Música

O Dia da Música quer valorizar a fauna do circuito de música independente

Em 1981, a França concebeu o festival Fête de la Musique (ou festa da música), uma celebração musical do primeiro dia do solstício de verão. Durante suas quase quatro décadas de existência, o festival passou a ser celebrado em mais de 120 países com shows gratuitos nas ruas de capitais como Pequim, Jerusalém, Buenos Aires e Moscou.

A versão brasileira, menos solar e de título menos festivo, levou o nome de Dia da Música e tem sua terceira edição nesse sábado (24). O festival foi adaptado do francês em 2015, acabou dividindo espaço com a Virada Cultural naquele ano e funcionou como um teste para o modelo que se instalou por completo em 2016, como explica a coordenadora artística do projeto, Katia Abreu. “O festival foi mais concentrado em São Paulo e Rio de Janeiro — produzimos 15 palcos em São Paulo e dez no Rio — e aí houve um teste: o festival foi num domingo, e no sábado realizamos um ‘circuito off’.”

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No circuito off, palcos poderiam inscrever suas próprias programações, propondo ações para o festival. “São espaços que já se dedicam a produzir shows durante o ano inteiro, e queríamos testar como eles iam aderir a essa ideia de participar de um festival em rede. Daí foi legal, rolou uma adesão espontânea de sete palcos, e no segundo ano a gente reformatou o projeto pensando nisso”, diz Katia.

A partir de 2016, os palcos que se inscreveram no festival passaram a poder contar com um fundo de apoio caso fossem escolhidos pelo conselho curador — nesse ano, formado por Katia, Letz Spíndola, Leandro Carbonato, Maurício Bussab, Mariana Bergel e Daniel Domingues. Do ano passado pra este, o festival assistiu a um crescimento de cerca de 170 palcos e 600 artistas inscritos no site. Para Katia, a expansão se deu pela consolidação do modelo do festival. Apesar do crescimento, porém, o festival não conseguiu aumentar em palcos apoiados: o número de 2016, de 70 palcos, continuou o mesmo.

Entre os que conseguiram o apoio do Dia da Música para sua programação, no entanto, estão muitos elementos fundamentais do circuito de música independente: casas de shows, selos, (como a PWR Records que, baseada em Recife, nesse ano monta um palco em Natal, e a Balaclava Records, que conta com um palco em Belo Horizonte, entre muitos outros) blogs (como o Move That Jukebox, que comemora uma década de existência com um palco no Family Mob), festivais, etc. “A ideia do Dia da Música desde o começo sempre foi a de mostrar que não existem só artistas acontecendo no que a gente chama de circuito de música independente. É toda uma fauna que faz funcionar o mercado”, fala Katia.

A curadora e coordenadora do projeto também acredita que o Dia da Música sintetiza o ethos do que é fazer música independente no Brasil, e dá como exemplo o caso dos palcos Howlin’ e Sinewave, ambos no Largo da Batata: apesar do único palco apoiado ter sido o da Sinewave, os dois selos combinaram de dividir a verba para realizarem o rolê que tinham planejado.

“O valor dos apoios é muito pequeno. O máximo de valor que um palco recebe é 4 mil reais. Não é nada pra um cara que tem que montar um palco na rua; eu sei disso, eu sei quanto custa”, comenta Katia. “Todo mundo sabe que se você não arregaçar as mangas, ir lá e fazer, não acontece. Quando você tem alguma ajuda, por mais que ela não seja a ajuda ideal, você tem um estímulo pra criar esse sentimento de união. É todo mundo num dia mostrando que dá pra fazer, que tem música, tem espaço, e tentando buscar o público, que é o que todo mundo quer no fim do dia: gente vendo o show.”

O Dia da Música acontece gratuitamente e durante o dia inteiro no sábado, 24 de junho. Confira a programação da sua cidade no site do evento.