Sexo

Existe mesmo vício em sexo?

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Taylor, uma mulher de 31 anos de Los Angeles que pediu que apenas seu primeiro nome fosse usado por questão de privacidade, começou a fazer sexo casual várias vezes por semana na faculdade. Os amigos a alertaram que ela podia ser viciada em sexo. Aos 21 anos, ela foi vítima de pornô de vingança, o que o terapeuta dela considerou evidência da teoria dos amigos de que ela era viciada em sexo. “Achei que era culpa minha”, ela disse. “Foi quando me rendi e aceitei o ‘diagnóstico’ de viciada em sexo e amor.”

Por quatro anos, Taylor frequentou reuniões do Sex and Love Addicts Anonymous (SLAA) realizadas por voluntários, seguindo o modelo de doze passos dos Alcoólicos Anônimos. Os membros sugeriram que ela tinha um trauma sexual infantil reprimido e disseram que ela devia fazer celibato por um ano. Quando estava no nono mês de celibato, ela seguiu o exemplo de outras mulheres do grupo e se comprometeu a só fazer sexo num relacionamento monogâmico. Sempre que sentia desejo, “Eu me repreendia e me arrastava para uma reunião com medo de cair em ‘velhos hábitos’. Eu me sentia um zumbi”. Com o tempo, Taylor começou a repensar por que estava sendo encorajada a pensar em sexo como uma doença. Numa reunião, ela perguntou: “Quem decide quanto sexo é sexo demais? Como sabemos se somos realmente viciados?”.

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Depois de receber respostas insatisfatórias, Taylor procurou um terapeuta sexual. “É possível que você não seja viciada em sexo, que talvez só seja uma mulher que gosta de sexo numa sociedade que humilha mulheres por gostar de sexo?”, ele perguntou. Ela chorou de alívio no divã.

Vício em sexo nunca foi um diagnóstico formal. Apesar de centros de tratamento e livros como Out of the Shadows: Understanding Sexual Addiction de Patrick Carnes de 1983 terem popularizado o termo, o campo da saúde mental é cada vez mais crítico a isso, baseado em pesquisas sugerindo que sexo não afeta nosso cérebro do mesmo jeito que abuso de substâncias. Um estudo de 2016 da pesquisadora Nicole Prause no PLOS One, por exemplo, descobriu que pessoas que se envolvem em comportamento sexual de risco eram mais sensíveis a estímulo genital, não dessensibilizadas, como o modelo de “vício” em sexo prega.

A Associação de Americana de Psiquiatria já rejeitou diversas vezes propostas de acrescentar vício em sexo ou “transtorno hipersexual” ao Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. Na edição de 2018 da Classificação Internacional de Doenças, a Organização Mundial de Saúde também rejeitou o rótulo de vício em sexo e em vez disso incluiu “transtorno de comportamento sexual compulsivo”. Muitos psicólogos preferem esse último termo porque ele descreve um padrão comportamental, não um vício, e foca em tratar as questões subjacentes em vez de mudar diretamente o comportamento sexual em si.

Antes de se especializar em terapia sexual, o psicoterapeuta Joe Kort adotava o modelo de tratamento de vício em sexo devido a mensagens culturais negativas sobre sexo que recebeu antes na vida e na carreira. Mas vendo essa abordagem fracassar repetidamente, ele a abandonou. “O treinamento é cheio de informações e educação em vício e trauma, mas não sobre sexualidade”, ele disse. Kort sente que o termo é usado em demasia para pessoas que simplesmente gostam de sexo sem laços emocionais. “Os terapeutas de vício em sexo estão equivocados sobre saúde sexual e impõem seus próprios preconceitos e crenças morais em algo que pode ser completamente natural para o cliente”, ele disse.

Pessoas LGBTQ são as que mais são rotuladas equivocadamente como viciadas em sexo, diz Prause. Uma revisão de 2014 em Current Sexual Health Reports descobriu uma falta de evidências científicas para vício em pornografia – que frequentemente é estudado para pesquisa de vício em sexo porque é mais fácil mostrar imagens de sexo para as pessoas que estimulá-las sexualmente – e apontou que um número desproporcional daqueles que relatam isso são pessoas LGBTQ com conflitos religiosos. “Avaliações que afirmam ajudar a diagnosticar ‘vício em sexo’ são replicadas para discriminar homens gays”, disse Prause. “Questionários identificam mais homens gays como tendo um problema do que é estatisticamente razoável. Acho que a super-representação de homens homossexuais em centros de vício sexual é uma forte evidência de que o diagnóstico é primariamente focado para o controle social da sexualidade, em vez de tratar uma doença real que deveria afetar todos os homens igualmente.”

Trabalhadores sexuais também são patologizados. Daniella Valenti, uma trabalhadora sexual legal de 32 anos que atua no Havaí e Nevada, foi colocada em terapia por um programa antitráfico e diagnosticada como viciada em sexo. “Sexo é meu trabalho, e o faço com toda a segurança. Não sou viciada em nada, e não sou um perigo pra mim nem pra ninguém. Não apresento nenhum comportamento compulsivo”, ela disse. “Acho que meu psicólogo estava me julgando por gostar de fazer trabalho sexual, e rotulando isso como um transtorno porque era uma realidade que ele não queria aceitar.”

Prause diz que questões envolvendo comportamento sexual devem ser abordadas individualmente, em vez de colocadas na mesma caixa como um vício. “Se você está deixando de usar camisinha quando deveria, há excelentes intervenções com apoio empírico para melhorar o uso de camisinha”, ela diz. “Se você está se envolvendo em sexo fora do acordo monogâmico com seu parceiro, há excelentes intervenções com apoio empírico para tratar infidelidade, que incluem redução de riscos. Se você está fazendo sexo para lidar com depressão, há centenas de tratamentos excelentes com base na ciência para depressão.”

Mesmo assim, algumas mulheres acreditam no valor do modelo de vício em sexo. Erica Garza, autora de Getting Off: One Woman’s Journey Through Sex and Porn Addiction, disse que as reuniões do SLAA – que a fizeram parar de fazer sexo, assistir pornô e se masturbar por vários períodos de tempo – e outros tratamentos de vício em sexo a ajudaram a substituir sua compulsão por padrões comportamentais mais saudáveis. “Tem menos chances de eu procurar o combo ‘vergonha e prazer’ em que eu estava viciada”, ela disse. “Revisitei meus comportamentos aprendidos de que sexo é algo sujo e mau […] para poder me envolver em sexo saudável, honesto, seguro e de mente aberta.”

Alexandra Katehakis, terapeuta sexual e diretora clínica do Center for Healthy Sex, argumenta que vício em sexo é real, apontando um estudo na JAMA Network Open mostrando que 8,6% dos americanos relatam “níveis clinicamente relevantes de angústia e/ou prejuízo associado com dificuldade de controlar sentimentos, impulsos ou comportamentos sexuais”. Ela não é contra rótulos alternativos como comportamento sexual compulsivo, mas acredita que isso é algo diferente do vício em sexo. Vício em sexo é caracterizado por sentir síndrome de abstinência quando alguém para certos comportamentos sexuais, dessensibilização e estar sempre procurando o próximo “barato”, segundo a abordagem dela, enquanto compulsão e sexual é a respeito do problema de controle de impulsos.

Se alguém acha que é viciado em sexo por causa de uma criação conservadora ou normas de gênero, Katehakis não vai tratar a pessoa como viciada em sexo. Mas se seu comportamento sexual causa danos ou sentimentos fora de controle da pessoa, ela vai usar terapia comportamental cognitiva para ajudá-la e parar com os comportamentos que ela acredita serem destrutivos. “Os dois lados precisam ter cuidado para não minimizar o problema, ou dizer que alguém tem um problema quando a pessoa realmente não tem”, ela diz.

Hoje, Taylor tem uma vida sexual feliz que inclui um relacionamento aberto e vários parceiros casuais. A solução para usar sexo para lidar com ansiedade e depressão não era fazer menos sexo, mas começar a se consultar com um terapeuta, aprender a se comunicar com os outros sobre sua saúde mental e reduzir a vergonha a respeito do sexo. “Meu relacionamento com o sexo é muito bonito porque é autêntico, mas mais importante, porque é meu”, ela disse. “Faço o tipo de sexo que quero, com homens com quem quero transar, quanto eu quiser, e não vejo necessidade de ter que me explicar pra ninguém que não entenda.”

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