“Soldados Atómicos”: Como é sentir uma explosão nuclear?

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Hoje, 29 de Agosto, assinala-se pela nona vez o Dia Internacional Contra Testes Nucleares. A data foi estabelecida pelas Nações Unidas em 2009, de forma a consciencializar as pessoas para os “efeitos dos testes de armamento nuclear e para a necessidade da sua cessação, como uma das formas de conseguirmos um Mundo livre de armas nucleares”.

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A maioria das pessoas está familiarizada com as duas bombas nucleares lançadas sobre Hiroshima e Nagasaki em 1945, mas poucos saberão sobre as duas mil detonadas nos anos que se seguiram. Não para destruírem alvos específicos, mas para medir o seu poder de explosão. Os testes atmosféricos e subaquáticos foram muitas vezes levados a cabo com a presença dos chamados “veteranos atómicos”, soldados colocados perto dos locais de explosão, de forma a testar a sua prontidão na resposta a um ataque nuclear. Nas décadas seguintes, muitos destes ex-militares sofreram de cancro.

As estimativas variam, mas só nos Estados Unidos acredita-se que cerca de 40 mil soldados, na sua maioria homens, testemunharam de perto a explosão nuclear. Um facto menos conhecido é que potências nucleares europeias, como a França e o Reino Unido, também enviaram militares para zonas remotas do Planeta para servirem de cobaias.

Depois dos EUA e da Rússia, o Reino Unido tornou-se a terceira nação a desenvolver armas nucleares – levando a cabo centenas de testes durante as décadas de 1950 e 1960. Muitas destas explosões controladas foram realizadas em Maralinga, uma área inóspita da Austrália, maioritariamente habitada por uma tribo indígena local. Explosões nucleares de bombas de hidrogénio foram detonadas no Oceano Índico, ao largo da costa da ilha australiana do Natal. A 28 de Abril de 1958, as forças militares britânicas fizeram explodir a sua mais potente bomba nuclear, a Grapple Y – cerca de 200 vezes mais poderosa que aquela lançada sobre Hiroshima em 1945.

A vasta maioria dos 20 mil soldados britânicos que estavam presentes quando estes testes ultra secretos foram feitos, não foram alertados para o facto de irem participar em testes nucleares. Muitos dos “veteranos atómicos” com quem a VICE falou garantem que apenas fizeram o que lhes foi dito para fazerem.

No regresso a casa, os soldados tinham ordens restritas para não discutirem os exercícios com quem quer que fosse – mantendo, assim, os testes fora do conhecimento do público em geral. Este novo documentário da VICE, “Soldados Atómicos: Como é sentir uma explosão nuclear?”, tem como objectivo garantir que as suas memórias destes testes nucleares não se percam para sempre. Conversámos, por isso, com “veteranos atómicos” da British Nuclear Test Veterans Association (BNTVA) durante uma conferência em Weston Super-Mare, Bristol, para tentarmos entender melhor de que forma é que os testes tiveram impacto na saúde física e mental destes ex-soldados.

Hoje em dia, poucas pessoas entendem verdadeiramente os efeitos das armas nucleares. Na maior parte dos países, os testes pararam em 1963, quando as maiores potências assinaram um acordo de limitação de uso deste tipo de armamento. Depois, em 1996, foi ratificado o Comprehensive Nuclear-Test-Ban Treaty (CTBT), que baniu todas as explosões nucleares em qualquer parte do Planeta. Durante um curto período durante os anos 90, o Mundo parecia estar a caminhar para um futuro livre de armas nucleares.

Todavia, nem todos os países assinaram o tratado de 1996 e, depois de um forte foco no desarmamento ter feito baixar o número de bombas atómicas das 70 mil de finais dos anos 1980 para as cerca de 10 mil ogivas de hoje em dia, estamos novamente a ver mais actividade nuclear, especialmente numa altura em que a Coreia do Norte, a china, o Paquistão e a Índia estão a trabalhar no desenvolvimento dos seus arsenais. Entretanto, líderes políticos continuam a tentar normalizar a utilização destas armas ao ameaçarem-se uns aos outros publicamente com o fantasma da aniquilação total.

Hoje, mais do que nunca, é vital que escutemos o testemunho directo daqueles que viram à sua frente o poder destrutivo de uma bomba atómica: os “veteranos atómicos”.


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