que a primeira fez um show bem meia bomba e decepcionou. Já a segunda partiu para um lance desleixado, que tornavam mais atrativas até as lasanhas comercializadas a R$ 15 (salário mínimo da época R$ 180) nas lanchonetes do festival.
Assim, coube ao Diesel, banda formada quatro anos antes em Belo Horizonte, conquistar a plateia. Foi um show bombástico e energético — pouco mais de 20 minutos que não deixou um cristão desamparado. Era possível ouvir até as pessoas gritarem o nome do grupo no intervalo das canções. Duvida? Confira comigo no replay:
A história parece incrível, considerando que o Diesel ganhou a vaga para tocar no palco principal via “Escalada do Rock”, um concurso de bandas ao estilo “Superstar“, mas sem Fábio Júnior e Daniela Mercury.
A mistura de fúria com melodias, obrigatória no manual do pós-grunge, ornou bem com o roqueiro brasileiro (de forma geral, essa fórmula foi tão bem recebida por aqui que hoje vivemos o fenômeno do tiozera grunge). Além disso, um problema no final da apresentação amplificou o nome do Diesel. Houve uma confusão na portaria da Cidade do Rock e o Corpo de Bombeiros pediu para a banda encerrar o show, pois havia o risco de pisoteamento. E isso era real. Eu cheguei quatro horas antes do Diesel pisar no palco e vivi um fenômeno curioso. Na entrada, perto das catracas, estava tão apertado que tirei os dois pés do chão e, surpresa, continuei de pé. Isso, claro, só piorou ao longo da tarde. No fim das contas, a intervenção dos bombeiros fez com que o nome do Diesel fosse parar no Jornal Nacional e nos principais jornalões da época.
Com tamanha energia e um gostinho de confusão, parecia que nascia ali a principal banda brasileira da década que se inaugurava. Nada indicava que dezesseis anos depois, encontraríamos Gustavo Drummond, 40, vocalista e líder daquela turma, como o encontramos atualmente: abaixo da superfície do underground nacional com uma banda que não tem pretensão alguma de criar novos heróis para o rock brasileiro.
“Todo músico que se lança nesse desafio de compor e de tentar colocar sua história em forma de música está em busca de uma certa singularidade. A sensação que a gente tinha é a de que a gente brincava com essa mágica de tão espontânea que ela vinha. O show do Rock in Rio, de uma certa forma, foi a cereja do bolo de um período. E, ao mesmo tempo, era o começo de uma nova fase que a gente pensou que iria se inaugurar”, diz ele.
Só que para entender onde Gustavo está é preciso saber por onde ele passou.
VIDA DE IMIGRANTE
Teve mais gente que achou que o estrelato aguardava aquele quarteto com apenas um disco lançado de maneira independente. As grandes gravadoras, como a Sony, sondaram os caras. Gustavo lembra que ainda durante o Escalada do Rock recebeu das mãos de Tom Capone, conhecido diretor artístico da Warner Music, um cartãozinho escrito por ele de próprio punho: “É SÓ TOCAR EM PORTUGUÊS”. Capone, que produziu dezenas de artistas brasileiros, morreu em 2004 em um acidente de moto nos EUA.
Só que Gustavo e trupe não estavam nessa pegada. Eles sentiam uma revolta generalizada com o cenário musical brasileiro — desde o que tocava nas rádios até às condições encontradas no cenário independente, como precariedade de lugares e de instrumentos. A aquela altura, a proposta de tocar em português era uma baita ofensa para os caras.
O lance deles era seguir os conterrâneos do Sepultura e fazer carreira no exterior. “No Brasil rola aquela coisa da chancela [estrangeira]. É preciso primeiro ver algo rendendo frutos no exterior para que finalmente o brasileiro aceite aquilo. É assim até hoje e tínhamos isso muito claro”, diz ele.
E assim foi: em setembro de 2001, o Diesel embarcou para Los Angeles — o show de despedida foi tão intenso que, no dia seguinte, centenas de fãs acompanharam os músicos até à rodoviária de Belo Horizonte, que seria o ponto de partida da jornada até à Califórnia.
Chegando lá, os caras encarnaram aquele tipo tão amado por Donald Trump: o imigrante humilde que se fode bastante. Os quatro integrantes (além de Gustavo, estavam na parada o guitarrista Leo Marques, o baixista TC e o baterista Jean Dollabela — aquele mesmo que tocou no Sepultura anos depois) não tinham grana e nem atendiam os requisitos burocráticos para um contrato de aluguel. A solução foi alguar uma van. Na verdade, comprar uma. Eles juntaram os trocados que tinham, cerca de US$ 700, e compraram uma Plymouth Voyager do fim dos anos 1970. Largado na rua, encontraram um colchão surrado que virou cama. Sim, a nova casa do Diesel na Califórnia era um carro velho. O banheiro eram garrafas de plástico.
Os novos empregos também tinham pouco glamour: lavar carro, vender sapatos e entregar pizzas. Gustavo ficou com a última função e diz que vez ou outra fazia delivery enquanto os companheiros de banda dormiam no fundo da van-casa. Esse cenário é comum entre artistas independentes americanos, principalmente nos grandes centros — a chance do seu garçom em Nova York ser ator, músico, escritor ou artista plástico é gigantesca. Porém, parecia uma situação pouco provável para uma banda que meses antes ganhava destaque no principal festival de música do Brasil.
Como já parecia ser o padrão para o Diesel, a chegada ao mercado musical americano também foi meteórica. O belíssimo cartão de visitas conquistado no Rock in Rio fez com que a banda fosse sondada por diversos selos e gravadoras. Clive Davis, um dos principais diretores artísticos dos EUA, se apaixonou pelo som dos brasileiros. Puxa a Wikipédia do homem aí e você vai ver que ele trabalhou com gente que vai de Aerosmith a Alicia Keys. Davis havia acabado de fundar sua própria gravadora, a J Records, e ofereceu um contrato de respeito para a molecada.
Dois meses após chegarem aos EUA, o Diesel estava de contrato assinado com a mesma gravadora da Alicia Keys e do Maroon 5. Vida zerada, certo? Porra nenhuma.
“Hoje, olhando em retrospecto, eu vejo como um erro ter assinado com a J Records. A gente era uma banda brasileira que não estava disposta a jogar o jogo de se encaixar na estética radiofônica americana”, crava Gustavo.
Além da grana (que permitiu que os quatro saíssem da van e fossem morar num casão/estúdio em San Fernando Valley), o vocalista fala que o plano de carreira era tentador: estrutura, turnê, vídeos e investimentos para colocá-los no patamar de qualquer banda americana do mesmo estilo. Em 2002, eles caíram na estrada abrindo para Jerry Cantrell, do Alice in Chains. E logo vieram as gravações do disco sob a batuta de Matt Wallace, produtor de discaços como King for a Day do Faith no More e Chaos A.D. do Sepultura, fora os trampos de mixagem, que incluem até “Nevermind” do Nirvana.
A ideia era refazer o disco do Diesel com melhor qualidade e acrescentar duas ou três canções novas. Mas, logo, os problemas começaram. Primeiro, a grife italiana Diesel apertou os caras para que mudassem de nome. Do contrário, eles não poderiam vender nenhum produto, especialmente roupas. Assim, virou fumaça o nome que conquistou o Rock in Rio. Em 2002, o Diesel virou Udora.
Em seguida, os caras começaram a sacar a barca furada na qual tinham se metido. “A primeira coisa que a gente escutou de um dos executivos quando fechamos o contrato foi: ‘Vamos vender muito disco agora!’. Ele podia ter dito, ‘vamos fazer arte’”, lembra Gustavo. Começava ali uma pressão quase diária para compor hits radiofônicos — a canção “Drain”, vista por Clive Davis como o hit da banda, não era suficiente.
Sob essa ótica, o disco com Matt Wallace foi vetado e arquivado pela J Records por não apresentar viabilidade comercial (eventualmente o disco surgiu no YouTube, sem master e com a mix original). Eles foram forçados a procurar outro produtor, um que pudesse os transformar numa espécie de Nickelback latino. O trabalho caiu nas mãos de Bob Marlette, que tem currículo menos estrelado do que Matt Wallace, mas que acumula trabalhos com bandas de pós-grunge e new metal. O Udora trabalhou em quatro sons com o cara. Novamente, a J Records odiou.
Àquela altura, os executivos já estavam de saco cheio de esperar e também sentiram que, talvez, não teriam retorno no investimento. Depois de dois anos, o contrato foi encerrado e o Udora estava de volta ao underground.
“Se a gente tivesse optado por um plano mais modesto, talvez, a gente tivesse mais longevidade e, sobretudo mais liberdade. Para ser bem sincero, o final do contrato foi um alívio enorme porque a gente finalmente iria poder fazer o que quisesse e não teria que se submeter aos mandos e desmandos da J Records”, diz Gustavo.
CORRENDO ATRÁS
A grana da J Records segurou a onda dos caras por um tempo, mas não evitou que todos voltassem aos restaurantes e lava-jatos. A missão agora era retomar o tempo perdido e lançar material novo. Nesse período, a vida na gringa já havia operado mudanças na visão de mundo do Diesel. A raiva foi dando lugar à percepção de que para voltar ao mercado algumas concessões deveriam ser feitas. Finalmente, eles haviam topado jogar o jogo (“com dignidade”, ressalta Gustavo) de alimentar o sistema com hits.
Em 2004, o produtor Thom Russo, especialista em artistas latinos, topou bancar o novo disco do Udora, que demorou um ano para ficar pronto. Nascia assim o “Liberty Square”, que mesmo lançado de maneira independente, deu um gás para a carreira deles. Rolaram aparições na TV e trilha para a ESPN com a música “Beautiful Game”. E o que acontece quando uma banda muda de pegada? Tem Zé Ruela para chamar ela de “vendida”.
“A mudança foi natural. O universo lá [nos EUA] é esse. Quando você está inserido naquilo todo dia, você vai gradativamente mudando o seu pensamento. As razões para criar tanta animosidade não existiam mais. Essa análise, como muitos fãs fizeram, era rasa, simplória. É muito mais complexo do que isso. Passei a ter outros amigos, outra realidade. Passei a frequentar outros lugares, a fazer outras amizades. Então, é óbvio que a música vai refletir isso. A gente via uma diferença cultural. O brasileiro se identifica muito mais com o álbum do Diesel. Em contrapartida, o americano ama a fase Udora”, defende-se.
Para ele, o trampo é o disco que a J Records não teve paciência para esperar.
Só que os dias de glamour tinham passado definitivamente. As turnês voltaram a ser na raça, no banco de trás da van, na base da parceria com outros feras do underground. E o expediente profissional continuava sendo duplo, mezzo rockstar, mezzo peão assalariado. Nessa época, o vocalista trabalhava numa fabricante de acessório de games.
No final de 2005, a vida dupla dura mais as dificuldades do mercado, além de uma pitada de saudade do Brasil, começaram a minar as forças da banda. As relações estavam desgastadas e o sangue nos olhos tinham dado lugar a lágrimas desesperadas por regresso. A tampa no caixão da empreitada americana para o Gustavo rolou após uma negociação frustrada com um selo da Flórida. Os caras nunca disseram que “não”, mas também nunca deram o “sim”.
“Nos EUA, acontece algo muito desagradável na indústria fonográfica. Eles nunca te dão um não. Então fica uma enrolação, que, se você não ficar esperto, vai rolar durante anos. É uma cenoura na ponta da vara de pescar que eles colocam na sua frente, e ela nunca chega. Isso vai frustrando.”
Depois de cinco anos e 250 shows, o Udora estava de malas prontas para voltar ao Brasil. A ideia de um “novo Sepultura” estava enterrada.
READAPTAÇÃO
De malas prontas para o Brasil, Gustavo topou cantar em português. Era a forma de tentar emplacar no mercado nacioneba, além de botar um ponto final na aventura gringa. Em um surto criativo, compôs 30 canções em cerca de 20 dias.
Mas a aquela altura, não era apenas o idioma que havia mudado. O Udora já tinha perdido dois de seus membros (Jean Dolabella e TC) e a sonoridade do grupo estava mais adocicada, flertando com o pop. Era uma nova banda, que não trocou de nome — um erro, segundo Gustavo.
“A ideia era fazer uma banda nova, com outro nome, mas o Thom Russo falou: ‘vou te dar um conselho já que você tá voltando para o Brasil: use o mesmo nome. Não é fácil construir o que vocês já construíram com o nome Udora’. Aquilo ficou na minha cabeça e embarquei nessa ideia”, conta.
Claro, isso alienou mais uma leva de fãs, mas não brecou a caminhada dos caras. Em 2007, eles lançaram de maneira independente “Goodbye Alô”. “Quero te ver bem” foi parar na Malhação, o que rendeu um contrato com a Som Livre. A gravadora relançou o disco em 2008 e, no ano seguinte, emplacou outro som, “Pelo Menos Hoje”, na novelinha adolescente.
“Foi o disco mais odiado pelos meus fãs tradicionais, mas foi o que mais rendeu frutos do ponto de vista comercial. Eu finalmente tive um pequeno aroma do que seria o sucesso nos termos tradicionais.”
Nesse período, Gustavo finalmente conseguiu viver apenas de música. Eles caíram no circuito de shows e a entrada de royalties referente aos sons da Malhação permitiram que ele comprasse seu primeiro apê em BH. Mas, como diria Kurt Cobain em uma de suas melhores músicas, “A angústia adolescente pagou muito bem e agora estou chateado e velho”. As coisas mudariam muito novamente para Gustavo.
CABRA DIPLOMADO
Ao virar um trintão, o vocalista foi sentindo aquele dilema que afeta boa parte dos músicos independentes: continuar dando cabeçada na parede ou buscar um emprego para ficar de boa até morrer? Ele já tinha pedido música no Fantástico por abandono de curso universitário (largou no meio do caminho engenharia civil, psicologia e belas artes), mas decidiu tentar pelo menos mais uma vez tornar-se um cabra diplomado. No meio de 2008, ele prestou vestibular para direito e passou em primeiro lugar na Faculdade Milton Campos.
“O meio musical, de certa forma, era emburrecedor. Os papos são sempre iguais, as conversas são sempre rasas, o linguajar é pobre, a questão da erudição é baixa. E, no intuito de assegurar alguma forma de segurança e previsibilidade para a minha vida (sabendo que a juventude, um componente essencial da música, não iria durar para sempre), concluí que tinha que levar um curso universitário para frente”, diz.
O cara, que antes tinha cabelo vermelho e se matava no palco, agora estava apaixonado pelo ambiente universitário. Era o que ele precisava para se livrar da mesmice do mundo musical. Tiozão da sala, ele se relacionava bem com os professores e, de quebra, ainda tinha um colega ou outro para lembrar daquele maluco do Rock in Rio.
No meio de 2013, o líder daquela que poderia ser a maior banda brasileira dos anos 2000 virou doutor advogado. Daí você pensa: “Bom, o cara deve ter uma puta frustração. De rockstar para um tiozinho de terno e gravata deve bater uma bad”.
Evidentemente, não podemos saber o que se passa dentro da mente e do coração do cara, mas o tom de voz ao tratar do assunto transmite muita serenidade, com a voz calma e a leveza de quem lida bem com a própria história. Cheguei a perguntar qual religião deixava ele tão de boa, mas ele disse que não segue nenhuma, apesar de ter espiritualidade.
“Quando parei de vivenciar os altos e baixos da música, aquelas questões que começam a ameaçar o seu emocional, que te colocam até fora de si… Às vezes você começa a pensar ‘por que aquele cara tá fazendo isso e aquilo e eu não tô?’. Aí você entra numa viagem absolutamente auto-destrutiva, porque está misturado com frustração e a crença de que você tem algo especial que não está sendo reconhecido. O direito me libertou disso e isso me deixou muito feliz, muito completo. Eu consegui compartimentalizar a minha vida e experimentar a palavra sucesso não nos termos tradicionais, de ser adorado por milhões de fãs. É um sucesso sob o prisma de ter uma família linda, de ter uma esposa maravilhosa, de ter uma filha que é a razão da minha vida, de morar numa casa bonita…”, conta.
Para atingir esse patamar, Gustavo seguiu a cartilha deixada por Machado de Assis a todos que querem fazer arte no Brasa: vire funcionário público. Apenas alguns meses após atuar como tributarista em um escritório particular, ele prestou e passou em um concurso público em MG. Foi convocado em agosto passado, e, no último mês de fevereiro, virou o gerente jurídico da firma.
“No momento que eu senti que a minha vida estava ordenada, decidi voltar para a música”.
A VOLTA
Isso aconteceu faz pouco tempo. No fim de janeiro, Gustavo apresentou seus novos sons para o mundo, com elementos que remetem ao Diesel e ao Udora. Mas não repetiu erros do passado. A banda tem um nome novinho, mesmo contando com Daniel Debarry (da fase final do Udora) no baixo. Chama-se “Oceania”, e conta ainda com Tulio Braga na batera.
O trio soltou um EP com quatro sons, que servem de aperitivo para os próximos trabalhos da banda. Sim, você leu no plural, pois a turma promete dois discos com 10 sons cada para o futuro próximo. O primeiro deles, já batizado de Beneath the Surface, está prestes a ser lançado — já teve a capa revelada e ganhou o primeiro clipe, para “Disappear”.
É pós-grunge amadurecido, com letras filosóficas, que deve agradar os fãs das antigas. Mas, qual é a do cara, agora que ele tem emprego estável?
“Se a música não tem que pagar as contas, isso é uma libertação difícil de explicar”, diz ele. Ou seja, o Oceania tem a missão apenas de dar vazão criativa aos seus integrantes. Segundo ele, a pretensão da banda só vai até a partida do trabalho ao mundo — ou seja, existe apenas o desejo de realizar um trampo bem feito, com boa produção e boas composições. A pretensão em relação aonde isso pode chegar é zero.
Ele afirma que não fará esforço algum para que a banda seja ouvida por um grande número de pessoas ou para que chegue nos caciques da mídia cultural nacional. E o mesmo serve para shows. Para ele sair de casa, o lance terá que ser muito bem organizado.
Soa como papo de tiozão que tem aquela banda de hobby, tocando aos finais de semana para os parças bêbados do moto-clube, certo?
“A minha vocação original é fazer música. Mas, no momento que você tenta fazer com que a música responda a anseios de ordem pragmática, de ordem sustentável, você passa a ter um problema. Eu agradeço ao direito por ser o meu hobby, mas é um hobby que paga minhas contas.”
Em 2017, ele prefere ganhar o mundo do quarto de casa. Assim, ele conta fortemente com ferramentas de internet, como Spotify e YouTube, para compartilhar os sons com o mundo.
“A vida tá muito boa, tá muito legal. Se o Clive Davis aparecesse de helicóptero na frente da minha casa pedindo desculpas, eu não voltaria. A tecnologia é o mundo que sonhamos lá atrás, que é não precisar de gravadora. Não quero nada de diferente disso. Pelos menos, por enquanto.”
E é assim. O líder da principal revelação do Rock in Rio 3 está abaixo da superfície. E amando essa condição. Uma década e meia depois, em uma era que artistas independentes se estapeiam por qualquer cinco segundos de fama, isso surpreende muito. Mais do que meleca de nariz de preta.
Atualização 4/7/16 às 20h10: Corrigimos o nome do produtor gringo (de Andy Wallace para Matt Wallace) e omitimos uma informação pessoal do Gustavo à pedido dele próprio.