Todo mundo dá um Google no próprio nome de vez em quando. Depois de ter entrevistado dois mendigos da minha cidade nos Apalaches, procurava o meu nome na internet semanalmente. A sessão de comentários do Viceland.com dessa entrevista foi tão inundada por pessoas que se diziam ativistas putos da vida que eu tinha que consultar o Google para ter certeza que não havia uma recompensa para quem conseguisse minha cabeça. Minha imaginação ficou exaustivamente ativa e estava convencido de que se não procurasse meu nome no Google naquele instante, eu não saberia que estavam planejando atacar minha vizinhança, e nesse caso, temia que a próxima vez que procurasse meu nome, encontraria os restos do meu antigo lar que fora destruído. Uma vez, no entanto, achei esse vídeo com o título muito errado.
Em questão de segundos, minha imaginação apagou as tochas e os facões enquanto que o vídeo MAJOY IMPROVEMENT FROM YESTERDAYS VID da SaCToWnGirL916 me apresentava ao mundo das competições de pole dance. À primeira vista, pensava que SaCToWnGirL916 era uma rampeira praticando pra noite, e então percebi um vídeo relacionado e sugerido pelo YouTube chamado Felix – 2009 World Pole Dance Champion, e logo saquei que era um vídeo da mais talentosa dançarina de pole do mundo chamada Felix Cane.
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A primeira coisa que veio a minha cabeça vendo a Felix enroscar seu corpo elasticamente em volta da barra de metal era que ela deveria se juntar ao Cirque du Soleil. Na minha opinião, qualquer coisa que seja naturalmente espetacular se encaixa perfeitamente em um circo canadense. E como depois descobri, meu cérebro está afiadíssimo, visto que ela está fazendo um personagem no Zumanity do Cirque du Soleil, um espetáculo mais sensual e “adulto” que rola em Las Vegas. Eu diria que existem poucos esportes que podem dizer que tem atletas tão talentosos quanto a Felix Cane. Menos ainda podem dizer que usam salto alto e lingerie como uniforme. Eu queria saber como uma barra de metal inoxidável consegue promover tanto a expansão de clamídia quanto híbridos de poderosos magnatas estrangeiros com atletas/artistas de circo mundiais, então eu fui direto à fonte e entrevistei a semi-deusa pessoalmente.
Para começar a conversa, o representante do Cirque du Soleil insistiu para que eu conversasse com o produtor da Felix e membro do conselho da Associação de Pole Fitness, Collette Kakuk. Foi um encontro fortuito, porque Kakuk também será o responsável por transformar a pole dance em um esporte olímpico, e coincidentemente é vizinho de porta do Ryan Sheckler. Apesar da nossa conversa ter sido apenas informativa, ela foi bem insistente em me lembrar que falar com a Felix Cane era uma grande honra. Ela é literalmente a melhor do mundo em seu esporte, e será a responsável por, em breve, trazê-lo ao mainstream. Senti como se tivesse passado uma tarde conversando com uma versão do Século XXI, fêmea, atraente, inglesa e flexivel do Rei Pelé. Se tiver sorte, esse encontro com o mundo da arte/esporte da pole dance pode me proporcionar grandes recomendações para me tornar o Sal Masakela desse esporte em ascenção. Até onde sei, competição de pole dance ainda está para achar um comentarista que consegue descrever a sequência de movimentos em tempo real e ficaria muito feliz de tomar esse lugar para o campeonato mundial que rola agora em outubro em Zurique.
Vice: Como você começou a fazer competição de pole dance?
Felix: Na verdade eu entrei nisso aleatoriamente, assim como você. Estava estudando na universidade da Austrália e minha mãe e irmã vieram me visitar. Elas decidiram fazer aulas de pole dance só por diversão porque era uma nova febre do fitness na Austrália, mas não na Ingalterra, de onde viemos. Não conseguia aceitar que minha mãe era mais descolada que eu então comecei a fazer isso e me apaixonei. Comecei a treinar mais frequentemente porque me divertia muito enquanto me exercitava. A partir disso, comecei a ensinar pole dance e no final daquele mesmo ano, competi no campeonato da Austrália, que ganhei.
E agora você trabalha pro Cirque du Soleil, certo?
Isso.
Como isso aconteceu?
Na verdade o diretor de elenco do Cirque literalmente assistiu alguns vídeos meus no YouTube, e então entrou em contato por email e perguntou se eu gostaria de viver em Las Vegas por uns anos.
Uau. Acredito que provavelmente seja o grande sonho de vários atletas incomuns receber do nada um email do Cirque du Soleil com um convite para trabalhar com eles. Você tem gostado?
Um—é muito diferente do que fazia antes. É um show bem engessado, então não tenho tanta liberdade e não posso improvisar o que quiser. Tem sido uma experiência incrível, mas acho que assim como qualquer outra coisa em teatro, o espetáculo atinge apenas um certo número de pessoas. Meu objetivo com a pole dance é expor o esporte ao mundo e mostrar pro maior número de pessoas possível pra eles verem que não é o que eles pensam que é, e já se modificou muito de onde surgiu, nos clubs de strip. Eu acho que as pessoas que vão ver o show acabam entendendo melhor a pole dance, mas acho que no futuro, eu gostaria de torná-lo ainda mais aceitável para o público geral.
Zumanity é exclusivamente para um público adulto, certo? Do que eu vi, parecia ser super sexual.
Sim. O show foca na sensualidade e na sexualidade, mas também em todas as diferentes facetas da sensualidade—nas confusões e e dificuldade que você acaba encontrando. É um show bem profundo, mas muito divertido, emocionante e realmente sexy.
É isso que acho de tão interessante nesse esporte. Não parece que ele algum dia vai sumir da cultura sensual e sexual de onde saiu. As pessoas estão começando a entender que não é apenas uma ferramenta de stripper, mas ainda é naturalmente muito sensual.
Não acho que para ser aceito como um esporte ou uma arte, necessitamos nos distanciar desse lado sexual ou sensual. Existem várias formas de dança e arte que são especialmente sexy. Coisas como tango e salsa são excepcionalmente sexy. Acho que o que precisa acontecer é que a vulgaridade que as pessoas associam à pole dance precisa ser eliminado porque a sexualidade a e sensualidade não necessariamente precisam ser vulgares.
Bom, eu acho que é difícil fazer isso quando você tem que usar salto alto.
Bom, sim e não. Quer dizer, as pessoas sempre me perguntam porque nós temos que fazer pole dance com tão pouca roupa, mas a questão é que se está usando roupas, você irá escorregar na barra. A vantagem de usar salto alto é a vantagem que você ganhar quando está rodando ou se movendo mais devagar. Além da estética original, tanto as roupas minguadas quanto os sapatos tem uma função.
Então, eu realmente gosto disso. Acho que é incrível que vocês ainda usam essa estética original do pole dance, mas estão o aperfeiçoando ao ponto em que está agora se transformando em um esporte muito desafiador e interessante. Na verdade é provavelmente o esporte mais atlético que já vi, mas você ainda usa fio-dental em alguns dos seus vídeos.
Eu acho que isso coloca um toque realmente artístico na coisa toda. Vejo a pole dance primeiramente como uma forma de arte, e depois como um esporte, porque você pode ser muito expressivo. Realmente não tem regras. Você não tem que usar nada específico. Dá pra usar chinelo se quiser, mas não vai mudar o fato de que o que está fazendo é intensamente atlético, desafiador e agressivo.
Então você tem alguma experiência com strip tease?
Não, na verdade. Eu treinei extensivamente como bailarina clássica, que é de onde minha experiência com dança veio.
Como foi a transição de passar de algo tão clássico como o ballet para um esporte tão provocante?
Para mim foi muito libertador. O ballet é tão limitado em sua interpretação. Sempre te falam o que fazer e quando fazer. Como você disse, é um esporte muito clássico, então nada mudou por muito tempo. Não há muita oportunidade para improvisação no ballet clássico. Foi muito bom poder dançar exatamente como eu queria na pole dance.
Você ainda compete ou está exclusivamente fazendo o Cirque?
Ah não, com certeza ainda estou competindo.
Agora, como as competições funcionam? Quais são os métodos de classificação?
Bom, é baseado em uma pontuação, que é dividida em coreografia, movimentos, fantasia e depois tem quesitos menores como performance e reação do público. A maioria dos pontos vem da coreografia e dos movimentos, que é a execução e a combinação dos movimentos que você faz na barra. Os movimentos dependem da sua agilidade, sua criatividade e da individualidade de sua performance, assim como você julgaria uma performance de ginástica artística, eu acho.
Existe alguém no mundo que você considera sua maior competidor?
Um… não.
Isso é muita confiança.
Quer dizer, existem muitas dançarinas de pole muito boas, mas não conheço ninguém que é meu grande rival. Já é difícil o bastante fazer as pessoas aceitarem o esporte pelo que ele realmente é. Realmente não precisamos fazer inimizades entre nós mesmos.
Existe algum país de onde vem excelente dançarinas de pole dance?
Eu diria a Austrália.
Porque isso?
Eu acho que a técnica é um pouco diferente, e também a barra padrão é um pouco mais fina que a norte-americana. Eu tenho um estilo mais dançante e acho que isso é mais fácil de fazer em uma barra mais fina. As dançarinas australianas treinam em barras rotativas e barras paradas, que não é o caso dos EUA, onde eles treinam em uma barra parada mais grossa, o que significa que são limitadas, pois quando usam uma barra rotativa, elas não sabem muito bem o que fazer.
A barra rotativa é literalmente uma barra que gira?
É uma barra com rolamentos de bolinhas, ou seja, a própria barra gira. Mesmo assim você tem que usar o seu momentum pra rodá-la. Não fica rodando o tempo todo.
Então ela não roda automaticamente o tempo todo?
Não, não tem nenhum mecanismo que a faça rodar. Você usa seu próprio momentum, o que pode ser muito difícil, às vezes.
Quando se compete, cada dançarina essencialmente faz uma sequência de movimentos em uma ou nas duas barras e aí elas são classificadas de acordo com essa sequência, certo?
Certo.
Outros esportes que tem formatos parecidos sempre parecem estar inventando novos e mais complicados movimentos. É possível dizer que as pessoas estão constantemente trabalhando para inventar novos movimentos na barra também?
Ah sim, com certeza. Tenho alguns movimentos exclusivos que inventei e somente eu posso executá-los da maneira que os faço.
Que movimentos são esses?
Um deles se chama O Frango Assado. Não sei se você viu, mas é quando eu estou me segurando apenas com as minhas costas e com o salto alto, e estou invertida.
Talvez eu tenha visto, mas tenho que assistir o show de novo.
O outro se chama A Águia. Eu tenho muita flexibilidade na cintura, então consigo fazer movimentos que me dobro bastante.
Como isso funciona?
A Águia é quando você tem a perna de baixo enroscada na barra, e que se acaba tornando sua perna da frente, então você pega sua perna de cima atrás da barra até a sua cabeça, meio que fazendo um split direto na barra, mas mais curvado.
Como você descobre esses movimentos? Você tem outro movimento em mente antes de inventar algo como isso?
Normalmente eu tenho noção do que meu corpo é capaz de fazer, então você chega em um ponto que sabe muito bem o que pode fazer quando a barra está em certa posição. Então é só uma questão de ser criativa e levar você mesma aos limites absolutos do seu corpo.
Tem algum movimento novo em que você está trabalhando nesse momento?
Na verdade sim.
Você pode contar como é?
Claro! Estou tentando começar um split, me curvar pra trás e segurar o meu joelho, e então empurrar a minha cabeça pra depois do meu joelho. É mais uma questão de flexibilidade do que qualquer outra coisa.
Então você ficaria de ponta cabeça?
Sim. Minha perna de trás ficaria pra trás e minha perna da frente ficaria pra cima. Mas não sei se isso é possível ainda.
É, isso não parece ser possível mesmo. Mas se for pensar, a maioria das coisas que você faz provavelmente não parecem ser possíveis de qualquer maneira, se tentar explicá-las.
[risos adoráveis] Sim. Isso é verdade.
TEXTO POR BEN MAJOY VICE US
TRADUÇÃO EQUIPE VICE BR
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